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Asfixia Democrática e a Manobra de Heimlich

O termo mais usado durante a campanha eleitoral é incorrecto.


A Democracia não asfixia.


Deve ser entendida como o Bissolvon da expressão, como uma pastilha Valda da opinião ou um rebuçado do Dr. Bayard para os media.


Foi mal empregue e mal utilizado. Chamamos a asfixia a “qualquer situação em que o ar não chegue aos pulmões. Como consequência, o sangue fica sem oxigénio. Se não se actuar prontamente, as células do cérebro são privadas de sangue oxigenado provocando, de 4 a 6 minutos, a morte da vítima ou lesões cerebrais irreversíveis.” (citando a inefável Wikipedia).


Devemos pois encontrar outros termos para melhor significar o que se passa e separar as águas.


Liberdade de Expressão, até ver, todos tem. O facto de uma má jornalista deixar de fazer um telejornal ou um jornalista querer promover o seu livro criando um “fait divers” não chegam para marcar de receios a Liberdade de Expressão. Todavia, há que apurar as reais circunstâncias de ambos.


Faz parte da Democracia.


Ao que parece, pressões sobre jornais e jornalistas ocorrem com frequência histórica (este assunto só volta à baila porque dos depoimentos resulta que as pressões já tinham história com Santana Lopes e Durão Barroso e até mais distantes).


Não sei se é uma mazela da Democracia o Poder pressionar os media. Num ambiente de verdadeira separação de poderes (mesmo do 4º poder), os media seriam privados e auto-sustentados pelos assinantes, compradores e publicidade.


Não são e por isso as pressões são encaradas como “normais” e como tudo o que é normal tem um carácter verdadeiramente perturbador há que estabelecer a linguagem de descodificação das coisas.


A Liberdade de Imprensa é discutível que exista: um jornal ou televisão só pode ser construído por empresários, por sociedades ou grupos económicos fortes que sejam capazes de suportar o prejuízo que representam. Qualquer canal generalista, por mais abjecta que seja a sua programação dá prejuízo. Qualquer jornal, seja a que intenção se destine é um buraco sem fundo. Então a que tipo de empresário interessa perder dinheiro? Aquele que, se pressionado, pode ir buscar noutro lado, seja numa obra, num concurso, num serviço o desconto dessa pressão. Ser pressionado pode ser bom e útil!


E assim: a Liberdade de Imprensa é um negócio e não um santo para adorar: um jornalista escreve no contexto da sua redacção e não em função das suas apetências. O que se investiga num jornal é o que a Direcção quer (e há tanto assunto apetitoso para investigar no país…) e não o que lhe vai na alma.



Resumindo, este sound bite que fez carreira é incoerente.


Mais do que uma asfixia é uma obstrução parcial mecânica e patológica. Ou seja: há passagem de algum ar e o obstáculo poderá ser um “objecto estranho” ou, se patológica, “um tumor”.


As recorrentes obstruções parciais que provocam “ruídos invulgares”, são mazelas das sociedades contemporâneas de que se recupera com alguma tosse ou a pôr-se de cócoras.


Mas se acham mesmo que o assunto é grave, por favor despachem-se a fazer a Manobra de Heimlich.

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