4. Modelo e princípio
A administração americana sempre quis consolidar as suas posições na região.
Com a queda do regime soviético que provocou a extinção do “policiamento” da zona, os Estados Unidos percebeu (e havia informação nesse sentido) que a região não poderia ser deixada ao livre arbítrio.
Fruto da má experiência com o Irão (regime que não conseguiu controlar), os anos 80 trouxeram a certeza de que a zona deveria ser vigiada.
Na primeira fase, ainda com a União Soviética envolvida, a Inteligência Militar americana achou por bem ter aliados na zona, crendo que o modelo aplicado na América Latina poderia ser desenvolvido da mesma forma. Arregimentou, armou e preparou apoiantes na zona, como Saddan e Bin Laden, para citar os mais mediáticos.
Enquanto a América se limitou a arma-los, ignorando interesses de longo prazo, não se incomodou com a crueldade de ambos.
Mesmo quando Saddan invadiu o Kuwait numa guerra combinada para aumentar os preços do petróleo, sob a promessa de que o seu país não seria invadido e a troco provavelmente de alguns milhões num paraíso fiscal à escolha, nunca pensou retirar o ditador.
Passada quase uma década a eliminação de Saddam – o grande aliado – era inevitável.
Saddam desapareceu, ao que se supõe enforcado tanto quanto mostra a gravação manhosa que passou para a imprensa.
Por seu lado, Bin Laden passou a prescindível.
Os mujaedins foram assim deixados por conta própria no seu território e da desordem resultante da saída do invasor russo emergiu o até então o não valorizado extremismo islâmico.
Tomarem conta do país foi a consequência lógica da ausência de alternativas, recursos e acompanhamento político.
Ficava assim o Irão entalado entre um Paquistão caótico, um Afeganistão perdido na sua própria dimensão tribal e um Iraque destruído e ocupado.
Seriam estes os objectivos da América? De todo.
Do ponto de vista económico, a América pretendia atingir a estabilização da zona para a adequada exploração e comercialização do petróleo, deixando um certo indeterminismo político que poderia utilizar para provocar flutuações de preço no crude, quando necessário. Também procurava a estafada estratégia da instalação de governos pró-americanos subordinados à lógica Ocidental para introduzir as estratégias de Globalização económica e harmonização de consumos, alargando os mercados multinacionais.
De uma forma interdependente, a estratégia produziria outros efeitos a partir da integração das lógicas do capitalismo como, por exemplo, no domínio social com a introdução de padrões e valores de vida Ocidental como forma de atenuar a influência islâmica, harmonizando comportamentos sociais entre os jovens e mulheres, dissimulados na visão subjectiva de que tem direitos e devem lutar contra uma sociedade feudal (o que até poderia ser um bom princípio, não fosse isso apenas uma instrumentalização).
A “revolução” adviria do aumento dos padrões de consumo e consequente dependência económica como forma de reduzir a contestação, tornando decadente o tradicional.
No plano politico, a criação de Democracias, com os mesmos modelos e instrumentos das congéneres Ocidentais, de forma a promover a harmonização política global, a manutenção de lideranças estáveis e não hostis ao Ocidente adjuvadas pela lógica militar da dependência de armamento como forma de endividamento estratégico, assegurando assim as vias para a implantação de bases militares e a presença geoestratégica na zona, condicionando a acção do Irão ou de outros lideres que se atrevessem a perturbar o “negócio”.
A América não é credível na zona não apenas por lidarem com uma realidade diferente mas porque pensam que a irredutível lógica da dependencia e do consumo funcionariam na zona e que a sedução de um presente e futuro fácil pode ser vendido acima das crenças.Não será fácil recuperar a dignidade.
Resta a América usar a chave que pode abrir a porta.
E essa chave chama-se Israel e o problema Palestiniano.
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