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Mostrando postagens de abril, 2010

Dúvidas laborais (se não estamos a enlouquecer, já falta pouco!)

1.Um trabalhador pode recusar ser pago? 2. Um trabalhador pode achar que ganha muito pelo serviço prestado e devolver o dinheiro? 3. Não sendo possível devolve-lo, pode doá-lo? 4. Não sendo possível devolve-lo ou doá-lo é mesmo obrigado a aceitar? 5. Não sendo possível reduzir, devolver ou dar e não concordando com o princípio é obrigado a manter as suas funções? Não se pode demitir? 6. Sendo, a dada altura, pedida a devolução do que se ganhou por um organismo qualquer que nos pagou apesar de termos tentado reduzir, devolver ou doar, devemos de facto devolver? 7. Se não queríamos o dinheiro de início, será assim tão complicado devolver? Porque o gastamos se não o queríamos? 8. Se não o gastamos e vamos mesmo devolver, qual é o problema? 9. O que acontece quando, num grupo de pessoas, uns dizem que recebem muito e que querem menos, outros dirão “só isto!” e outros acham que não deve ser legal, preferindo não receber (porque afinal ha

Lei da Amnistia no Brasil: uma alternativa

Do negócio estabelecido em 1979 não vou comentar. Foi um acordo político para que os militares “autorizassem” o restabelecimento faseado da Democracia. Terá sido interpretado como o possível na altura, acreditando que os militares poderiam entrar numa aventura de quem nada tem a perder. Mas um acordo político que força a criação de uma Lei pode sempre ser objecto de revisão. Porque as políticas mudam, porque a visão apaixonada do tempo histórico extingue-se e a vingança não parece ser a questão central. Admitindo que a decisão de um Órgão de Soberania nacional é contrária a elementar justiça de todos os que sofreram não apenas a tortura mas a exclusão, a pobreza e a vilania de quem detém as armas e o poder e os meios de desrespeitar direitos elementares na impunidade, resta restaurar a memória pública aos injustiçados. A afirmação de Celso de Mello de que a Lei tem efeito bilateral roça o absurdo porque quem combate um regime político repressivo não pode usar o diálogo e tem de reagir

Alice no país da crise

7. A Mad Tea Party Juntaram-se às 20h15. O Ministro chegou atrasado. Coisas da chuva e das tarefas que o país precisa que sejam feitas. A meio do whisky, o Comendador dá-lhe as boas vindas. O Empresário A dá-lhe um grande abraço depois de voltar dos lavabos enquanto o Secretário de Estado saúda-o friamente por este não ter ainda despachado o assunto da empresa da esposa. Era uma coisa pequena, bem podia ter mandado avançar. Bastava-lhe um telefonema e a coisa marchava. Mas não, sempre aquela mania de nos ter nas mãos até o momento necessário… O Empresário B acena-lhe enquanto fala ao telemóvel para resolver aqueles investimentos no Brasil que precisam do aval do executivo do Maranhão. E rápido, que estas coisas de produtos alimentares tem de ser despachadas ou deixam de ser negócio. - Diz ao homem para despachar o desmatamento para começarmos a plantar, o mais tardar em Agosto! – Sentencia o Empresário B. - O Secretário de Estado, escondido por trás da longa ementa pergunta: Vão que

Alice no país da crise

5. Advice from a Caterpillar - Quem és tu? Perguntou a Lagarta. - Eu - eu não sei neste momento, minha senhora, - Sei quem eu era quando acordei esta manhã, mas tenho mudado muitas vezes desde então. - O que queres dizer com isso? Explique-se! - Eu não posso explicar-me", respondeu Alice, porque eu já não sou eu mesma! Receio não poder colocar isso de forma mais clara - respondeu Alice educadamente - porque eu mesma não consigo entender e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso. - Não é! , Discordou a Lagarta. - Bem, talvez a senhora ache isso - afirmou - mas quando se transformar numa crisálida – o que lhe acontecerá um dia - e então, depois disso, numa borboleta, a senhora irá sentir-se um pouco estranha, não acha? - Nem um pouco, disse a Lagarta. - Bem, talvez os seus sentimentos sejam diferentes, rematou Alice, o que eu sei é que tudo é muito estranho para mim. - Tu! Disse a Lagarta com desdém, Quem és tu? Voltamos ao princípio. Alice sentia-se algo irrit

Alice no país da crise

3. A Caucus-Race and a Long Tale O que fazer quando todo o nosso esforço de adaptação e normalização não resulta, quando todos os sacrifícios e sofrimentos das transformações não são suficientes? Faz-se eleições, pois claro! Confrontados com a necessidade de se organizarem para secarem o corpo, o mais estúpido animal (por sinal extinto 200 anos antes de Lewis Carroll dar corpo a este livro), dotado de dois pés esquerdos e incapacidade de voar decide que todos devem fazer uma corrida eleitoral. Decide que todos devem! O realismo da decisão está na exacta proporção do inconsciente colectivo. Não há regras excepto andar aos círculos! Tem Lógica, mas nenhum bom senso. Finda a corrida, constata-se a vitória de todos os envolvidos (onde foi que já ouvi isto?). É uma posição de bom senso (relativizar a derrota) mas de nenhuma Lógica. Admitindo a vitória de todos não há dialéctica possível, enfim, estamos todos no mesmo barco e o caminho é sempre o mesmo. Então para que as eleições? Há, poi

Alice no país da crise

2. The Pool of Tears Alice cresce de forma desmedida. Por ter fome, como o bolo até ter 9 metros de altura. O tamanho não lhe permite entrar no jardim. Não está “adaptada”. E chora na proporção do seu tamanho. Chora muito. E forma um lago de lágrimas. Na proporção de Alice, são umas gotas, mas a outra realidade, a realidade por onde passa o Coelho Branco ou essa mesma realidade de Alice antes de se tentar adaptar? Afinal, porque chora Alice? Pela adaptação mal feita? Por ter abandonado a sua realidade na tentativa de se adaptar e chegar a outro estado que também não é alternativa? Mas o que esperaria Alice? A forma perfeita? Por sorte o Coelho Branco, antes de fugir (novamente) larga um recurso: o leque. Este pequeno objeto nas mãos da desproporcionada Alice serve para que ela se refresque do calor ou do seu sofrimento. Como por magia, a brisa do leque foi encolhendo Alice. Mais uma ação aparentemente ocasional provoca a mudança. A mudança foi tão súbita que Alice quase desapa

Os fantasmas existem!

Baltazar Garzón está no banco dos réus. O objectivo de julgamento da memória espanhola do franquismo esbarrou no óbvio: não se pode julgar quem nunca saiu efectivamente do poder. Nem revolução, nem estabelecimento de regimes democráticos, nem aquisição de liberdades. Não podemos pensar que podemos eliminá-los Como ferrugem ou caruncho, colam-se à existência e assim vão, corroendo com mais ou menos virulência, dependendo das condições do momento. Uma vez agarrados a estrutura nunca desaparecem. Podemos controlar, mas nunca extingui-lo. E quando se pede justiça, reaparece, a defender os supostos “valores universais” de que tanto gostam e tão pouco respeitam. O depoimento de Hilda Farfante diz muito do que sentem as vítimas: culpabilizam-se. Pouco importa que tivesse 5 anos na altura, que nada pudesse fazer. Pouco importa saber qual a ideia de Baltazar Garzón: um povo tem de acertar o passo com a sua história, sob pena de deixar para trás assuntos por resolver e que moem infinitamente.

Alice no país da crise

The rule is, jam tomorrow and jam yesterday - but never jam today. “- A questão é - disse Humpty Dumpty - quem é o chefe – isto é tudo.” Lewis Carroll Quando comecei este texto ainda não sabia da posição da União Europeia face ao PEC. O que não muda absolutamente nada do que ia fazer. Ia falar sobre a Alice, essa mesma que caiu no buraco quando perseguia um coelho maluco. Essa, que conhece a crise melhor que nenhum outro personagem da literatura. Toda a história aponta para o drama vivencial de procurar uma lógica para tudo: os nossos actos, omissões e palavras; para o drama de crescermos e constantemente necessitarmos de formatar a lógica à Lógica que se adultera a cada lógica, mesmo que sem lógica. Confusos? Então estão no caminho certo. Alice viveu a crise e sobreviveu. Não a mesma Alice, outra Alice que mudou porque viveu e jurou não esquecer até o dia em que não mais se recordar. 1. A Queda Retomando a história, a personagem vai (cai?) num pequeno país quando perseguia um