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Mostrando postagens de julho, 2008

Os novos justiceiros

Nestes últimos anos tem surgido uma nova estirpe de gente no panorama nacional: os super-heróis. Em tempos idos dos anos 80, o rústico palratório, o truão intimidador e o sobranceiro petulante arrogado em sumidade dominavam o panorama. Era o tempo do estilo cavaquista, gente que tinha resposta para todos os males de Portugal, do mundo e do condomínio em que viviam. Todavia, o tempo do tipo autoritário e retaliante passou. O estilo ora prevalecente é o comunicador. Gente sensível e educada que nos tenta explicar matérias de uma forma simplificada (tão simplificada que não percebemos nada!), revelando uma singela devoção e uma reiterada preocupação para que o povo entenda que "este é o único caminho / alternativa / política possível porque é aquela que temos de seguir alegremente e de forma agradecida por alguém ter esta preocupação" (a que chamaria maoismo light). Neste contexto de uma governação à bolina dos ventos da Comunicação Social surgem então os nossos super-heróis. Ge

Visões de vanguarda

Até há uns dias atrás, sempre estive convencida que, em democracia, à oposição competia apresentar políticas alternativas às políticas do governo, e negociar as situações em que, sendo necessária uma maioria de deputados, a maioria governamental era insuficiente. Afinal não, afinal, segundo a nova líder do PSD, à oposição compete fiscalizar a actividade governativa. Não sei se percebi muito bem tão elevada teoria, e se essa fiscalização colide com a dos Tribunais de Contas e Constitucional, ou se se limita ao acto político de dizer no órgão legislativo que está mal, ou eventualmente que não coincide com o programa político apresentado em eleições pelo partido vencedor. É claro que, pensando bem, e observando um bocadinho do canal Parlamento, conclui-se que alternativas e ideias são bens escassos, se calhar é isso mesmo, a tal da fiscalização, uma espécie de ASAE que fiscalizando actos políticos se limita ao 'tá mal colorindo-o com retórica digna da discussão de café mais inútil

Dona Crise

Gostava de vos apresentar uma tia muito velhinha que faz parte da família: Chama-se Dona Crise. Ao que julgo tem mais de cem anos e não sei ao certo se alguma vez, depois da primeira visita, nos deixou verdadeiramente. Confesso que houve um ano ou outro nem nos apercebemos que esteve sempre connosco. Mas foi uma ilusão. Como normal das famílias, quando aparece, fá-lo na pior altura e traz sempre companhia consigo. Desde que há memória, a Dona Crise vem sempre acompanhada pelo primo Recessão e o primo Inflação e, o mais temido de todos, este puto reguila que destrói tudo: o menino Juros. Como se tratasse de um exército em acção de conquista, instalam-se na nossa vida, nas nossas casas e parecem que vão ficar para sempre. E não nos deixam dormir com o ruído que fazem, a ver quem tem mais importância. À custa do ruído que provocam não nos deixam ir de férias, trocar de carro ou simplesmente comer. Cada vez que a Dona Crise se instala em casa, ficamos a assistir as intermináveis discussões

A nova Idade Média da Europa

Depois do resultado do referendo irlandês ao Tratado de Lisboa, assisti curioso às movimentações europeístas neste "duro golpe" ao aprofundamento da "construção europeia". Houve lamentos, discursos ameaçadores e a invocação de um retorno às trevas. Houve diatribes inflamadas em torno do país dos gnomos, explicações e desculpas. Tudo isso em doses metódicas e ligeiras. Mas o principal discurso foi: a construção europeia avança e a Irlanda, a seu tempo, resolverá o "seu" problema.Seja por outro referendo ou vencido pelo cansaço. Seja por se virem a confrontar com dificuldades económicas ou políticas a breve prazo. Ou seja, a União só o é se todos concordarem com a mesma tese. Porque a política parece actualmente uma espécie de televendas, onde nos tentam impingir uma coisa com que não funcionaremos, com que não saberemos funcionar e que, se reflectirmos, não precisamos para nada? Cuido que poderei pecar por simplista mas, numa família há diferenças, por veze

Só um bocadinho retrógrada

Em entrevista a Constança Cunha e Sá, Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, afirmou-se contra os casamentos homossexuais, não por ser contra a homossexualidade, não é assim tão retrógrada, afirmou, mas porque o casamento é uma instituição que tem em vista a procriação o que entre pessoas do mesmo sexo não é (pelo menos por ora) possível. Boa desculpa, mas, por acaso alguém proibe os casais inférteis de casar? Esses podem adoptar, dirá a senhora, mas, porque não podem os homossexuais? Não é necessário sequer ser casal para adoptar, uma pessoa só pode fazê-lo. E se o Estado não tem nada, nem nenhum de nós, com opções sexuais e familiares lícitas, porquê impedir que estejam em pé de igualdade com as opções mais comuns? Porque há-de o Estado impedir uma pretensão que nada tem de ilegítimo? E porque não hão-de poder adoptar casais homossexuais? Em quê que a orientação sexual colide com a educação de uma criança? Já vai sendo tempo de dar esse passo.

Notícias da santa terrinha

Há tempos foi noticiado em todos os telejornais o caso da funcionária de uma Junta de Freguesia que, apesar de incapacitada, foi declarada apta por uma junta médica e teria de se apresentar ao serviço, o Ministro das Finanças interveio solicitando nova junta médica, mas o resultado foi o mesmo, e os paisanos uniram-se na desaprovação, porque era desumano. Os imparciais jornalistas deram a versão objectiva dos factos e da indignação, descobriram-se as juntas médicas e a sua infâmia. Os coros soaram tão alto, mas tão alto que, pode dizer-se terão chegado aos céus. É, segundo o Correio da Manhã ( aqui ), a Ana Maria foi agraciada com um milagre numa ida ao Bom Jesus de Braga e está praticamente boa. Creio que os telejornais terão pecado por laicismo, mas não vi esta milagrosa notícia ter honras de horário nobre, ou outro...