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Mostrando postagens de novembro, 2009

Justiça e Imprensa: Crédito mal parado

Tenho tentado escusar-me a comentar o nascimento de mais um processo judicial e de toda a especulação mediática à sua volta. Tal como muitas pessoas do país, passei soberanamente por cima de mais este caso nacional. Estou, como muitos cidadãos que tem mais de fazer na vida, farto e exausto de um modelo de Justiça que se esconde atrás de uma imensa burocratização, a arrogar uma pretensa defesa do cidadão (e que mais não é do que uma forma de emperrar o aparelho para que nada se produza de concreto nem para um lado nem para o outro). Nos últimos 12 anos houve processos envolvendo figuras mais ou menos visíveis da sociedade cujo resultado final é pior do que zero: é o não ter resultado, nem culpa nem inocência: um limbo. Todo o sistema contribuiu para o atolamento da verdade e se configura como algo onde falta coragem, saber e subordinação a interesses corporativos e políticos impera. É por onde vemos a Democracia a ruir. Daí que o cidadão médio já não ligue a suspeitas, processos e liti

Visita de Ahmadinejad ao Brasil

Discordo totalmente da posição de Ricardo Caldas expressa em O Globo de hoje. A ausência de relações externas é que pode tornar o Irão um país fechado sobre si próprio e não me parece de todo útil a comparação deste país com a Coreia do Norte. Esta posição mais não é que um revivalismo da cartilha Bush, logo absolutamente inútil e nociva. A posição que o Irão assume sobre Israel tem uma história por trás que não podemos ignorar, como se o Bem e o Mal fossem campos absolutamente distintos: o único povo a não querer a paz no Médio Oriente é Israel, por muitas e variadas razões que temos vindo a identificar neste blog ao longo dos anos. Evidentemente, isto não beatifica o regime iraniano cujo problema mais evidente se situa na distanciação entre a religião e o poder político. Agora invocar o desrespeito pelos Direitos Humanos não me parece um bom argumento. O Brasil falha em muitos aspectos a este nível e se a isso juntarmos uma política de não preservação da Amazónia (e que condena a H

Muro de Berlim: para onde foram os pedreiros?

Respondendo a um desafio lançado por um amigo que encontra no meu esquerdismo um profundo ressentimento com a queda do muro de Berlim. Caro J. Em 1979 era um “esquerdista” que via com receio o fim dos regimes comunistas. É verdade. Não porque simpatizasse com a hegemonia comunista, a prepotência soviética ou por mero artifício ideológico. Eram outros os receios. O maior seria a ideia de que a “democracia ocidental” vencera o comunismo, a ideia de que o Leste europeu viveria um delírio extremo, perturbado por guerras civis e acertos de conta, que os países de África render-se-iam as lógicas de mercado, aprofundando ainda mais a pobreza dos seus povos e, sobretudo, o que seria viver num mundo onde não existisse pelo menos a oposição as lógicas de um único sistema. Evidentemente, o czarismo russo de matriz ideológica em nada contribuía para acreditar num futuro radioso. A China nunca despertou tal ideia e como tal sempre foi, no meu entender “esquerdista”, uma carta fora do baralho do c

Uma estratégia única para o Iraque, Paquistão e Afeganistão

9.Relação com a religião Para o fim deixei a religião. O falso intróito de todas estas guerras. A religião tem sido usada e abusada por ambos os lados para credibilizar uma luta cujo sentido acaba sempre nas mesmas questões: Israel e Petróleo. Os Talibans não são terroristas na essência. Tornaram-se para executar o extremismo das suas leituras, como o fazem os senhores da guerra em África ou os barões da droga na América Latina. Estão longe de serem um grupo de parolos: a sua elite é formada por gente de formação superior, muitos deles nos países Ocidentais e não se pode dizer que as suas opções não são racionais. Porque então produzem uma abordagem do Islão tão extremamente antagónica do espírito do próprio Corão? Trata-se, quanto a mim, de uma vingança secular. A perspectiva de que o Ocidente manipula e destrói a essência da religião, que oprime e explora o seu povo de forma oportunista por via do petróleo, levando a que as nações islâmicas tenham índices de pobreza, analfabetismo e

Uma estratégia única para o Iraque, Paquistão e Afeganistão

8. Investimento económico Não fosse a guerra um negócio para os grandes grupos económicos e visasse algo mais vasto e integro como o desenvolvimento social e económico dos povos invadidos, poder-se-ia pensar se a consolidação das mudanças não teria maior alcance. E o sofrimento permanente dos povos aliviados pela existência de emprego, comércio, serviços e negócios de pequena escala que ocupariam as populações. A estrutura económica destes países é muito diferenciada. O Iraque, uma economia mais próxima do Irão, com algum brilho e desenvolvimento embora profundamente desigual; o Paquistão enlaçado entre uma economia informal e grandes empreendimentos estatais e o Afeganistão de um estóico atraso, rural e agrária. Em comum apenas a desigualdade e o descontrolo de inúmeras actividades comerciais. A coerência da actividade económica depende em larga medida das leis e do controlo do Estado na sua observância. Como estes estados são incoerentes e frágeis, a anarquia das actividades económic

Uma estratégia única para Iraque, Paquistão e Afeganistão

7. Desenvolvimento humano Voltando a tríade (Aproximação/Participação/Pacificação) que orienta este modelo, há componentes essenciais sem as quais a noção de intervenção militar perde qualquer sentido. Torna-se decisivo lançar a ponte entre Ocidente e Oriente, não no plano diplomático ou político, mas no cultural, social e económico. Porque as iniciativas políticas e diplomáticas foram sempre o cemitério das relações entre os dois lados do mundo. De um lado, o oportunismo pessoal ou local, o servilismo a troco da ostentação e poder, do outro o financiamento a gente submissa e néscia, a manutenção de poderes fátuos à custa do apoio ao real desenvolvimento dos países e a manipulação permanente entregaram o Médio Oriente a fundamentalistas porque ambas as partes sonegaram e desrespeitaram o impacto da religião no território. Construir uma nova relação passa em larga medida pelo envolvimento da sociedade civil do Ocidente com a embrionária semente social destes países. Isto porque os pov

Uma estratégia única para Iraque, Paquistão e Afeganistão

6.Estratégias – A componente militar O processo de estabilização da zona é um processo de altos e baixos que levará seguramente muito tempo (o meu optimismo aponta para o quarto de século!). As implicações da implementação de novas estratégias nesta parte do globo terão um impacto alargado não apenas no mundo árabe. A composição deste novo modelo assenta sobretudo em três dimensões lógicas: - Um mundo global só pode fazer sentido se a aproximação dos povos for baseada no respeito mútuo, compreensão das diferenças e integração das realidades; - O respeito pela soberania de cada povo é um direito inalienável. A participação tem de ser solicitada e não imposta por circunstâncias, influências ou interesses; - A pacificação depende do desenvolvimento das sociedades, da emancipação intelectual das populações, do livre arbítrio individual e a aceitação das contradições das diferentes aproximações. Esta tríade Aproximação/Participação/Pacificação aparece nesta ordem de uma forma não arbitrári