Pular para o conteúdo principal

Alice no país da crise

6. Pig and Pepper

Alice contempla os lacaios e o cerimonial à volta dos convites.

O protocolo, as regras que nos permitem avançar e encontrar o lugar na estrutura. Afinal, Alice ia entrar numa casa da nobreza e lá dentro espera-se encontrar a altivez, a educação no mais alto grau.

Talvez que o seu erro tenha sido entrar pela cozinha, o reino da plebe.

Afinal, a família é um mistério confuso quando dentro de portas e não a paisagem que transparece.

A Duquesa desvia-se da loiça atirada pela rebelde cozinheira que atasca pimenta na atmosfera. Faz o serviço e protesta.

E há o gato e o sorriso soberano, à prova de qualquer circunstância; sedutor e felino paira pela casa como se tudo fosse normal e adequado. Tudo é normal e adequado quando assimilado pela estrutura.

A Duquesa larga a criança nas mãos de Alice e vai se divertir, sem se importar se o choro é sofrimento ou dor.

É normal, está na estrutura. Repete-se.

Talvez por isso o nobre bebé passa a porco e apenas surpreenda Alice.

O gato não ajuda Alice a encontrar a porta que dá acesso ao jardim. Sempre a sorrir desmedidamente. Sempre a sedução.

Fala-se da loucura de todos sem excepção. São também loucos os que acham os outros loucos e deixam-nos enlouquecer com as suas loucuras.

A sanidade é um espaço inabitável.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alguém nos explica isto?

Os registos de voo obtidos por Ana Gomes em 2006 revelam que, entre 2002-2006, em pelo menos 94 ocasiões, aviões cruzaram o espaço aéreo português a caminho de ou provenientes da Baía Guantanamo . Em pelo menos 6 ocasiões aviões voaram directamente das Lajes nos Açores para Guantanamo. Ver o relatório da ONG britânica. Não creio que isto nos deixe mais seguros e tenho a certeza de que me deixa a consciência pesada, foi o estado em que me integro que permitiu isto. PS (por sugestão do Vinhas). As notícias sobre um dos aviões que transportaram presos para Guantánamo e que agora se despenhou no México carregado de cocaína podem ser vistas aqui e aqui ou ainda aqui.

2013: O que fazer com um ano inútil

Resumindo tudo e contra a corrente de louvor papal, o ano de 2013 teve como figura principal o conflito e poderia ser retratado por um jovem mascarado a atirar pedras contra a polícia. Nunca como em nenhum outro ano a contenção policial foi necessária perante a ordem de injustiças, desigualdades, nepotismos, etc., etc. etc. Os Estados deixaram de representar os povos, as nações estão a ser desmontadas e os grandes interesses financeiros instalam-se com uma linguagem musculada sobre o mundo, definido as barreiras dos que tem e dos que estão excluídos deste novo mundo que se desenha, ficando ainda umas réstias por eliminar mas que se mantem enquanto necessárias. Neste mundo conturbado onde grandes interesses se disfarçam, de Estado (Rússia, China ou Coreia, por exemplo) e onde o Estado foi substituído por interesses específicos de natureza transnacional (Portugal, Grécia ou Itália) ou aqueles em que o Estado é uma fachada de recurso (EUA) para interesses particulares. A dívida, a crise,...