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Mostrando postagens de maio, 2010

BRIC e a construção política do novo século

Advogar a relevância das potências emergentes é um lugar comum nos dias de hoje. No entanto o argumento sobre o qual é construída a sua importância tem algo de falacioso, uma vez que obedece a uma lógica construída em vectores que se comprovam, dia após dia, serem errados. A valorização destes países tem a ver com o crescimento demonstrado na última década, potencial económico e dimensão dos recursos. Todavia é uma precipitação arvorar a sua importância exclusivamente nestes critérios. O mais relevante nos BRIC é a sua saída da dependência tecnológica e intelectual e a descoberta de que não necessitam das “antigas potências” (correndo o risco de datar a influência dos Estados Unidos e Europa que ainda perdura em alguns domínios mas que vai esmorecendo e apenas se mantém – no caso americano – enquanto ameaça bélica). A isto soma-se uma visão pragmática do momento o que lhes faz saltar sobre inúmeras condicionantes políticas, aproveitando o momento e o lugar para a cada passo conqui

Alice no país da crise

6. Pig and Pepper Alice contempla os lacaios e o cerimonial à volta dos convites. O protocolo, as regras que nos permitem avançar e encontrar o lugar na estrutura. Afinal, Alice ia entrar numa casa da nobreza e lá dentro espera-se encontrar a altivez, a educação no mais alto grau. Talvez que o seu erro tenha sido entrar pela cozinha, o reino da plebe. Afinal, a família é um mistério confuso quando dentro de portas e não a paisagem que transparece. A Duquesa desvia-se da loiça atirada pela rebelde cozinheira que atasca pimenta na atmosfera. Faz o serviço e protesta. E há o gato e o sorriso soberano, à prova de qualquer circunstância; sedutor e felino paira pela casa como se tudo fosse normal e adequado. Tudo é normal e adequado quando assimilado pela estrutura. A Duquesa larga a criança nas mãos de Alice e vai se divertir, sem se importar se o choro é sofrimento ou dor. É normal, está na estrutura. Repete-se. Talvez por isso o nobre bebé passa a porco e apenas surpreenda Alice. O gato

Alice no país da crise

4. The Rabbit Sends in a Little Bill O Coelho Branco manda Alice fazer um serviço. Porque não se trata de um favor e sim uma ordem teremos de considerar um serviço. Não falaram de vencimento, duração, direitos e deveres. Muito provavelmente será uma prestação temporária a recibos verdes. O serviço é simples mas obriga a responsabilidade: tem de entrar na casa do Coelho. Isso poderia significar que o processo de adaptação estaria completo. Não. Tudo nesta vida e na vida sem Lógica obriga a avanços e recuos de maneira a nenhum processo estar verdadeiramente concluído antes de desaparecer o sentido da existência do processo em si. Chegada à casa, o apelo da ordem inscrita na garrafa é inevitável. Alice bebe e agiganta-se. Ocupa toda a casa e nem o servo do Coelho Branco, o lagarto Bill consegue lá entrar. Esta ocupação sindical e insubordinada no estrito cumprimento da ordem exarada pelo rótulo da garrafa irrita o proprietário Coelho. À falta de policiamento, recorre à pedrada para ex

Alice no país da crise

8. The Queen's Croquet Ground Afinal, o jardim de toda a beleza é governado por um baralho de cartas! E cada uma cumpre o seu papel estratificado. Há tirania e submissão, há repressão e morte. O encantamento quebrou-se e a falta de Lógica desaparece. Tudo permanece exactamente da mesma forma. Sofremos e perecemos. O jardim é um encantamento precário até abrirmos os olhos e tocarmos a realidade. O jogo que é obrigada a jogar acaba por ser a representação de todo o absurdo da tirania: cada incoerência e caos são estritamente controlados pela Ordem de um poder absoluto que não encontra forma de preencher a solidão. São os impulsos de um tirano temperamental que desgovernam o sentido colectivo e a inútil procura da coerência uma perda de tempo. O único espaço possível é a rebelião e a morte. Arriscar perder a cabeça. Sonhar outro jardim.