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De um dia para o outro construíram-se novas pirâmides

Tão preocupados andávamos com o Irão, Iraque e Paquistão que nos esquecemos do Norte de África.
E a surpresa surgiu justamente donde menos se esperava.
Regimes autoritários de décadas, a marinar na constância política Ocidental e no sossego do crescimento económico, nações de insuspeito controlo e “amigas” do Ocidente, subitamente, chocaram com as realidades que circulam a alta velocidade:
1. A elevação do nível académico e de informação das populações mais jovens;
2. A universalização do saber, cultura e informação, que lhes permite saber e sonhar com vidas que não se podem construir porque lhes é vedado este direito;
3. A consciencialização de que a religião não precisa de ser uma monstruosidade decadente e que é possível viver com todas em harmonia, se o respeito mútuo prevalecer sobre a ignorância e o medo;
4. Que a “geração dos 500 Euros” (que lá são muito menos) ganhou a consciência de que o nepotismo, corrupção e o controlo oligárquico da sociedade não lhes permite construir uma vida no contexto das suas aspirações;
5. Que a crise internacional (em que o preço do petróleo curiosamente é uma das componentes) arrastou o preço dos bens alimentares muito para além do limite da possibilidade de solvência das famílias e a fome sempre foi um bom combustível para as revoluções.

Não se fique com a ideia de que este tufão que varreu o Norte de África é uma jihad ou processo de islamização radical em curso. Foi mesmo a necessidade de mudar regimes despóticos e corruptos sustentados pelo Ocidente que aceitam que a estabilidade se faça a troco de uma miragem e à custa dos DH ou das condições de vida dos povos.
Para os Estados Unidos era até mais do que isso. Era a válvula de escape de Israel, regimes dialogantes e cooperantes com esta nação, para grande desgosto do seu povo que compreende de muito perto o que se passa na Palestina e o que lhes pode acontecer quando a Palestina já não chegar para as necessidades sionistas. Era a garantia de que não precisaria de deslocar meios estratégicos e financeiros para defender o Estado de Israel do perigo das nações árabes do Norte de África deixarem a sua “friendly version”.

As bruscas viragens de discurso da CE e da América não ocultam o óbvio: enquanto não existiu reacção toda a gente assobiou para o lado e nunca vi ou ouvi grandes ou pequenas críticas a estes regimes. Foi necessário “dar da perna” para não perder a corrida que agora se inicia.
Baradei partiu logo no 2º dia, realizaram-se muitos contactos e trabalho de sapa dos serviços de informação que ficaram às aranhas com este fogo em palha seca (e que não era previsível como todas as revoltas populares que vivem de um “basta” indefinido no tempo e no espaço). Se fosse um projecto secreto de entidades revolucionárias, seria mais previsível e controlado.
Mubarak, qual treinador de futebol passou de bestial a besta em menos de um segundo e já ninguém se lembra do tipo que governava a Tunísia há 30 anos e quem foram os governantes europeus que foram lá fazer negócios vários.

Desencantem-se os que sonham com o radicalismo islâmico: as pessoas só querem uma vida justa e honesta e ser tratados de igual forma perante as leis justas e aceites pela maioria dos cidadãos.
O heroísmo, o altruísmo, seriedade e organização destes povos que resistiram deve ficar para sempre na memória da humanidade como um património maior do que as pirâmides.


Suddenly, they build new pyramids

So worried we are with Iran, Iraq and Pakistan that we forget the Northern Africa.
The surprise appeared exactly where less expected. Authoritarian regimes of decades, legitimate by Occidental politics, living in the quietness of economic growth, nations with rigid civil control and “friends” of Europe and US suddenly shocked with the realities of this high speed brave new world:

1-The rise of the academic level and information of younger populations;
2- The universalization of knowledge, culture and information, that allows them to dream with new ways of living they cannot build because the social domination forbidden;
3-The awareness that religion does not need being a declining monstrosity and it is possible to live all in harmony and mutual respect, refusing the ignorance and fear of some demential leaders;
4- The “500 Euros generation” (much less in those countries) gained conscience of the nepotism, corruption and the oligarchic control, who forbidden the youngest to construct a life with aspirations;
5-The international crisis (where the price of the oil curiously is one of the components) dragged the food price to the limit of the family budgets and hunger always is a good fuel for revolutions.

We can´t get the idea of a typhoon swept Northern Africa, that one jihad or this events are a Islamic radical process is in course. It was needed to change despotic and corrupted regimes supported by western countries who promote a fake stability for an exchange of a mirage of Human Rights and Civil Rights.
For United States it was more than what this. It was the escape plan for Israel, the valve of dialoging and cooperative countries. And this is also causes a great disgust for the people, who understands with a closer look what happened in Palestine and what could happen in his own nations when Palestine was not enough for Zionist ambitions.
US guarantee thru those regimes it would not need to dislocate strategically and financial resources to defend the State of Israel from the menaces of Iran and Syria, projecting those Arab nations it North of Africa as “friendly version” regimes.

The brusque speech turnover of EC and America don’t hide the obvious: while there was no reaction nobody cares about and nobody promotes any reform for those nations. Now Western countries start a race against the time to control damages.
Baradei arrived Cairo at the second day of protests, intelligence services developed contacts to understand. But they going nuts with this fire in dry straw (and that it was not predicable as all the popular revolts). People say “that’s enough”, and that’s all.
This revolution is not a private project of some revolutionary groups. This would be more predictable and controlled.
Mubarak, as a soccer trainer, passed of heaven to hell in less of a second and nobody yet remembers the name of the man who governed Tunisia the last 30 years and also the names of European leaders that had been there to make businesses.

Disenchanted all who dream with Islamic radicalism revolution: people just want a life and fair society and to be treating in equal terms before just and democratic laws, accepted by the majority of the citizens.
The heroism, altruism, seriousness and organization of these peoples who had resisted must be remembered forever for mankind as a monument, bigger than the legacy of pyramids.

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