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Uma estratégia única para Iraque, Paquistão e Afeganistão

7. Desenvolvimento humano

Voltando a tríade (Aproximação/Participação/Pacificação) que orienta este modelo, há componentes essenciais sem as quais a noção de intervenção militar perde qualquer sentido.

Torna-se decisivo lançar a ponte entre Ocidente e Oriente, não no plano diplomático ou político, mas no cultural, social e económico.

Porque as iniciativas políticas e diplomáticas foram sempre o cemitério das relações entre os dois lados do mundo. De um lado, o oportunismo pessoal ou local, o servilismo a troco da ostentação e poder, do outro o financiamento a gente submissa e néscia, a manutenção de poderes fátuos à custa do apoio ao real desenvolvimento dos países e a manipulação permanente entregaram o Médio Oriente a fundamentalistas porque ambas as partes sonegaram e desrespeitaram o impacto da religião no território.

Construir uma nova relação passa em larga medida pelo envolvimento da sociedade civil do Ocidente com a embrionária semente social destes países.

Isto porque os povos só se podem aproximar na medida em que os seus movimentos sociais de valor mútuo consegue desenvolver-se. A necessária relação entre as pessoas e instituições é o primeiro passo para o desenvolvimento. A política surge depois.

Este caminho não poderá ser trilhado sem contradições e percalços que devem ser assumidos como necessários. Num mundo já no Sec. XXI, a caminhada das sociedades destes países terá de ter passos apressados mas não impossíveis.

A mobilização para a informação e o conhecimento são a chave para a mudança.

Deste modo, creio que a realização de algumas acções nesta área poderão promover um novo caminho e uma mudança coerente, sentida e emanada do próprio interior.

Os universitários ocidentais no Oriente: Até agora o modelo vivenciado pelos jovens universitários tem a ver com bolsas de estudo e frequência em Universidades fora do seu país.

Esta estratégia pode ser enriquecedora mas é isoladora, contrastante e profundamente cruel para alguns que chegam a um munda de abundância e desperdício, vindos de um outro mundo precário e sofredor.

Tal como as Forças Armadas estão presentes, as forças do saber devem acompanhá-los. As grandes Universidades e Colégios americanos deveriam instalar-se na Região, participando no ensino e preparação dos jovens do Médio Oriente. O seu quadro docente (presumindo a manutenção de standards de qualidade) seria um misto de raças e credos, alimentando diversidades de formas, opiniões e atitudes.

As regras de funcionamento poderiam variar entre o espaço de liberdade (onde não estariam presentes nenhuma regra de qualquer religião) ou que contemplassem a presença religiosa.

Invertendo o processo, seria positivo que também os Ocidentais frequentassem estas Universidades (a colocação de professores - chave poderia ser um passo).

A insegurança seria um problema extremo. Daí que, numa primeira fase, seriam introduzidos pequenos cursos de curta duração, Seminários, Congressos, etc. até ser atingido o momento de instalação.

As vantagens são evidentes. Criação de cérebros, gente formada na vivência da diversidade, a demonstração de que o Saber e a Tolerância geralmente andam a par, o cruzamento de informação divergente e a sua integração na experiencia individual.

Trata-se do alicerce fundamental para os passos seguintes.

A escola: Este é o único local onde se vencem batalhas e onde se opera a derrota total. Tão ou mais importante do que vigiar as fronteiras é a formação do futuro de uma nação. E no mundo islâmico este é um ponto decisivo. Laicizar o ensino poderá ser possível em alguns locais e não noutros, mais simples nas cidades que nos meios urbanos, de fácil aplicação em algumas etnias e impossível noutras.

Evitar que, num plano ideal de desenvolvimento do ensino, a sociedade não cresça a duas velocidades (o que, na prática, significaria a perpetuação de diferenças e dos consequentes resultados) é o grande desafio.

Como respeitar a presença da religião e formar pessoas na liberdade? Como ter escolas sem divisões de raça, sexo ou classe?

A única alternativa que vejo é a criação de uma escola a dois tempos isto é, um ensino básico de seis anos onde o respeito pela religião e a aceitação das divisões seja inevitável. Depois, um ensino secundário a dois tempos. Um Técnico-profissional de mais quatro anos, que obriguem a saída do local de residência, funcionando em regime de internato e onde as cargas horárias seriam tão extensas que o tempo destinado a religião seria mais curto; no outro, Técnico-Científico, a extensão das matérias e a preparação para o superior também ocupariam uma parte significativa do tempo.

O terceiro princípio essencial seria a liberdade universitária, ou seja, a aceitação de que todo o ensino superior seria laico.

Estas seriam as bases de reconstrução intelectual do país, da atenuação do aproveitamento religioso para a violência e a base para uma efectiva reconstrução social e económica.

Forjar massa critica: A incongruência das sociedades, a sua falência por nepotismo, corrupção ou simples indolência tem em larga medida com a inexistência de massa crítica e de movimentos sociais com voz e veículos de informação que permitam o alerta, o controle e a mudança.

Evidentemente, a existência de massa critica depende de um certo nível de formação académica e humana que só é possível atingir por via de uma distribuição de riqueza mais igualitária. São premissas que não poderão ser atingidas da noite para o dia nestes países.

Todavia, em qualquer um deles, há pessoas capazes de encetar correntes de opinião, há outras pessoas no mundo árabe e até muçulmanos no Ocidente que poderão acelerar esta etapa durante a próxima década e que, à medida que a formação universitária avançar, poderá ser consolidada.

O contributo dado por uma imprensa livre e responsável também é decisivo para esta acção, assim como o concurso da informação via Internet, blogues, etc.

Como proteger esses nichos, salvaguardar os seus direitos de reunião e opinião de forças que procuram o silenciamento definitivo? Para além da segurança normal, estes núcleos deverão beneficiar da sua existência em “áreas protegidas”.

De certa forma estes grupos aparecem já (ver ou participar no Young Leaders of Pakistan - Because Freedom of Speech is Important , no Facebook).

Há que proteger e incentivar estes jovens que querem construir o seu futuro com todas as coisas que todo o ser humano deve ter direito.

O saber e a valorização da história, do Islamismo e dos povos: Qualquer uma das nações aqui faladas possui uma história e um património intelectual e espiritual incomum, do mais profundo e interessante da Historia da Humanidade. Seria uma perda global se não considerássemos fundamental a valorização e salvaguarda de tal património.

O fabuloso contributo encontra-se disperso pelo Mundo nos museus Ocidentais e alguma desta riqueza monumental degrada-se.

É necessário um compromisso mundial para a recuperação do que existe e a remontagem do que se perdeu (os Budas do Afeganistão no vale de Bamyan deveriam ser reconstruídos mais como recuperação da memória e ostentação de um novo estatuto de liberdade e diversidade mais do que por razões históricas) e o regresso do que existe aos seus países de origem logo que a estabilização seja alcançada.

Um povo também se reconstrói no orgulho do seu passado.

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