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2013: O que fazer com um ano inútil

Resumindo tudo e contra a corrente de louvor papal, o ano de 2013 teve como figura principal o conflito e poderia ser retratado por um jovem mascarado a atirar pedras contra a polícia. Nunca como em nenhum outro ano a contenção policial foi necessária perante a ordem de injustiças, desigualdades, nepotismos, etc., etc. etc. Os Estados deixaram de representar os povos, as nações estão a ser desmontadas e os grandes interesses financeiros instalam-se com uma linguagem musculada sobre o mundo, definido as barreiras dos que tem e dos que estão excluídos deste novo mundo que se desenha, ficando ainda umas réstias por eliminar mas que se mantem enquanto necessárias. Neste mundo conturbado onde grandes interesses se disfarçam, de Estado (Rússia, China ou Coreia, por exemplo) e onde o Estado foi substituído por interesses específicos de natureza transnacional (Portugal, Grécia ou Itália) ou aqueles em que o Estado é uma fachada de recurso (EUA) para interesses particulares. A dívida, a crise, são apenas um esquema. Daí que o que ainda não fez com que as democracias desaparecessem totalmente foram os manifestantes de rua e os sistemas judiciais que confrontam as leis do Estado contra a trupe sem escrúpulos instalada. Este ano teve 3 eixos de crise: A Europa e a pretensa recessão arquitetada para compensar as perdas do sistema bancário e para fazer ruir o Estado Social europeu, escravizar Estados independentes e baixar custos salariais como estratégia competitiva. Este tipo de crises na Europa coincide com a emergência da extrema-direita com as consequências habituais na estreita consciência europeia; A Primavera Árabe que encurralada em contradições entre a extrema modernidade e o repugnante conservadorismo não se conseguem estruturar, tornando-se assim pasto para o seu enfraquecimento promovido por Israel e Estados Unidos que na vertente diplomática apoiam as “democracias” que tardam em se estruturar e simultaneamente incendeiam com o integrismo islâmico e Al-Qaeda (de quem são obviamente comparsas) de forma a fragilizar toda a zona. A América Latina e a suas intangíveis contradições entre modelos de mercado e socialismo cristão, tentando criar uma força emergente que crie ruturas positivas com a forma com as Democracias Ocidentais se estruturam. Através do desenvolvimento de uma massa critica e uma classe média politicamente envolvida como forma de evitar modelos autocráticos de governação onde o povo só será chamada à uma legitimação formal e profundamente condicionada nas escolhas pelos media e demais sistemas de dominação ou, em alternativa, desenvolver fenómenos messiânicos populares cuja sobrevivência é duvidosa pelo estreitamento da visão política. Todas estas experiências esbarram na impreparação dos modelos por duas ordens de razão: a expetativa excessiva de que a riqueza será distribuída de forma razoável no curto prazo e pela omnipresença do capitalismo e dos seus generais. Flutuando entre estes eixos que eventos ficam deste ano miserável e esquecível a vários níveis? 12 Fevereiro: Renúncia de Bento XVI e a “revolução” das batinas começa. A “reforma silenciosa” das questões económicas e da política sinistra de virar a cara sempre que há problemas com a sexualidade cristã, mais cedo ou mais tarde, teriam de chegar. A igreja precisa de modernização de princípios e atualização de critérios sob pena de desaparecer. 05 Março: Morte de Hugo Chávez. Não era um Kim-Jon Il tropical, não era Fidel). Era bolivariano e fez à sua maneira o Juramento de Monte Sacro. O cerne era a independência e autodeterminação e, algures, num recôndito segredo a mais perigosa das ideias: a união latina da América do Sul (que exclui o Brasil mas namoraria sem duvida a Argentina e o Chile). Sem ser um visionário, transportava uma chama. Nem tudo era lucidez, nem tudo era coerente. Infelizmente parece que se mantem a aparecer em grutas, nuvens e outras formas da natureza. Podia ser pior. 13 Março: Jorge Mario Bergoglio torna-se Papa Francisco 15 Março: Guerra civil da Síria faz 2 anos, 700mil mortos e mais de 1 milhão de refugiados 19 Março: Comemoram-se os 10 anos de invasão do Iraque e apesar de todos os meios e informações disponíveis ninguém quer dizer o real número de mortos (civis e militares) deste genocídio e ninguém quer somar as que ainda se produzem por força da utilização de munição “enriquecida” com uranio “empobrecido”. 08 Abril: Contrariando a profunda solenidade da extrema-direita e dos seus acólitos neoliberais e as homenagens de Hollywood (até fizeram um filme de idolatria), milhares de fãs do Liverpool, de Manchester e da Argentina viveram um dia de festa pelo fim de mais uma excrescência desnecessária. Morta e esquecida, convém ser lembrada apenas para não repetir. 15 Abril: Atentado na Maratona de Boston provando que o mundo que criamos está errado. Quando 2 jovens que podiam estar a fazer outra coisa para matar o tédio, transformam um momento de alegria que todo o desporto possui numa alegoria ao desprezo como conduzimos e tratamos a vida humana, num massacre sem sentido. Compreendo aqueles que destroem alvos políticos, militares e económicos. Não compreendo o abate sistemático de civis. Se os maluquinhos de serviço querem brincar às bombas, ao menos acertem em alguma coisa que valha a pena. 11 Maio: México Movimento #yosoy132 http://www.youtube.com/watch?v=oVvju2E3qcc Depois da morte de Mandela, todos os meus heróis tem menos de 25 anos. Este movimento toca o essencial: a mudança dos media, a eliminação dos monopólios da informação ou no limite, deixar de consumir as noticias preparadas para a opressão, instalação do medo e aceitação de fatos criados ou inventados. E o que é bom para o México é bom para muitos países doutros continentes. 06 Junho: Início viral dos protestos no Brasil com o aumento do transporte público que se prolongam até final de Julho. Começando por uma questão do preço, rapidamente se transformou numa manifestação de massas de uma sociedade muito desigual, cujo crescimento económico não corresponde a distribuição como em todas as economias de mercado de pendor liberal. Ora, o que acontece é que o Estado brasileiro irá gastar um volume absolutamente imoral em estádios e infraestruturas olímpicas e para o fazer necessita do contributo dos mesmos pobres e remediados. Cansa, é chato, é sempre igual. No mundo, as pessoas vão ficando fartas. Muita coisa vai mudar até o fim da década e não da forma mais pacífica. 09 Junho: Edward Snowden denuncia através da imprensa como os EUA espiona os sistemas de comunicação no mundo. Perguntas: São só eles? Quem mais faz? Como os diferentes Estados “democráticos” Ocidentais indignados fazem este mesmo controlo? Como assediam e contornam os contratos privados entre clientes e empresas para realizar escutas, devassas na vida privada para controlo pessoal para perpetuar os seus lugares, tachos. Quantos diretores e subdiretores deste Portugal por terem pertencido a determinadas polícias mantem amicalmente registos e escutas a pessoas menos fiáveis às suas psicoses, manias ou alcoolismo? 30 Junho: Golpe estado Egito derruba governo eleito da Irmandade Muçulmana. Independente das dúvidas que tenho sobre a validade desta aposta popular, fatos são fatos e era um governo eleito derrubado por militares que de há muito se encontram subornados por Israel e do qual recebem prebendas de diversa natureza. Para além disso não vi qualquer esforço de países ocidentais em vender armas aos egípcios para combater a tirania. Cada um tem a Síria que bem quer. 03 Agosto: Sai a sorte grande a Obama e o Irão passa a ter como Presidente Hassan Rohani. A aproximação irá até à letra N de nuclear. Depois, voltamos ao mesmo. 06 Agosto: A Amazon compra o jornal Washington Post. Que tipo de informação haverá na próxima década? Penso que não serão diferentes dos atuais folhetos do Continente. 27 Setembro: Uruguai liberaliza o aborto até a 12ª semana de gravidez. Estamos a falar de um país católico. Que reconhece a mulher tal direito. Nunca é demais recordar que não é uma questão feminista mas sim feminina. 15 Novembro: Réus do julgamento do mensalão, no Brasil que tiveram prisão decretada se entregam à polícia para cumprir as penas. Espero que sirva de exemplo a todos os envolvidos nos casos BPN, BPP, Submarinos, os outros todos que envolvem o BES ou associados. Mesmo entregarem-se parece-me mais fáceis do que serem condenados… 21 Novembro: Viktor Yanukovich, presidente da Ucrânia, decide abandonar o acordo político comercial com a EU e aceitar o apoio russo a economia deste país. Apesar de toda a envolvente do problema, não posso deixar de pensar que há algum bom senso nesta atitude, sobretudo porque a Europa, à última da hora resolveu desviar-se do Acordo pela sua inamovível posição de apenas negociar Acordos bilaterais. Avisadamente, o presidente da Ucrânia não quereria perder a presença de Moscovo. Há toda uma história, religião, parcela da população que é partilhada. Desmantelar esta relação de uma assentada poderia ter consequências negativas. Mas a Europa é especialista em deixar os estados bálticos de chapéu na mão. 05 Dezembro: Morre Nelson Mandela. Foi penoso ver as cerimónias de homenagem – algo a que Mandela certamente não iria. Sinal dos tempos: o que ficou de tudo isto foi um selfie entre um político abstrato, uma promessa remelosa e uma líder de um Estado que joga Hóquei no gelo e um tipo que abanava as mãos de forma não comunicacional. 10 Dezembro: O Senado do Uruguai (outra vez!) aprovou a proposta de legalização da marijuana, que prevê o seu cultivo, distribuição e comercialização, tornando-se no primeiro país do mundo a permitir a liberalização. Do jeito que o mundo vai se calhar é sensato e profilático. Esperam-se os resultados efetivos desta medida relativamente ao tráfico, justiça e sociedade.

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