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Democracia: créditos e débitos

Confiança na democracia bate no fundo

O estudo não apresenta número, nem a notícia ficha técnica. É difícil formatar uma opinião sem saber que realidade foi estudada.

No entanto algumas conclusões (bem ou mal tiradas) merecem reflexão:

1. Eleitorado alinhado à esquerda: Não sendo de espantar é bom que se tenha verificado. O perfilamento partidário não é suficiente para o comprovar e talvez o estudo tenha avaliado por outros segmentos esta questão. Falta clarificar que "esquerda" é essa que se apresenta, qual a dimensão existencial destas esquerdas (sim, são muitas) e o que têm em comum. Arrisco a dizer que se trata de um humano desejo de igualdade, justiça e liberdade e de uma sociedade sem grandes assimetrias. Se a base for esta, estamos perante um desejo que não é manifestamente exclusivo à esquerda e tem origens burguesas o que não é mal em si. A percepção de que, pela direita política, estas crenças ficam mais distantes de serem alcançadas é, no entanto, verdadeira no nosso país.

2. A aversão a maioria absoluta de um só partido: Não se tem verificado com frequência. Desde a AD, PSD e PS, todos tem tido condições de maioria governativa, coisa que de facto nenhum partido em Portugal merece. A percepção de que a divisão de poder deve ser aplicada tem falhado nas urnas. No entanto, penso que se tem verificado uma viragem neste capítulo que poderá a médio prazo resultar numa mudança junto dos partidos, obrigando-os a abandonar o modelo salazarento (que o país já abandonou e os partidos não perceberam) do “follow the líder”.

3. Os deputados "laranja" estão mais à esquerda do que o seu eleitorado. E quem vota CDU ou Bloco posiciona-se mais à direita do que os seus representantes no Parlamento: E volto à questão inicial: o que é esta esquerda? Será a esquerda portuguesa mais conservadora do que a suposta direita? Há uma esquerda rural e uma esquerda urbana? Por outro lado, a direita portuguesa, não apresenta qualquer vislumbre de algo moderno e contemporâneo. As suas figuras são serôdias, conservadoras nos costumes e políticas, demasiado subservientes aos saudosos do Estado Novo e da Opus Dei, o que aumenta o volume da presunção de uma esquerda maioritária porque ninguém no seu perfeito juízo quer ter alguma coisa a ver com esta imagem.

4. Os portugueses estão muito insatisfeitos com a democracia: Não acredito que seja com o sistema mas sim com os seus representantes. A forma como as instituições do Estado se comportam, as políticas de interesse em Institutos, Fundações e Comissões, a demissão do jornalismo que se coloca – ele próprio – como centro do debate e de um estrelato que não deve ocupar e o desregramento total da Justiça, em roda livre. Isto não é a falência ideológica da Democracia: é o desvirtuamento humano e tem tratamento. Qualquer pessoa adulta prefere poder escolher a ter um pai tutelar a orientar-lhe os caminhos e é preferível errar do que não tentar.

5. “…os partidos tornaram-se meros instrumentos dos seus líderes": Esse sim o grande combate a realizar e que poderá fazer com que os partidos possam sobreviver mais uma década. Ou deixam de ser o coro de um caudilho e passam a defender ideias e posições ou pelo menos arranjem uns líderes bonitos (as). Todo líder partidário deveria deixar de usar a 1ª pessoa do singular.

Uma palavra final para a proposta de modificação do sistema eleitoral e os círculos. O sistema, método ponderado e critérios legais são bons. Temos é de obrigar os partidos a cumpri-los na íntegra e sem reservas. A suplencia, substituições e outras manobras tem de ser erradicados. Mas isso é uma tarefa nossa.

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