Situação 1 – Jogada autofágicaO BE cumpre a ameaça e coloca a Moção de Censura.
O PS obviamente vota contra. O PCP acompanha o BE engolindo o sapo de ir a reboque. O PSD enlouquece e contra a sua própria vontade política aceita a Moção. O CDS, nesta circunstância põe-se de fora argumentando não querer ser o carrasco da economia portuguesa e abstêm-se.
Resultado: Censura passa com 112 votos e vamos a jogo.
E que jogo é esse?
O PS abancado ao poder mostra o trabalho feito e tenta esconder o lixo por debaixo do tapete. O PSD, fraccionado por ter aceitado uma moção antes do tempo, tropeça no seu próprio discurso tentando apelar ao voto da população com argumentos liberais que – sabemos - não vai conquistar adeptos. O Bloco esvazia-se como um balão pois a sua “ala”(?) menos radical não quer o PSD no poder e vai a correr para o voto útil no PS. O PCP sai reforçado e mantém as suas pedras no terreno. O PP vai ter de ampliar a frota para um autocarro de luxo, fruto da fuga de descontentes com o PSD que já começam a não ter paciência para o Bloco Central.
Resultado: o PS ganha próximo da maioria absoluta e o PSD explode (esperemos) separando o trigo (sociais democratas) do joio (ala liberal).
Situação 2 – Jogada sistémica
O BE vota favoravelmente a sua Moção (num cenário cómico, até poderia votar contra si próprio!), levando consigo o PCP. O PS vota contra e o PSD e PP abstêm-se.
A Moção não passa e temos PS até Setembro. Alguns sectores do PSD começam a ficar com azia de não chegarem ao poder mais rapidamente e começam a abanar a árvore da liderança, a testar se Passos Coelho já está a ficar maduro. Entretido consigo próprio o governo vai conseguindo importantes vitórias (a não vinda do FMI, a diminuição da dívida pública, a contenção de despesa do Estado) e vai aparando a contestação social no cada maior medo do vazio que a população vai adquirindo.
O PSD engole o sapo de mais um orçamento aprovado e começa a entrar naquele transe místico de um partido que só quer o poder e estar muito longe dele provoca febre, delírios e tendências homicidas.
O Bloco fica sossegadinho durante uns tempos, a ver se o pessoal esquece o excesso de voluntarismo incoerente com o PCP sempre a lembrar a “doença infantil” dos rapazes. O PP, quietinho e com o discurso da responsabilidade e da demagogia lá vai crescendo e comendo o PSD aos bocadinhos.
Quando chegarem as eleições, talvez Passos já não esteja no PSD e o país estará em vias de mudar de nome…
Situação 3- Jogada Pokemon
PSD e BE votam a Moção. Tacticamente o PCP manda avançar a “liberdade de voto” dos Verdes e a Moção é viabilizada pela abstenção do PP e PCP.
É sem dúvida a minha situação favorita porque é a mais matizada.
Começa uma autêntica luta de varapaus entre PS e PSD porque o cronómetro conta cada segundo. Sabemos que a hipótese do PSD chegar ao poder tem a ver com uma rápida ida às urnas. Cada dia que passa o PSD enterra-se com o seu discurso liberal que ninguém quer ouvir!
No entanto, a “irresponsabilidade” de aderirem a uma Moção de Censura da esquerda mais esquerda (a do PCP é uma esquerda mais jeitosa!) vai criar mossas dentro do partido, como já vimos. Passos terá de ceder muitas posições para garantir o seu mérito interno e ao fazer isso flagela as suas intenções de poder construir um governo cordato com as suas ideias.
O PS, esta viúva enganada que irá carpir até as eleições, vítima da direita irresponsável e da traição da esquerda, vai assentar os seus méritos no seráfico J. Sócrates – única imagem que o partido tem para passar porque, à volta deste, existe um deserto onde este monge solitário reescreve as tábuas divinas.
O PCP e o PP recolherão dividendos da situação em termos eleitorais e se os eleitores forem espertos, fazem crescer estas “bordas” eleitorais para asfixiar aquilo que condenou Portugal a miséria: o Bloco Central.
Poderiam ocorrer outras situações mais surreais, mas o que se espera será uma destas.
O que interessa saber é como será o PSD depois de assumir a dita cuja posição que leva tempo a definir.
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