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O resultado da reflexão

Resultados contados e encontrado o vencedor, há que analisar os seus reflexos.
Pouco menos de metade de Portugal votou e a primeira coisa que chama a atenção são as 191.159  que votaram em branco.

Acredito que quer a abstenção quer estes votos brancos serão maioritariamente de esquerda. São os que faltaram a Alegre para atingirem um valor mais próximo do das últimas eleições, são a prova de que a esquerda não se concilia (acreditando que o PS é um partido de esquerda!) e não tem o pragmatismo do poder a qualquer preço como a direita que faz unir Portas a Cavaco.
O PS de matriz mais liberal não teria Alegre como candidato, muito menos num cenário de partilha de apoio com o BE; os cultores trotskistas e intelectuais do partido não se reveem no candidato caçador, não vegan e que não apoiou o casamento homossexual.
Há ligações impossíveis e mais valia Alegre ter concorrido sozinho e sem rede do que ter estes apoios que não se encaixam.

Também o efeito Nobre terá reduzido as chances de Alegre poder sonhar com uma 2ª volta, naquela que foi uma das vinganças mais bem urdidas de Mário Soares.

Em resultado destes e outros factores, Cavaco fica com a palma que bem lhe poderia ter fugido, não fossem os desideratos da esquerda.
E ficamos a saber que – à luz das considerações do voto popular – manter-nos-emos numa curiosa situação semelhante certas cenas de filmes de acção, em que toda a gente tem a pistola apontada a toda gente, gritando freneticamente para que não disparem.

Sócrates conseguiu uma “folguinha” económica, pelo que poderia rapidamente passar ao estado de vítima se o PR disparar, Passos Coelho quer tudo menos que o PR dispare porque não quer ser governo neste momento difícil e muito menos refém de Cavaco. Se Cavaco disparar corre sérios riscos de errar o alvo, a bala fazer ricochete e acertar nele mesmo.
Daqui até o fim do ano, a palavra “estabilidade” será usada um milhão de vezes.

Cavaco sabe que é a última hipótese que tem de passar à história como o homem que colocou o país nos estreitos limites do conservadorismo pós- Estado Novo que se tenta implementar em Portugal a todo o custo e que corresponde a um regime semi-presidencial, bipartidário, com uma visão muito restrita das liberdades e garantias e o primado das elites económico-sociais e corporações na organização política, aliás como sugerem os resultados do Projecto Farol.

Em conclusão, a imagem do país será representada por Cavaco e esposa. E mais não digo porque vai começar o acerto de contas com a imprensa e a sociedade refractária em geral.

Gostaria apenas de deixar a sugestão de leitura do artigo de opinião “O Nó Cego”, de António Barreto, lamentando apenas que das hostes universitárias e intelectuais não salte para a praça um sem número de pessoas de elevada competência técnica (admito que com pouco jeito para a política mas que, nestes tempos, até tem valor curricular) para criar uma alternativa de liderança centrada na resolução técnica dos problemas nacionais.
http://jornal.publico.pt/noticia/24-01-2011/o-no-cego-21081336.htm

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