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Mostrando postagens de 2010

2010 e 2011:Entre balanços e previsões

Há algo de mórbido neste trabalho jornalístico dos balanços e previsões. É semelhante a passar fins-de-semana em velórios. Os balanços e as previsões tem o condão de nos deixar a sensação de que não iremos mudar de ano mas sim viver uma espécie de prolongamento da desgraça. Andei a visitar vários sítios e todos são unânimes nisso. Os balanços são uma seca pior do que as previsões, que pelo menos tem o condão de aguçar a curiosidade pelo que está para vir! As televisões e imprensa em geral repisam as desgraças todas, os mortos, os terramotos, um tiroteio na América, uma perseguição de carro (também na América), um serial killer alemão e um canibal russo! No final, numa nota de esperança e alívio depressivo, mostram, acompanhados de música cândida, o bem e o belo (versão oficial), as criancinhas a correr na praia, etc.! A imprensa económica especializada diz-nos o mesmo. Já sabemos e sinceramente acho que não será diferente de todos os outros anos: incomodamo-nos, agitamo-nos aqui e ali

fitter happier

Rap News 6 - Wikileaks' Cablegate: the truth is out there

O melhor deste Natal!

Presidenciais: alguém tem visto?

Entre 700 e 800 mil pessoas cumprem o nobre sacrifício de acompanhar os debates das presidenciais. Dá para aí um “share” de 20% e um fundo de tabela no top ten . São pessoas a que louvo a capacidade, a crença e o investimento. Sinto remorsos por não ser uma delas mas não consigo, está para além do meu nível de tolerância. Há razões que me levam a resistir ao apelo. O PR é um lugar de representação da nação, de garante último da Constituição. Com poucos poderes e ainda bem e que o seja por muito anos. Tem pois de ser um indivíduo com créditos políticos, afável e popular sem ser populista, alguém que a nação acredite que mereça. E o mérito aqui é muito importante porque o cargo é encarado como uma espécie de “prémio carreira” que é dado em duas partes, ou seja, dois mandatos. Se só ganhar um tem apenas meio mérito, medida que serve para designar também a circunstância de “não havia outro melhor”. Assim como nas empresas dão ao trabalhador um relógio, uma gravata ou uma caneta com o nome

Patriot Act for Internet ahead?

Notícias da Guerra.

Toda solidariedade ao Wikileaks

Deve dar mesmo prazer ter um Presidente assim!

WikiLeaks: tudo o que você já sabia mas não tinha como confirmar

À parte a imensa diversão que me inspira ver o desespero com que certas entidades estão a tentar “tapar a fuga”, o WikiLeaks é uma curiosa fonte de inspiração para o que se desenha como fim da decência politica, económica e social. Não há alma no mundo com interesse na política, sociedade ou por mera raiva que não tenha curiosidade de espreitar o mundo de informações do site (é tanta que facilmente submergimos, não dormirmos, ficamos a ler mais uns até às cinco da manhã com dois cinzeiros cheios e um litro de café na conta). Aguardo ansiosamente pela próxima leva que – espero – envolva os valores de empresas e pessoas com contas off-shore, dado importante para sabermos, por exemplo, porque pagamos mais IRS ou IRC, porque não somos aptos para uma “sociedade de excelência”, ou porque não sou tão produtivo como querem que eu seja. Espero também que possa revelar os planos de salvação das elites em casos de catástrofe, revolução ou guerra nuclear e os modelos de “solução final” que estão m

A semana em que as notícias foram em ramalhete – 2ª Parte

2. Secção “vamos brincar as polémicas?” Excepções nos Açores «são péssimo exemplo», diz Marques Mendes Excepções ao OE2011? «Nem nos Açores nem no resto do país» Bem me estava a parecer que isto é mais uma questão insular a que o Marques Mendes não quer dar o flanco, sabendo que o Rei da Madeira, agora, vai inventar outra para si (o perdão dos 24 milhões aos partidos não conta!). De qualquer modo já há tantas excepções que esta até me parece benévola, embora imprópria. O que Carlos César agora fez foi “negar o líder”. Quando o fizer três vezes poderemos estar em vias de ver a crucificação e o surgimento de outro galo a cantar… (In Agência Financeira: Economia) PGR não vai reabrir inquérito ao caso dos voos da CIA A PGR finta a polémica, criando ela própria uma polémica só para si. Um facto político que contradiz enunciados anteriores não é matéria para investigação? Um facto político que revela uma provável ocultação de uma atitude de um Governo contra as leis do Estado não constitui e

A semana em que as notícias foram em ramalhete – 1ª Parte

Pois devia ter feito isto durante a passada semana. Não me apeteceu. Estou depressivo não com propriamente com a crise (que já vivo com ela há algum tempo!) mas com o descaminho das coisas . Aliás o mundo está a ficar um pouco fora de moda. Daí que a “ameaça” da conferência de imprensa da NASA sobre eventual vida alienígena despertou um frémito no mundo. Sol de pouca dura! Afinal, estavam a falar de uma bactéria que vive em condições agrestes (e nós, não?) e que aproveitam o arsénio e ainda por cima não é extra-terrestre: encontraram-na no Lago Mono na Califórnia. Que existem alienígenas na América já toda a gente sabe e que o sítio onde mais facilmente se poderá dar com eles é na Califórnia. Ou seja, não houve novidade! Mas há uma mão cheia de notícias que me prendeu a atenção esta semana. O meu espírito positivista manda organiza-las assim: 1.Secção “porque não me lembrei disto antes!” Exploração de petróleo em Portugal é projecto de "alto prémio" Aí está a solução para to

Clã com Sérgio Godinho - Espectáculo, foi no Rivoli, hoje, só no Dragão

De como a resposta curta e grossa é uma necessidade nacional ou o apoio inequívoco a posição de Miguel Lobo Antunes

“ Um director de teatro não deve saber nada de economia para que não se deixe contaminar por esse discurso que se pega a nós e dificilmente dele nos conseguimos libertar.” Com esta frase lapidar Miguel Lobo Antunes destruiu um anátema que paira sobre a cultura nestes últimos tempos. A obsessão gestionária que assola o país, cercado por estranhos métodos estatísticos de avaliação de eficácia, produtividade e comparação de resultados absurdos entre realidades distintas pode enganar a todos por algum tempo mas cai por terra quando falamos de uma realidade imaterial denominada arte. Actualmente, as constantes avaliações que imberbes gestores plantam no cenário da sociedade, atirando números, rácios e valores padrão que vão desde a avaliação do tempo de prestação de consultas médicas até o custo/benefício de um serviço que atende um número reduzido de pessoas (por exemplo, idosos) e que, fruto deste desiderato deve fechar, obrigando os utentes a dirigir-se a outros espaços (a 20/30 km do lo

[[ERIC CANTONA]] ACCIÓN MUNDIAL CONTRA LOS BANCOS - WORLDWIDE ACTION - [...

A NATO e a idade da reforma

Se vivêssemos num mundo decente em que o Estado Social conseguisse garantir a qualidade de vida dos cidadãos, a NATO teria chegado à idade da reforma. Dada a sua natureza belicista e fruto das inúmeras jantaradas que proporcionou a si própria (este é o ano do bacalhau!) tem maus fígados, tensão arterial elevada e uma série de outras mazelas que em condições naturais já a teria levado a morte. Mas essa nossa obsessão de prolongar a vida dos doentes para além do razoável faz com que existam estas carcaças no mundo, agonizantes e torturadoras de quem a elas está submetido. Digo-vos, em segredo, que há uma razão para os que constituem a sua família manterem vivo este velho quezilento, surdo e cheio de fel: a herança. A apetitosa distribuição do poder faz com que todos se sentem à mesa no Natal, Páscoa e outras efemérides, trocando falsos sorrisos e atirando fanfarronices de vida, fotografias de férias e notas dos filhos. No fundo todos se odeiam e sabem que separados terão de lidar com lit

A dança continua

Nos filmes de terror, o desenvolvimento da inquietação e medo deve ser mantido sempre num ponto de tensão médio entre abruptos paroxismos de violência, até o momento de voltar a uma linha de conforto (onde julgamos que acabou o medo). Subitamente, irrompe por este momento relaxado a mais brutal, angustiante e repelente cena com que abraçamos o final. Final esse que pode significar que tudo que está a volta ficou feito em pó, mas “eu safei-me” para contar. Quando muito “nós safamo-nos” – eu e a miúda gira. Mais nada. Quem acredita no dramatismo do resultado das negociações e neste “wrestling” montado pelos partidos, comunicação social e diversos parceiros sociais, ainda não percebeu que a encenação está montada. Tal como em Hollywood, os efeitos especiais servem para esconder a pobreza do enredo das fitas, esta negociação tem contornos óbvios de George Romero: aterrorizar para melhor aceitar. Demonizado o Orçamento na pessoa dos seus mandantes, vagueando no medo da intervenção do FMI, d

A importância do leite achocolatado na economia portuguesa

1 Estive caladinho este tempo todo, à espera. Não fazia muito sentido falar. O PSD, perante as notícias que cirurgicamente o PS punha a circular sobre o orçamento em doses diárias, sobre impostos, cortes, etc. ia reagindo com um “assim não brinco!” A ideia de que o PSD não deixará passar o orçamento é tão absurda como esperar que o orçamento funcione. Vai propor alterações, cortes e coisas simpáticas com as quais o Governo fará as transigências simbólicas, passando a imagem de quem negoceia, mas o essencial já está combinado. 2 Se dúvidas restassem sobre a aprovação, estas desvaneceram-se quando a comitiva bancária foi visitar Passos Coelho. Disseram-lhe para se deixar de “fitas” senão tinham de “pagar-lhe” um acidente algures num avião qualquer. E Passos calou-se finalmente. Falará no Parlamento. 3 Ninguém com um mínimo de seriedade esperava um orçamento fácil. Mas os PAC’s são a continuidade preguiçosa uns dos outros: taxam o rendimento. A poupança é um exercício de esforço, de per

Metade das empresas municipais dá prejuízo - JN

Metade das empresas municipais dá prejuízo - JN Se o argumento da sua criação foi o acabar com os "mandriões" que saiam caros ao erário público e "profissionalizar os serviços" fica finalmente reposta a verdade. As EM são agencias de colocação para privatizar, em fase posterior, os serviços com a alienação barata do patrimonio de todos. Os antigos serviços camarários, morosos mas presentes, continham trabalhadores e bem ou mal asseguravam os trabalhos (até porque havia poucos engenheiros e muitos trabalhadores, situação que hoje é totalmente inversa). Divirtam-se quando as ruas forem pertença de companhias de seguro, bança ou até mesmo de gente bem...

Os 98 Mandamentos 13º Episódio

A vitória de Lenine Com o estabelecimento de orçamentos plurianuais (Quinquenais, para ser mais retro) e a internacionalização do orçamento (leia-se PEC) estão criadas as condições da vitória do comunismo na sua plenitude. Um orçamento cujas linhas obrigatórias são emanadas no Comité Supremo e que deveremos cumprir com ferocidade e rigor. Todo aquele que não cumprir será um traidor da classe financeira e monopolista e deverá ser imediatamente decapitado. Talvez que o Estado possa poupar muito dinheiro na contratação de economistas e consultorias externas, uma vez que o orçamento será feito fora do país e de borla… Epílogo Todos diferentes e sempre iguais A revisão do Dr. Passos não vingará na totalidade. Nem é preciso. Serviu para marcar território e diminuir a evidência que todos reconhecem das semelhanças entre PS e PSD. Passos viu onde Sócrates esbarrou e engasgou, as mudanças de trajecto e confrontos que teve. Percebeu que precisa (precisam ambos) de arsenal legal para legitimação

Os 98 Mandamentos 12º Episódio

Republicanos? Passos Coelho, na sua adolescência, deve ter vivido o fenómeno da AD. Ou pelo menos ter-lhe-ão contado. Aquele tempo glorioso, do Fantastic 3 . E como todo o quarentão passa por um período revival , deve ter achado gira a ideia de contentar os monárquicos, retirando a palavra República a dado trecho e a propósito do dever de protecção das Forças Armadas. Não sei o que lhe vai na alma ou se está mesmo desesperado, imaginando que os 15.000 monárquicos votantes (acredito que metade votou por engano) serão decisivos para a maioria. Para ser assim, preferia que começasse já a falar de sermos um Estado Ibérico…

Os 98 Mandamentos – 11º Episódio

O que vale um referendo O problema central dos referendos em Portugal é a programação absurda a que estão sujeitos. Faz sentido consultar o povo de vez em quando, sobre um tema fracturante? Ou prestaria melhor serviço programar para o período eleitoral Autárquico uma grelha de questões nacionais e locais? Não ficaria mais barato, credível e participado? Sou contra a vinculação tout court . Acho que a vinculação directa de um resultado referendário depende da obtenção de uma maioria de 2/3 dos votantes e participada sempre em mais de 50% da população. Outros resultados dependem da análise e reflexão política antes de uma decisão ou operacionalização final. Sei que com esse critério não teríamos a Lei da IVG, mas neste tema e noutros os governos tem de ter coragem política para assumir os seus programas. Se tem determinado projecto, escusam de se esconder atrás do voto popular para legitimar uma política. No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo foi assim e é assim que deve ser,

Os 98 Mandamentos – 10º Episódio

O Presidente do Conselho O Conselho Superior da República poderia ser um bom principio mas a configuração proposta relega o projecto para mais um órgão institucional sem ponta de interesse. Se o dito Conselho integrasse massa cinzenta e não políticos e amizades próximas até poderia ter utilidade. Os três conselheiros do Parlamento poderiam ser escrutinados nas universidades, privilegiando gente sem vinculação partidária, os dois da Presidência escrutinados na área da cultura (ia ser difícil!) e os restantes dois angariados junto da sociedade civil, pessoas de relevo e prestígio mas sem ligação politico partidária. Assim, teríamos um Conselho mais universal, inteligente e com critérios independentes (pelo menos na essência) das estruturas partidárias. …. Não percebo porque é que o Procurador-Geral da República não pode ser objecto de voto directo do povo. Acho bem que os Presidentes do STJ e TC sejam eleitos pelos seus pares. É um bom princípio e muito aconselhado. …. Nestes aspectos de

Os 98 Mandamentos – 9º Episódio

Coisas de todos os dias O anteprojeto de revisão constitucional do PSD inclui na Lei Fundamental uma norma que impede a eleição de presos ou de condenados por crimes de responsabilidade no exercício de funções públicas . Acho que sim, desde que se criem as condições necessárias para que ao menos um rico e poderoso neste país seja condenado a prisão. Tal como está formatada a ingerência da política na justiça, não vejo como. …. A extinção dos Governadores civis é bem vinda, tal como as CCR’s e outros anexos políticos.

Educação Sem Chumbo e a Educação Super

Alguém tinha de abrir oficialmente a silly season e nada melhor do que um tema com impacto nacional. A educação anda de rastos porque nenhum dos seus protagonistas quer assumir responsabilidades: o Governo, os professores, os pais e os alunos. O Estado quer resultados europeus sem investir e reduzir o impacto sindical dos professores na Função Pública, através do lançamento de políticas de gestão absurdas e incoerentes; os professores querem manter os direitos adquiridos e recusam a perspectiva de que o funcionamento das carreiras e horários é um privilégio quase obsceno face a sociedade em geral e que o tipo de empenhamento, caso queiram manter um sistema público de ensino terá de ser bem outro; os pais oficiais (os da Confederação) vão dizendo que sim ao Governo, numa desresponsabilização assustadora, sem perceber que os seus interesses não são o facilitismo e o laxismo que se tenta implementar na escola e por fim os alunos, eternas vítimas de joguetes que não mostram, não querem, nã

Os 98 Mandamentos – 8º Episódio

Se a Justiça é cega todos os cegos são justos? O projecto de revisão de Passos aumenta o rol de garantias aos arguidos e de protecção do investigado ao mesmo tempo que, como já vimos, a vigilância e invasão informática no contexto da investigação aumenta. Porque? Tenho uma suposição, opaca como todas as coisas. No caso BPN, a papelada (sim, em espécie) estava guardada num esconderijo na casa do arguido. As trocas de informação via e-mail pouco ou nada servem na constituição da prova, mas o que existe em papel presume-se importante. Um articulado que modifique o protocolo de investigação no que diz respeito a correspondência e domicilio facilita a vida a quem tem muito “papel”. No lado oposto, as fugas de informação dos Ministérios, Procuradoria e Judiciária são realizados por via digital para a imprensa. Todos sabem porque e é fácil e relativamente anónimo. É um perverso raciocínio, confesso, mas que las hay… …. Ao não propor a reforma do Ministério Público, Passos mantém essa longa tr

Os 98 Mandamentos – 7º Episódio

Porque temos de ser todos iguais? O futuro do ensino: 1. O Estado promove uma política de ensino e assegura o ensino básico universal, obrigatório e gratuito mas não se obriga a criar um sistema público para o efeito, o que quer dizer que o cumprimento deste desiderato será pago a jusante; 2. O Estado coloca a concurso ou negoceia com diversas entidades (já as conhecemos) a gestão do ensino, pagando a estas a realização do serviço. A “política” seria a listagem de critérios e objectivos a alcançar, uma vez que os programas serão elaborados pelo conselho das instituições privadas de ensino a quem serão cedidos os melhores espaços do Estado para gerir; 3. O mito da gratuitidade será substituído pelo pagamento em função dos rendimentos de cada agregado. Ninguém ficará isento. O Governo (suponho que do PSD) durante o ensino obrigatório criará um sistema de bolsas (x resultado igual a y de isenção) ou o cheque ensino (os processos são iguais). Para o ensino não obrigatório, a roda seria liv

Os 98 Mandamentos – 6º Episódio

E se nos calhar o Chavez? A simples ideia de reforçar os poderes presidenciais dá-me dor de cabeça! Entregar ou reforçar o poder de um homem é salazarento, muito mais em países com uma veia latino-americana como Portugal. Aumentar um ano de legislatura ao Presidente não tem interesse prático, mas compreendo que vão faltando políticos de estatura para preencher o lugar, o que não é argumento. Na minha pobre visão, o Presidente tem poderes a mais e o alargamento do tempo um disparate sem qualquer interesse. A ideia da moção de censura construtiva e a alteração da data de início das sessões legislativas são boas ideias que convém aprofundar (a ideia peregrina de ser o Presidente a determinar a alternativa de Governo sem ter em conta os resultados eleitorais parece absurda. A “construtividade” da moção deveria existir para produzir correcções no governo democraticamente eleito e não para criar novos governos dentro de uma legislatura). A discussão parlamentar da política europeia e a vincu

Os 98 Mandamentos – 5º Episódio

Já não há borlas? Podia escrever um post muito sério sobre isso. Ou podia alinhar na palhaçada e tecer críticas a este pobre desvario liberal. Mas não. O 25 de Abril trouxe consigo um sonho de igualdade, do qual o SNS é o ícone mais significativo. Em 10 anos Portugal passou dos índices de maior atraso na saúde para um primeiro plano cuja cereja foi a diminuição drástica da mortalidade infantil, a erradicação de doenças endémicas como a cólera e um acompanhamento mais justo e equilibrado para todos. Representou um tempo em que a medicina não era um negócio na sua essência e do seu carácter universalista transparecia a dimensão da Democracia. A sua construção foi uma das maiores tarefas do regime democrático. Teve imperfeições, não soube adaptar-se à forma e conteúdo dos tempos mas a sua essência é inequivocamente justa e necessária. Nunca concordei que fosse gratuito para todos. Há sempre um pequeno contributo a dar, uma vez que um serviço dessa dimensão obrigue a um exercício de gestão

Os 98 Mandamentos – 4º Episódio

Menos Estado é um Estado de que? “Onde se lia "economia mista" aparece agora "economia aberta" e são também eliminados os deveres do Estado de eliminar "progressivamente as diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo e entre o litoral e o interior" e de "desenvolver as relações económicas com todos os povos, salvaguardando sempre a independência nacional" e todas as normas sobre organizações de moradores.” (in DN) Perdendo o Estado o papel regulador e equilibrador, quer dizer que se assume as assimetrias, as disparidades e a desigualdade como uma emanação divina a qual não podemos escapar. Será isso um Estado Moderno ou o início da Revolução Industrial? Não será um pouco tarde começar este processo no Sec. XXI? Se a nobre tarefa do Estado que é a de promover a Igualdade é ignorada, poderemos aproveitar e ressuscitar o Artigo 49 da Constituição de 1976? Ou adoptar o Direito de Rebelião do estimável Locke, embora não tenha sido pensado

Os 98 Mandamentos – 3º Episódio

De como é importante ter uma causa justa A expressão "justa causa" aparece na Constituição não por um delírio Marxista. Tem a ver com uma razão sociológica simples: a estrutura patronal do país é basicamente retardada no tempo e na mentalidade, é arcaica na forma de lidar com a Lei e troglodita no plano humano, semi-analfabeta na essência e absolutamente votada ao saudosismo. Não serão todos: apenas a maior parte. Estão a anos-luz da modernidade, usam computadores para por naperons em cima. De patronato só os carros, porque até as casas tem a opulência e mal gosto como marca inequívoca. É para proteger a decência mínima que a justa causa existe. Isto do atendível dá mesmo a sensação que os Direitos vão para a caixa das mensagens. Os outros, poucos, membros do patronato que evoluíram, tem MBA’s, tem Gestão, Economia ou se não sabem nada disso apesar de terem diploma, deixam alguém que perceba a gerir, não se assemelham a estes trogloditas. Todavia, tem um outro pequeno defeito

Os 98 Mandamentos – 2º Episódio O lugar para onde não queremos ir

Em bom português, Passos Coelho pôs a cabeça no cepo. A dele, a do PSD e a do PS, mas não a de Sócrates. Explico: Ninguém será inocente ao ponto de pensar que este é o “Tango” que Sócrates e Coelho vão dançar. As SCUT’s e o PEC são meros ensaios do Bloco Central subliminar que se está a montar. Sócrates e o PS passarão de não a “nin” e depois a sim lá para o meio de Setembro, altura em que teremos novas eleições no horizonte, novo orçamento de estado conforme determinado pela CE e que terá em perspectiva 3 eixos fundamentais: a desmontagem do sector público, a flexibilização da contratação e despedimento e a remontagem do Estado Social na óptica de quem se está borrifando para o país. Por razões de coerência interna, Sócrates não pode, imediatamente avalizar esta revisão e creio que não quererá tudo tal qual como está. Mas que gosta da ideia de liberalizar a pedra no sapato que representa os trabalhadores da Função Pública é inegável. Não há espaço para reformas enquanto existir um se

Os 98 Mandamentos – 1º Episódio

Contrariamente ao que se esperaria, vejo o projecto do Dr. Passos Coelho de uma forma desassombrada. Chamo-lhe projecto de Passos Coelho porque não reconheço possibilidade e viabilidade da sua aceitação no seio do seu partido (em certos aspectos até acho mais crível o PCP discuti-lo do que algumas luminárias deste partido inenarrável a que Passos Coelho pertence). Em primeiro lugar agrada-me que um político assuma ao que vem. São detestáveis os errantes e os que ocultam cadáveres: ficamos a saber da profissão de fé neo-liberal do actual suposto líder do PSD. Em segundo, colocou a discussão numa área em que a Democracia portuguesa nunca foi clara: queremos ser liberais, socialistas, sociais-democratas? Ou só às vezes? Ou se calhar nada disso? Afinal, que modelo de sociedade queremos construir, uma que não seja meias tintas, provisória e ocasional, às vezes sazonal e tipicamente incoerente. Pena que se servindo da Constituição e de um momento profundamente inoportuno o coloque (mas se ca

O Estado – Preguiçoso

Quando escrevi sobre “ Os cinco cenários da economia mundial após a crise dos mercados ” apontava para um conjunto de circunstâncias que envolveria a resposta ou não resposta dos Estados à crise e presumia sempre um Estado activo na construção política. Com boas ou más decisões, o modelo tinha por ponto de partida um Estado pró-activo ou reactivo, capaz de encetar medidas comuns à escala mundial e regional mesmo que em tempos diferentes ou isoladas. No pior cenário a construção assumia um modelo de execuções dispersas. Não contei com o cenário da inacção dos Estados, mea culpa . Assumi sempre que a política poderia jogar um papel de relevo, mesmo que encetando acções inequivocamente favoráveis a manutenção de um sistema morto. A inacção dos Estados (do Estado português em particular) corresponde não a uma surpresa mas sim a uma preocupação efectiva. Em primeiro lugar porque o modelo de recuperação assenta na evidência da sua falta de envolvimento na estrutura do país. O Estado portu

Os feriados do gozo

Geralmente não comento estes “enchidos” que apenas servem para desviar a atenção do essencial, mas como este é divertido, não resisti. Este assunto (é assunto?) parte de 3 premissas: 1- A relação entre a produtividade e as “pontes”; 2- O excesso de feriados nacionais e a produtividade; 3- A presunção de que uma regulação desta natureza promove a produtividade. Como a produtividade é a palavra-chave deste raciocínio, vamo analisar o tema. A dita cuja produtividade está relacionada com três coisas essenciais: conhecimento, meios e organização. Um trabalhador bem formado na área de desempenho que ocupa (englobando nesta formação o civismo, a responsabilidade e a preocupação com o bem comum), apetrechado com os meios e ferramentas necessárias ao desempenho do lugar que ocupa e inserido numa estrutura coerente e organizada é produtivo. As perdas de produtividade provocadas por inadequação nos três factores pode redundar em valores variáveis, até a ausência total de resu

O professor e o seu delfim

“Cada vez queremos ter mais direitos, o que reproduz um estado de espírito que olha para a realidade com uma visão unidimensional centrada nos direitos, escamoteando a sua contrapartida, ou seja, as obrigações. O presente e o futuro próximo estão e vão condicionar radicalmente esta perspectiva". Ângelo Correia, "Correio da Manhã", 15-06-2010 Alvitrando a sua chegada ideológica ao poder por via do seu delfim – situação deveras preocupante – Ângelo Correia já tem direito a expressões de destaque na imprensa. Esta frase (não é bem um sound bite) explica muito de um pensamento liberal – primitivo. Os direitos, se existem, são uma chatice. Esquece porventura que o fato de existirem direitos no papel não significa que o Estado ou os Cidadãos assegurem-no ou exerçam de pleno direito. A Greve, embora seja um direito de todos apenas é utilizada pela Função Pública e não por outros trabalhadores pelas razões que se conhecem. Não é pois um direito: é uma possibilidade remota.