Pular para o conteúdo principal

O Saldo de Copenhaga

Extinguem-se as últimas esperanças de que a conferência consiga atingir um consenso alargado sobre o clima e as necessárias intervenções para salvar o planeta de uma catástrofe anunciada nos últimos 30 anos.

No geral, teremos mais 30/40 anos de alguma qualidade ambiental. Depois disso não se sabe o impacto da extinção de recursos naturais e da escassez ou perda de qualidade dos restantes.

Há uma consciência global sobre estas matérias? Não. Trata-se ainda de uma preocupação dos países ricos (os maiores contribuintes para o estado actual do planeta) e dos países em crescimento (que querem chegar ao estatuto de delapidadores que os primeiros detém).

As principais vítimas têm de lidar com a fome, a guerra, a falta de Direitos, de água e de esperança de vida. Os problemas climáticos são sentidos mas não são inteligíveis para quem tem a sobrevivência quotidiana como problema central.

Politicamente o tema é inoportuno, seja pela recessão global de um capitalismo que não se ajusta a este século e que precisa de rapidamente reformar-se (coisa de que não lhes será difícil fazer porque, apesar de terem levado à bancarrota e pobreza a todo o lado, continuaram intocáveis e a ter aumentos muito – mas mesmo muito – superiores à inflação!), seja porque vivemos tempos estranhos em que as liberdades individuais e os direitos agonizam na égide de um pretenso perigo à segurança e onde tudo é rastreado, filmado, controlado e censurado de forma policial e escrutinado por opiniões dominantes através dos media.

Mas sobretudo o tema da ecologia incomoda as classes dirigentes por duas razões: os fenómenos naturais não são “controláveis” por políticas ou comunicação e o resultado de qualquer acção concreta neste domínio pode não apresentar qualquer impacto de curto prazo, logo inútil à manutenção do poder.

Para além disso, as principais consequências visíveis das alterações climáticas se reflectem nos países mais pobres, para já. E não existindo na Europa nem na América é apenas um mero assunto de telejornal, com muita solidariedade verbal pelo meio e uns concertos musicais de angariação de fundos.

Se mais alguma prova de que o processo de Globalização mais não é de que um fenómeno de dominação política e económica de determinados grupos e interesses, a Conferência provou-o a saciedade e não restam dúvidas de que o protelamento de políticas globais de preservação e de recuo na exploração de recursos naturais não interessa a ninguém que lá estará na sessão final.

O que está em cima da mesa mais não é de que uma perversa contabilidade ambiental de emissões poluentes sem equacionar o que verdadeiramente se utiliza nessa produção e um modelo de funcionamento da sociedade que não pode continuar.

Tudo o que farão é congratular-se por um acordo invisível que será o mote para inúmeras vigarices estatísticas nos tempos futuros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

2013: O que fazer com um ano inútil

Resumindo tudo e contra a corrente de louvor papal, o ano de 2013 teve como figura principal o conflito e poderia ser retratado por um jovem mascarado a atirar pedras contra a polícia. Nunca como em nenhum outro ano a contenção policial foi necessária perante a ordem de injustiças, desigualdades, nepotismos, etc., etc. etc. Os Estados deixaram de representar os povos, as nações estão a ser desmontadas e os grandes interesses financeiros instalam-se com uma linguagem musculada sobre o mundo, definido as barreiras dos que tem e dos que estão excluídos deste novo mundo que se desenha, ficando ainda umas réstias por eliminar mas que se mantem enquanto necessárias. Neste mundo conturbado onde grandes interesses se disfarçam, de Estado (Rússia, China ou Coreia, por exemplo) e onde o Estado foi substituído por interesses específicos de natureza transnacional (Portugal, Grécia ou Itália) ou aqueles em que o Estado é uma fachada de recurso (EUA) para interesses particulares. A dívida, a crise,...

Billy Bragg - Internationale

Há muito para aprender neste mundo!

Balanço e Contas: 2 anos de governação

Ao fim de 2 exaustivos anos de governação importa fazer uma reflexão não sobre os atos do governo mas sim sobre o comportamento da sociedade em geral relativamente ao que se está a passar. Para faze-lo, importa ter presente algumas premissas que a comunicação social e as pessoas em geral insistem em negligenciar e a fingir ignorantemente que não são as traves mestras do comportamento governativo: 1. Este governo não governa para os portugueses nem para os seus eleitores; 2. Este governo não pretende implementar qualquer modelo económico. Pretende apenas criar a rutura necessária à implantação de um; 3. A sua intervenção orienta-se por uma falsa perceção de que a sociedade portuguesa entrou em rutura com o socialismo e as conquistas sociais do 25 de Abril; 4. Para agradar credores e cair no goto do sistema financeiro que irá propiciar empregos futuros a quem for mais bandalho com o seu país, usou o medo para tornar a mudança incontornável, culpando e responsabilizan...