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Alice no país da crise

6. Pig and Pepper

Alice contempla os lacaios e o cerimonial à volta dos convites.

O protocolo, as regras que nos permitem avançar e encontrar o lugar na estrutura. Afinal, Alice ia entrar numa casa da nobreza e lá dentro espera-se encontrar a altivez, a educação no mais alto grau.

Talvez que o seu erro tenha sido entrar pela cozinha, o reino da plebe.

Afinal, a família é um mistério confuso quando dentro de portas e não a paisagem que transparece.

A Duquesa desvia-se da loiça atirada pela rebelde cozinheira que atasca pimenta na atmosfera. Faz o serviço e protesta.

E há o gato e o sorriso soberano, à prova de qualquer circunstância; sedutor e felino paira pela casa como se tudo fosse normal e adequado. Tudo é normal e adequado quando assimilado pela estrutura.

A Duquesa larga a criança nas mãos de Alice e vai se divertir, sem se importar se o choro é sofrimento ou dor.

É normal, está na estrutura. Repete-se.

Talvez por isso o nobre bebé passa a porco e apenas surpreenda Alice.

O gato não ajuda Alice a encontrar a porta que dá acesso ao jardim. Sempre a sorrir desmedidamente. Sempre a sedução.

Fala-se da loucura de todos sem excepção. São também loucos os que acham os outros loucos e deixam-nos enlouquecer com as suas loucuras.

A sanidade é um espaço inabitável.

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