I
Caí na asneira de ceder a tentação de ir ao Fórum de Faro. No dia da Abertura do Festival do Marisco em Olhão. Foi uma necessidade objectiva que nos levou a ter de comprar um fato de banho.
Julguei que, vencido o trânsito de acesso a Olhão todos os veraneantes teriam escapado para Olhão e Faro estaria deserto.
Puro engano! No dito Fórum actuavam os Orishas, levando cerce de 3000 pessoas a concentrarem-se num espaço de 1000.
Resultado: os acessos as escadas estavam bloqueados por publico, os elevadores não funcionavam e qualquer incidente grave que ocorresse teria piores resultados do que uma falésia.
Não sei como foi licenciado o evento em questão nem se os seus promotores tiveram noção do risco objectivo que criaram. Por muito menos, alguns produtores privados já foram multados ou impedidos de realizar espectáculos.
Tenho a certeza no entanto que dado o sucesso, o evento repetir-se-á com os mesmos riscos. Até a falésia cair… E não comprei o fato de banho.
II
A enorme diversidade de rotundas no país está descodificada. É o sítio por excelência para a colocação de cartazes de campanha. É espaçoso, ninguém lhes escapa e como se anda devagar, dá tempo para ver as caratonhas (o panorama visual é deprimente! Não há Berlusconetes! Mais valia colocarem pontos do programa – sim, há rotundas suficientes para uma dúzia de partidos colocarem os seus compromissos eleitorais).
Aliás as rotundas explicam tanto sobre Portugal… Entra-se numa rotunda à procura da placa da direcção que pretendemos seguir e que nos foi prometida por uma outra placa 300 metros antes. Só que nas saídas não aparece o destino que pretendemos. O que fazer? Contorna-se a rotunda mais uma vez ponderando na posição das estrelas ou no ponteiro da bússola. Quando decidimos, decidimos mal e temos de refazer o caminho. Profético.
III
Começo a deprimir sempre que oiço falar em Festivais Gastronómicos. Ele é marisco, sardinha, francesinha, chocolate, etc. Esta nova forma de “evento cultural” (não que a gastronomia não faça parte de um ethos social, mas do que se trata aqui é de vender comida!) transformou-se num incómodo ambiental e uma absurda elegia ao papo cheio.
Vamos por partes: o que está em causa aqui é uma relação óbvia entre gente que quer enfardar o mais barato possível e uma região, cidade, vila ou lugar que quer ser reconhecida como o melhor fornecedor daquele produto alimentar. Não será um pouco doentio querer que a nossa terra seja conhecida por comida? E a história, a arquitectura, os lugares?
Depois estes festivais têm sempre um “programa cultural” que consiste em por músicos a tocar durante o tempo em que as pessoas estão a enfardar. Seja lá quem for que toque a audiência consistirá numa centena de pessoas que estão “no intervalo” entre as gambas e o arroz de marisco, alcoolizados que se perderam do grupo com que estavam ou pessoas que não tem mesma e, enquanto esperam…
Se as Autarquias querem de facto promover as suas terras não poderiam arranjar uma estratégia menos massiva. Estes festivais são a reconfiguração para pessoas acima dos 45 anos dos Festivais de música de verão destinados a vender telemóveis e cerveja.
IV
Em Vigo há um sossego que não encontro em nenhuma outra cidade. Pode-se andar na rua sem sofrer de aglomerados de gente. Há espaço para todos. Há um porto, um porto de pesca e um porto para embarcações de recreio. Tudo simples e arrumado e sem falsas opulências. Há o aproveitamento dos edifícios antigos para exposições, há restaurantes para quem tem 20 ou 100 Euros para gastar.
Há as Ilhas Cias e preocupações ambientais de quem já sofreu muito.
V
Mesmo no fim das férias dou com a notícia sobre os confrontos entre West Ham e Millwall. Hooliganismo, gritam os jornais, o regresso aos finais dos anos 70.
Não me espanta.
Nesta altura estava no poder Margaret Thatcher e o ultra conservadorismo, assim como na rua estava o desemprego e a pobreza, o caldinho necessário à extrema-direita, tão querida naquelas ilhas.
O Hooliganismo ligado ao desporto não morreu. Perdeu clientela durante cerca de uma década, mas voltará, como voltarão as acções xenófobas e anti-semitas em boa parte da Europa.
Caí na asneira de ceder a tentação de ir ao Fórum de Faro. No dia da Abertura do Festival do Marisco em Olhão. Foi uma necessidade objectiva que nos levou a ter de comprar um fato de banho.
Julguei que, vencido o trânsito de acesso a Olhão todos os veraneantes teriam escapado para Olhão e Faro estaria deserto.
Puro engano! No dito Fórum actuavam os Orishas, levando cerce de 3000 pessoas a concentrarem-se num espaço de 1000.
Resultado: os acessos as escadas estavam bloqueados por publico, os elevadores não funcionavam e qualquer incidente grave que ocorresse teria piores resultados do que uma falésia.
Não sei como foi licenciado o evento em questão nem se os seus promotores tiveram noção do risco objectivo que criaram. Por muito menos, alguns produtores privados já foram multados ou impedidos de realizar espectáculos.
Tenho a certeza no entanto que dado o sucesso, o evento repetir-se-á com os mesmos riscos. Até a falésia cair… E não comprei o fato de banho.
II
A enorme diversidade de rotundas no país está descodificada. É o sítio por excelência para a colocação de cartazes de campanha. É espaçoso, ninguém lhes escapa e como se anda devagar, dá tempo para ver as caratonhas (o panorama visual é deprimente! Não há Berlusconetes! Mais valia colocarem pontos do programa – sim, há rotundas suficientes para uma dúzia de partidos colocarem os seus compromissos eleitorais).
Aliás as rotundas explicam tanto sobre Portugal… Entra-se numa rotunda à procura da placa da direcção que pretendemos seguir e que nos foi prometida por uma outra placa 300 metros antes. Só que nas saídas não aparece o destino que pretendemos. O que fazer? Contorna-se a rotunda mais uma vez ponderando na posição das estrelas ou no ponteiro da bússola. Quando decidimos, decidimos mal e temos de refazer o caminho. Profético.
III
Começo a deprimir sempre que oiço falar em Festivais Gastronómicos. Ele é marisco, sardinha, francesinha, chocolate, etc. Esta nova forma de “evento cultural” (não que a gastronomia não faça parte de um ethos social, mas do que se trata aqui é de vender comida!) transformou-se num incómodo ambiental e uma absurda elegia ao papo cheio.
Vamos por partes: o que está em causa aqui é uma relação óbvia entre gente que quer enfardar o mais barato possível e uma região, cidade, vila ou lugar que quer ser reconhecida como o melhor fornecedor daquele produto alimentar. Não será um pouco doentio querer que a nossa terra seja conhecida por comida? E a história, a arquitectura, os lugares?
Depois estes festivais têm sempre um “programa cultural” que consiste em por músicos a tocar durante o tempo em que as pessoas estão a enfardar. Seja lá quem for que toque a audiência consistirá numa centena de pessoas que estão “no intervalo” entre as gambas e o arroz de marisco, alcoolizados que se perderam do grupo com que estavam ou pessoas que não tem mesma e, enquanto esperam…
Se as Autarquias querem de facto promover as suas terras não poderiam arranjar uma estratégia menos massiva. Estes festivais são a reconfiguração para pessoas acima dos 45 anos dos Festivais de música de verão destinados a vender telemóveis e cerveja.
IV
Em Vigo há um sossego que não encontro em nenhuma outra cidade. Pode-se andar na rua sem sofrer de aglomerados de gente. Há espaço para todos. Há um porto, um porto de pesca e um porto para embarcações de recreio. Tudo simples e arrumado e sem falsas opulências. Há o aproveitamento dos edifícios antigos para exposições, há restaurantes para quem tem 20 ou 100 Euros para gastar.
Há as Ilhas Cias e preocupações ambientais de quem já sofreu muito.
V
Mesmo no fim das férias dou com a notícia sobre os confrontos entre West Ham e Millwall. Hooliganismo, gritam os jornais, o regresso aos finais dos anos 70.
Não me espanta.
Nesta altura estava no poder Margaret Thatcher e o ultra conservadorismo, assim como na rua estava o desemprego e a pobreza, o caldinho necessário à extrema-direita, tão querida naquelas ilhas.
O Hooliganismo ligado ao desporto não morreu. Perdeu clientela durante cerca de uma década, mas voltará, como voltarão as acções xenófobas e anti-semitas em boa parte da Europa.
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