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Mostrando postagens de 2008

Horóscopo de Crise

Uma destas manhãs, numa viagem de metro mais longa, e a ler um diário gratuito cheguei à secção dos horóscopos, rezava o meu signo que, a vida é um dia de sol, o sorriso duma criança, as andorinhas que voltam na Primavera e ter casas??? Ainda reli umas vezes em busca da gralha, podia ser ter saúde ou ter uma família ou mesmo amizade. Não, era mesmo ter casas, e nem era casa, era casas. Provavelmente, havendo casaS, haverá também outras necessidades logísticas, como plasmas, e carro topo de gama para deambular de casa em casa, e assim rechear o conceito de vida com aquecimento global, crianças a sorrir, e casas com tudo o que o estado da arte permite em termos de mordomias e comodidades. Afinal a vida é observar, experimentar e ter (casas e assim). Como tal se está apreensivo, a sua vida profissional não lhe corre de feição, a familiar apresenta problemas que não sabe resolver, esqueça, olhe pela janela, veja o sol e pense nas suas casas!(???) verá como se sente revigorado. E se não tem

Luto por Mumbai

O absurdo do terrorismo é nunca acertar nos seus objectos de ódio e orientar-se indiscriminadamente, como se o medo sepultasse a democracia. É um tipo de guerra onde disparar fora do alvo é o sucesso e onde as vítimas nada têm que ver com o caso. Sempre. E o mais doloroso é que o intuito é uma luta supostamente religiosa, onde os valores são pervertidos e submersos em intolerância, intransigência e ódio. Nada disso é o Islão, como os homicídios em Gaza nada tem a ver com a Tora e o Vaticano que exclui “comportamentos bizarros” não encontra nenhuma letra sobre isso na Bíblia. Resta o luto por um povo surpreendente. Every Bloody Emperor By this we are all sustained: a belief in human nature and in justice and parity...all we have is the faith to carry on. Imperceptible the change as our votes become mere gestures and our lords and masters determine to cast us in the roles of serfs and slaves in the new empire's name. Yes and every bloody emperor claims that freedom

Os protagonistas

O verdadeiro problema do ensino é a distância entre a educação e a sociedade, entre o mundo escolar e o mundo onde as pessoas vivem, entre as intenções e objectivos do Estado e o real papel da educação no contexto do mundo actual. E a culpa não é um exclusivo dos professores: todos os envolvidos (Estado, Encarregados de Educação e Alunos) tem responsabilidades. Muitas e graves. A demissão do Estado A escola é vítima e simultaneamente promotora de muitos dos desencontros e desigualdades da sociedade. As políticas de educação dos últimos 30 anos correram atrás de falsas questões e iludiram o verdadeiro problema: o sistema não tem uma resposta homogénea para tantos formandos, para ensino igual e gratuito e pior que tudo: não há saídas profissionais para todos os que frequentam a escola. O Estado cria politicas de aproximação à média europeia pela via estatística, é obrigado a aumentar a escolaridade obrigatória e melhorar administrativamente os resultados escolares. Ou seja, faz progredir

O reptiliano Pacheco Pereira

Na Sábado da primeira semana de Novembro PP – o nosso treinador de bancada da política – lá veio falar do despudor e fúria despesista da Casa da Música. Tudo porque ficou impressionado com a distribuição sumptuária do programa de 2009 junto com o jornal Público, referindo que a qualidade e densidade do volume mostra que a crise não chegou a esta instituição do Porto. PP tem o dom (já demonstrado em outras tantas escrituras) de imaginar um mundo reaccionário onde a sua palavra divina faz rejubilar os corações. Mas que eu saiba, tirando a família e o Rui Rio, ninguém o leva a sério. Nem o Alberto João, seu correligionário. Como a única coisa que tem demonstrado ao longo da sua extensa existência é aquela atitude de velha que passa o dia à janela a ver e comentar o que os vizinhos fazem, desligou-se da realidade e até já custa hostilizar. Faz, isso sim, uma pena confrangedora. E explico porque: Provavelmente sairá mais compensador fazer um programa de qualidade do que aqueles irritantes d

Novas Lógicas

A inversão da lógica da economia global passa por uma singela questão: o que deve definir a produção é o equilíbrio entre as necessidades globais de consumo, a preservação ambiental e a eliminação das assimetrias locais, nacionais e mundiais e não a especulação. Que saiba, a economia actual (a que emergiu da Queda do Muro de Berlim) foi sempre definida em torno do indivíduo e da sociedade, mas sim à volta do excedente, margens de produção e lucro e é esta lógica assassina que conduz a todo um contexto mental de ganância e corrupção que envolve as sociedades e a política. O desinvestimento na humanidade, na solidariedade e no equilíbrio levou a que o mundo se tornasse em algo que nos torna indignos em relação aos nossos semelhantes. A Globalização económica centrada no capitalismo representará em menos de 50 anos o fim do planeta e um genocídio universal como nenhum tirano demente é capaz de sonhar. Só num mundo de recursos ilimitados faria sentido colocar o crescimento como bitola da e

As lágrimas de Jesse Jackson

Não se pode apagar o passado. Pode-se erguer um futuro, começar com as cicatrizes fechadas. A América entrou no seu ano 0. A partir daqui, construir um caminho mais verdadeiro. Não acredito em grandes mudanças do sistema, nem no fim do capitalismo americano, nem tão pouco no fim dos mecanismos de pressão e coacção. Seria pedir muito e o impossível. O que se muda é um significado, um extenso significado. Na década de 50, Rose Parks recusou ceder um lugar no autocarro; passados 53 anos, a Democracia americana reconhece um Presidente negro, eleito por todo um povo. Não foi um favor as minorias, foi uma conquista de direito próprio. Com esta eleição fica para trás a escravatura, o apartheid e a imagem de um povo em perpétuo conflito. Um povo que cresceu mas que se espera que não esqueça, porque cada desvio é um reinício. De qualquer modo há que reconhecer o mérito da América de produzir esta mudança em 50 anos (descontando obviamente a escravatura!). A Europa seria incapaz de faze-la (na E

Porquê Sara Palin?

I Em Dez pontos de vista sobre as eleições americanas , afirmava que Hillary não tinha hipótese de ser candidata porque apesar de Obama ser negro é homem. A sociedade americana tem evidentemente um problema com o feminino. É ponto assente que a imagem que passam, veiculadas no cinema, na publicidade, etc. reflecte uma ambiguidade composta por inúmeros sinais inconciliáveis. É fácil perceber o papel da mulher nas sociedades tradicionais e a visão das religiões, independentemente da concordância ou não com este. No mundo Ocidental, o que se pede a mulher é que seja contraditória em valores, atitudes e imagens. A mulher tem de facilmente vestir um avental, uma lingerie e um fato de executiva e ser convincente com os três! Esta enorme exigência e vivência prismática representa algo que lhes é imposto num mundo onde o homem é vendido como o "concorrente a abater", onde querem que mantenham a imagem de "regente do lar" e que corresponda a um modelo de beleza e sensualidad

Xenofobia pós-pós moderna

No plano mental/individual podemos posicionar-nos secretamente desde o mais reles racismo até uma atitude de falso igualitarismo. Digo falsa porque existe sempre um radical livre de incomodidade perante o diferente, que me perdoem os que se acham imunes. Se perguntar a qualquer pessoa que já foi vítima de discriminação ela dirá que mesmo os seus mais acérrimos defensores denotam, por vezes, uma atitude diferenciadora. É impossível fugir-lhe porque não somos isentos, não conseguimos deitar fora o peso de uma cultura, de uma formação e das nossas vivências. Não é caso para ficarmos com problemas de consciência. Basta constatarmos e tentar ultrapassar as nossas próprias dificuldades. A transposição para o social do que pensamos esbarra no natural “polimento para a aceitação geral”. Seremos mais ou menos francos consoante grupos, ambientes ou fins da nossa comunicação. Para os que incontrolavelmente acham que o estrangeiro e o diferente são o problema, melhor será reflectirem e verificarem

O Trabalhador refém

Inaugura-se, após a entrevista do Ministro, uma nova forma de trabalho. Já temos o trabalho precário, mal remunerado, escravo, para os nascidos em berço de oiro e agora temos o trabalhador refém. Refém das suas habilitações, do seu interesse e motivação e da sua qualificação. Este funcionário que não pode passar a disponível como os outros porque interessa ao Estado. Sim, este mesmo. Encontra-se em sequestro. Não pode ambicionar maior remuneração, reconhecimento ou formação. Aqui não há lei do Divórcio. Está casado e pronto! Não importa que não seja reconhecido ou valorizado. Não importa que a sua função dependa de respostas de obscuros departamentos do Estado sedeados em Lisboa que nunca o contactam e nunca dão respostas ou recursos e cuja única preocupação é pedir estatísticas absurdas (geralmente de uma Quinta para Sexta-Feira!), deslocadas do real mas dentro da gestão por objectivos orientada de maneira tonta porque desvinculada do real (sim, o pais real, aquele que começa a seguir

A ciência do olho gordo

O futebol é uma paixão sem fronteiras, a ânsia por explicar o mais ou menos inexplicável também. Na sexta-feira o jornal 'O Jogo' noticiava que, no Zimbabué, uma equipa desesperada com os maus resultados recorreu a especialistas. Especialistas em sobrenatural, para-natural, algo condizente com a causa desesperada. Sim porque era mau-olhado, o que aliás se veio a comprovar cabalmente ao tentar solucionar a praga. É que era preciso tomar banho nas águas de um rio. E lá foram os 16 jogadores à banhoca, ansiosos por alcançar as desejadas vitórias. Mas na ansiedade de arrumar o assunto acabaram por notar que do mergulho só voltaram 15. Não sabemos se foi por crise de bocejos que, como toda a gente sabe, é sintoma de mau olhado (e não dá muito jeito para a natação) se foi porque o rio era povoado por crocodilos, bichos com apetite pouco selectivo ou preocupado com coisas do além. Por curiosidade, e eventualmente infundado receio de que alguém se lembre de pôr os jogadores da minha eq

Os cinco cenários da economia mundial após a crise dos mercados

1- Recuperação Fruto das constantes injecções de capitais, as bolsas recuperam a estabilidade gradualmente. Apesar do valor do dinheiro baixar significativamente não há inflacção dada a incapacidade dos consumidores individuais, uma vez que o capital criado é para “limpar investimentos e créditos das grandes instituições. A desaceleração dos mercados (importação/exportação) leva ao arrefecimento comercial e ao crescimento da produção/consumo interno, ancorado na imprevisibilidade dos custos da energia que continua a sofrer oscilações violentas. A pouco e pouco os Estados vão retirando dinheiro do mercado à medida que a liquidez das instituições for aumentando. O acesso ao crédito e investimento passarão por uma fase de evolução lenta e a instalação de maiores mecanismos de controle no mercado não restaurarão a confiança no médio prazo, o que levará a necessidade de aumento da despesa dos Estados com a protecção social ao desemprego e ao aproveitamento das sinergias internas (produtos e

As reformas que se impõem

Se os partidos funcionam por disciplina de voto, então não precisamos de 240 deputados. Bastam 15 para assegurar a proporcionalidade efectiva (embora seja irrelevante, uma vez que os deputados prestam contas aos seus partidos e não ao povo). O hemiciclo não é necessário; qualquer boa sala de reuniões chega, com a óbvia redução de custos em políticos, secretariado, funcionamento, etc.

A dimensão do fracasso

Até agora vi agitarem-se números, sorrisos nervosos, ameaças e receios. Ouvi soluções, meias soluções e iniciativas de mal menor serem analisadas: nenhuma delas é apontada como salvadora, apenas como atenuação das tensões. Li triunfalismos de esquerda, perorando a infalibilidade das previsões marxistas e assustadoras conversões de economistas do sistema em intervencionistas e ascetas liberais que quase defendiam a venda da actividade política aos privados, a fazerem uma penitência humilhante dos benefícios do controle da actividade económica e especulativa (actividade essa – entenda-se - há muito sob o seu controle). De tudo o que pude absorver pesadamente esta última semana, fiquei com algumas certezas: Ninguém sabe a real dimensão do problema; Ninguém sabe o real impacto que provocará; Ninguém sabe o que se seguirá. Para alguns, a principal preocupação é a sustentabilidade das instituições (presumo por preocupação desinteressada nos seus trabalhadores…), para outros é o fim de uma e

Um ano de todos os perigos

Estamos a fazer um ano de blogosfera. Passou rápido, quase sem querer. Durante este tempo vimos coisas fantásticas que não nos furtamos de comentar, previmos algumas possibilidades que se concretizaram (com muita pena nossa!) e aguardamos sem falsos optimismos o que está para vir. Durante este período escrevemos sobre a realidade nacional e internacional que mais nos sensibilizou e dessa escrita resultou a necessidade de investigar, indagar e procurar fontes, outras opiniões e outros saberes. A pouco e pouco a tarefa de “diversão” passou a ser um assunto sério. Obrigava-nos a cada vez mais investimento e tempo e a uma resposta cada vez mais ponderada (e portanto lenta, imprópria para o espírito de um blog). A pouco e pouco não se comentavam notícias: fazia-se investigação sobre os temas. Os posts eram densos e extensos. Enfim, estávamos a escapar a condição de blog, estávamos a ir para algo diferente. Não damos o tempo como perdido mas é inegável que quanto mais se escava um assunto, m

Amandla

Segundo informações que circulam na net, Nelson mandela estará muito doente, em Maputo, com Graça Machel. Evidentemente não é um jovem, mas custa imaginar um mundo sem alguém da sua estatura.

A iguana já jantou?

Da busca interminável de algum bem-estar que acaba por ser a nossa existência, e não havendo livros de instruções - apenas muitos e muitos ensaios com tentativas de racionalização (desde o mito, passando pela religião até à filosofia), várias são as tentativas de explicar e criar alguma ordem na caótica sucessão de eventos que é uma vida. A mentalidade dominante foca a coisa, do meu ponto de vista, demasiado no verbo ter, tem-se coisas, pessoas, status... Enfim, se não tem dinheiro para ter, peça emprestado e vai pagando. Na realidade, nos dias que correm, passa-se a ideia que nada é impossível, haja como pagar a prestação. Isto aplica-se ao veículo utilitário, ao topo de gama, aos seios ou nariz. E assim se passa uma ideia de felicidade ligada ao ter, sente-se infeliz com um pequeno Fiat? vai ver que quando for visitar os pais com um Jeep catita se vai sentir muito melhor. Acha que lhe ficaria muito melhor um nariz de Angelina Jolie? Ou porventura, acha a sua estatura insuficiente? P

A historia do chip

À boleia da especulação do “carjacking”, apareceu a peregrina ideia de meter chips nas matrículas como forma de dissuasão do roubo violento. Se pensarmos dois minutos sobre o assunto descobrimos que: 1- Os assaltantes continuarão a roubar viaturas; 2- Não precisarão de artifícios tecnológicos para evitar a detecção. Basta uma pancada certeira no dito cujo chip e o carro desaparece do nosso pequeno Echelon; 3- A vítima ficará sem o carro à mesma e se tiver sorte dali a uns dias poderá reavê-lo e pagar as inevitáveis reparações; 4- Para além do susto e violência, dos arranhões na pintura, perda de tempo e dinheiro na comunicação do roubo e no viver sem a viatura, gastará dez Euros para satisfazer o Estado, tal como o fez com as palas, com as inspecções, coletes e outras panaceias institucionalizadas que devem ter dado dinheiro a alguém. Então para que serve o chip? Para controlar o cidadão, simplesmente. Ficamos a saber por onde anda o carro, onde estaciona, por quanto tempo, em que estr

Cuidado com a Senhora

Diz-se que para lá do Marão mandam os que lá estão, ou as que lá estão porque pela notícia que vi, uma senhora que vive para esses lados atirou um assaltante abaixo da varanda, não sabemos os traumas sofridos pelo pobre meliante. A senhora porém, já tem currículo por ter corrido atrás de um carteirista, tê-lo apanhado e obrigado a entregar tudo, ouvido as desculpas e seguidamente tê-lo entregue descoroçoado na esquadra local. Ninguém quis saber se os pobres assaltantes tinham um bom currículo no seu métier , ou se eram nacionais ou importados de algum outro canto do globo, onde, sabe-se lá quem manda, ou se questionou sobre a legitimidade de atirar meliantes abaixo de varandas, ou mesmo, até que altura de varanda esta é uma actividade legítima. O facto é que a prole da senhora não quer saber da modalidade, preferindo-lhe, em hipótese, a graciosa fuga para a rapariga ou uma moderadamente viril intervenção da GNR para o rapaz, ambos no entanto orgulhosos da progenitora - embora com ca

Os novos justiceiros

Nestes últimos anos tem surgido uma nova estirpe de gente no panorama nacional: os super-heróis. Em tempos idos dos anos 80, o rústico palratório, o truão intimidador e o sobranceiro petulante arrogado em sumidade dominavam o panorama. Era o tempo do estilo cavaquista, gente que tinha resposta para todos os males de Portugal, do mundo e do condomínio em que viviam. Todavia, o tempo do tipo autoritário e retaliante passou. O estilo ora prevalecente é o comunicador. Gente sensível e educada que nos tenta explicar matérias de uma forma simplificada (tão simplificada que não percebemos nada!), revelando uma singela devoção e uma reiterada preocupação para que o povo entenda que "este é o único caminho / alternativa / política possível porque é aquela que temos de seguir alegremente e de forma agradecida por alguém ter esta preocupação" (a que chamaria maoismo light). Neste contexto de uma governação à bolina dos ventos da Comunicação Social surgem então os nossos super-heróis. Ge

Visões de vanguarda

Até há uns dias atrás, sempre estive convencida que, em democracia, à oposição competia apresentar políticas alternativas às políticas do governo, e negociar as situações em que, sendo necessária uma maioria de deputados, a maioria governamental era insuficiente. Afinal não, afinal, segundo a nova líder do PSD, à oposição compete fiscalizar a actividade governativa. Não sei se percebi muito bem tão elevada teoria, e se essa fiscalização colide com a dos Tribunais de Contas e Constitucional, ou se se limita ao acto político de dizer no órgão legislativo que está mal, ou eventualmente que não coincide com o programa político apresentado em eleições pelo partido vencedor. É claro que, pensando bem, e observando um bocadinho do canal Parlamento, conclui-se que alternativas e ideias são bens escassos, se calhar é isso mesmo, a tal da fiscalização, uma espécie de ASAE que fiscalizando actos políticos se limita ao 'tá mal colorindo-o com retórica digna da discussão de café mais inútil

Dona Crise

Gostava de vos apresentar uma tia muito velhinha que faz parte da família: Chama-se Dona Crise. Ao que julgo tem mais de cem anos e não sei ao certo se alguma vez, depois da primeira visita, nos deixou verdadeiramente. Confesso que houve um ano ou outro nem nos apercebemos que esteve sempre connosco. Mas foi uma ilusão. Como normal das famílias, quando aparece, fá-lo na pior altura e traz sempre companhia consigo. Desde que há memória, a Dona Crise vem sempre acompanhada pelo primo Recessão e o primo Inflação e, o mais temido de todos, este puto reguila que destrói tudo: o menino Juros. Como se tratasse de um exército em acção de conquista, instalam-se na nossa vida, nas nossas casas e parecem que vão ficar para sempre. E não nos deixam dormir com o ruído que fazem, a ver quem tem mais importância. À custa do ruído que provocam não nos deixam ir de férias, trocar de carro ou simplesmente comer. Cada vez que a Dona Crise se instala em casa, ficamos a assistir as intermináveis discussões

A nova Idade Média da Europa

Depois do resultado do referendo irlandês ao Tratado de Lisboa, assisti curioso às movimentações europeístas neste "duro golpe" ao aprofundamento da "construção europeia". Houve lamentos, discursos ameaçadores e a invocação de um retorno às trevas. Houve diatribes inflamadas em torno do país dos gnomos, explicações e desculpas. Tudo isso em doses metódicas e ligeiras. Mas o principal discurso foi: a construção europeia avança e a Irlanda, a seu tempo, resolverá o "seu" problema.Seja por outro referendo ou vencido pelo cansaço. Seja por se virem a confrontar com dificuldades económicas ou políticas a breve prazo. Ou seja, a União só o é se todos concordarem com a mesma tese. Porque a política parece actualmente uma espécie de televendas, onde nos tentam impingir uma coisa com que não funcionaremos, com que não saberemos funcionar e que, se reflectirmos, não precisamos para nada? Cuido que poderei pecar por simplista mas, numa família há diferenças, por veze

Só um bocadinho retrógrada

Em entrevista a Constança Cunha e Sá, Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, afirmou-se contra os casamentos homossexuais, não por ser contra a homossexualidade, não é assim tão retrógrada, afirmou, mas porque o casamento é uma instituição que tem em vista a procriação o que entre pessoas do mesmo sexo não é (pelo menos por ora) possível. Boa desculpa, mas, por acaso alguém proibe os casais inférteis de casar? Esses podem adoptar, dirá a senhora, mas, porque não podem os homossexuais? Não é necessário sequer ser casal para adoptar, uma pessoa só pode fazê-lo. E se o Estado não tem nada, nem nenhum de nós, com opções sexuais e familiares lícitas, porquê impedir que estejam em pé de igualdade com as opções mais comuns? Porque há-de o Estado impedir uma pretensão que nada tem de ilegítimo? E porque não hão-de poder adoptar casais homossexuais? Em quê que a orientação sexual colide com a educação de uma criança? Já vai sendo tempo de dar esse passo.

Notícias da santa terrinha

Há tempos foi noticiado em todos os telejornais o caso da funcionária de uma Junta de Freguesia que, apesar de incapacitada, foi declarada apta por uma junta médica e teria de se apresentar ao serviço, o Ministro das Finanças interveio solicitando nova junta médica, mas o resultado foi o mesmo, e os paisanos uniram-se na desaprovação, porque era desumano. Os imparciais jornalistas deram a versão objectiva dos factos e da indignação, descobriram-se as juntas médicas e a sua infâmia. Os coros soaram tão alto, mas tão alto que, pode dizer-se terão chegado aos céus. É, segundo o Correio da Manhã ( aqui ), a Ana Maria foi agraciada com um milagre numa ida ao Bom Jesus de Braga e está praticamente boa. Creio que os telejornais terão pecado por laicismo, mas não vi esta milagrosa notícia ter honras de horário nobre, ou outro...

Irlanda

Drifting among glasses In the gregarious smoke. How culpable was he That last night when he broke Our tribe's complicity? 'Now, you're supposed to be An educated man,' I hear him say. 'Puzzle me The right answer to that one.' Seamus Heaney - Casualty Independentemente do resultado do referendo ao Tratado de Lisboa realizado na Irlanda, fica a noção objectiva do que ele representa: algo próximo da Cabala. Um maço de papéis pouco motivador, de consulta e digestão impossível. Por isso mesmo susceptível de desconfiança ao cidadão médio. Acredito que os irlandeses não tenham lido o Tratado e que possuam apenas umas linhas gerais sobre o seu conteúdo na melhor das hipóteses. Tal como 99% dos europeus. O Não está identificado com uma faixa conservadora, nacionalista, com a esquerda, com movimentos populares e organizações anti-globalização. O Sim está com os liberais, o capitalismo europeu e mundial, com a extrema-direita (o sonho hitleriano do III Reich!) e todo o apa

A revolta dos consumidores

Recebi um mail para aderir a campanha contra o aumento dos combustíveis. Uma simples recusa de encher o depósito em 3 dias do mês que., pelos vistos trará um prejuízo significativo as gasolineiras, distribuidores, revendedores e Estado. No passado fim-de-semana foi a manifestação contra as portagens. Na calha temos também o aluguer dos contadores que serão substituídos por outra taxa qualquer para que alguém não perca uma fonte de rendimentos a extorquir ao consumidor. Os barcos de pesca param no fim do mês porque já não compensa trabalhar. Não são exactamente consumidores (apenas de gasóleo). Avizinha-se também a organização de uma outra contra as atitudes excessivas da ASAE e o seu quadro de objectivos ilógicos. Não muito distante virá o apelo contra os bancos e as taxas de juro (se a maioria dos cidadãos levantar todo o seu dinheiro quando recebem, deixando apenas o que diz respeito à prestações obrigatórias e passar a pagar as contas nos serviços directamente, reduzindo ao mínimo a

Pena de Morte

Não existindo razões objectivas que a sustentem – para além da substancial vingança – a pena de morte não tem coerência objectiva. Aliás, não tem coerência no contexto da humanidade porque em Estados laicos, o primado da Lei pressupõem uma ligação a um ethos de respeito pela vida humana e em Estados de cariz religioso, a sua sanção moral impõem-se, uma vez que a vingança ou a propriedade da vida são uma prerrogativa divina. Existem, de facto, nações e pessoas de todo o mundo que são acérrimos defensores da sua aplicação de uma forma mais ou menos restrita. Fazem-no com o ódio próprio dos injustiçados, dos descrentes da lei e da justiça e dos que acham que uma catarse acalma o espírito e previne a repetição de actos hediondos ou extremos. Criminoso mesmo é a justiça negar-se a si própria ao sentenciar pessoas ao homicídio. Não consigo compreender, numa perspectiva de Estado de Direito, a sua aplicação. Acolitados no discurso do "sempre é menos um", os defensores ataviam-se de

Utopias: uma nova exigência

Por muito empírico que possa parecer, tenho a crença de que todos os males da humanidade radicam em três vertentes específicas: Desigualdade da distribuição da riqueza Divergência na construção dos valores fundamentais Intolerância face as diferenças entre os povos A interacção entre eles e a sua reciprocidade explicam em larga medida os flagelos a que assistimos nos últimos 10.000 anos. Nunca nos separaremos da nossa condição animal enquanto não invertermos a lógica do darwinismo. A solidariedade e o equilíbrio na relação com o próximo representa uma evolução da espécie proporcionada pela racionalidade e esforço critico humano. Esta libertação teve início com as religiões; depois, no conhecimento e na lei pela percepção de que as injustiças devem ser corrigidas; por fim, a revelação científica de que as desigualdades são motor de conflito e que a partição e gestão de recursos são a única forma de salvar o planeta através da retracção das sociedades da

Muitos arrepios fazem um tremor de terra?

Espero que o arrepio global destas últimas semanas tenha estremecido algumas consciências relativamente ao que representa o capitalismo extremo e a demissão política das populações relativamente aos seus destinos. Neste processo em que ninguém está inocente a Europa e a América cavaram bem fundo a sua própria sepultura ao subsidiar a sua produção agrícola, condicionar a produção agrícola alheia, influenciando governos corruptos a aceitar a exploração agrícola em monoculturas debilitantes do ponto de vista ecológico e das estruturas sociais dos países explorados e, não bastando isso, especulando o valor dos alimentos, ancorado na especulação energética. Este complicado jogo a que chamo sinoismo do mundo (consolidação de elites, eliminação das classes médias, trabalho precário, mal remunerado e de subsistência, appartheid populacional com a fixação de elites em cidades-estado, muralização da indigência ou outros incomodativos, policiamento e militarização tecnológica e genocídios autori

Pensar 2020

A falta de um pensamento estratégico que desenhe um Portugal no futuro hipoteca em larga medida as decisões do presente e da emergência de um desígnio comum que seja assumido transversalmente por toda a sociedade e não apenas pelas supostamente representativas forças políticas. Esta visão estratégica do futuro serviria para duas coisas fundamentais: elaborar estratégias de longo prazo devidamente participadas e assumidas pela globalidade da população, reduzindo as intenções de baixa política, sabotagem ou confrontação recorrente e criar condições para avaliar esta ou aquela execução política, reconhecendo os resultados de uma maneira credível que permitiria reagir ao que não foi atingido e valorizar o alcançado. Para que isso aconteça é necessário que sejam claros para o povo alguns aspectos que compõem o futuro e que cercam essas opções: Globalização, Cultura e Relações Externas. A primeira define toda a política económica futura; a segunda, a forma como nos manteremos enquanto estru

Dia da Terra

The Simpsons: a incomodidade medíocre

Gosto dos Simpsons. São uma família desajustada, disfuncional e incoerente. Uma família do mundo ocidental que há muito mandou a política às urtigas, cujo universo centra-se na televisão e onde não há espaço para o desenvolvimento humano. Para eles, a vida gira em torno das refeições, do bar, da escola, num circuito fechado e estreito e as enormidades da análise do “real distante” são uma reprodução (e não uma caricatura) do pensamento de uma certa classe média americana, com tiques nacionalistas, uma falta de cultura confrangedora e uma interpretação dos factos feita a partir de uma colecção de bites avulsos apreendidos de passagem. Chega a ser dolorosamente real a relação com as instituições (a indiferença de Bart pela escola, a incapacidade da escola oferecer mais a Liza, a “seca” que é o trabalho na central nuclear, esta fonte de riqueza de Springfield e, ao mesmo tempo, a sua desgraça). Aquele tom permanentemente fora do politicamente correcto é delicioso e só possível no mundo o