Nos filmes de terror, o desenvolvimento da inquietação e medo deve ser mantido sempre num ponto de tensão médio entre abruptos paroxismos de violência, até o momento de voltar a uma linha de conforto (onde julgamos que acabou o medo).
Subitamente, irrompe por este momento relaxado a mais brutal, angustiante e repelente cena com que abraçamos o final. Final esse que pode significar que tudo que está a volta ficou feito em pó, mas “eu safei-me” para contar. Quando muito “nós safamo-nos” – eu e a miúda gira. Mais nada.
Quem acredita no dramatismo do resultado das negociações e neste “wrestling” montado pelos partidos, comunicação social e diversos parceiros sociais, ainda não percebeu que a encenação está montada.
Tal como em Hollywood, os efeitos especiais servem para esconder a pobreza do enredo das fitas, esta negociação tem contornos óbvios de George Romero: aterrorizar para melhor aceitar.
Demonizado o Orçamento na pessoa dos seus mandantes, vagueando no medo da intervenção do FMI, da perda de soberania, nos sacrifícios insólitos que nos esperam para além deste orçamento, na necessidade de mudança na competitividade, na Justiça, na Educação, nas leis, na Constituição, no excesso de descontos das entidades patronais, no fim da classe média…Exaustos e desanimados com tantos e constantes “sustos”, refugiamo-nos na esperança benévola de um acordo entre os partidos da situação, sonhando com um aconchego de 1% de IVA, ou outra migalha que possa ser atirada aos pobres espectadores aturdidos e sôfregos por um fim.
Há negociações de pequenas quantias, trocos orçamentais que não farão diferença de maior. Poderiam acordar com um pouco disso outro daquilo para contentamento dos pobres de espírito, mas isso contraria a lógica do terror. Romperam as negociações como seria expectável.
Como bem poderia dizer Marcelo Rebelo de Sousa, “Podem não estar de acordo, mas o orçamento é aprovado. É um mau orçamento para todos, e ambos estão de acordo. Apesar de mau, vai ser aprovado. O PSD pode estar contra, mas pode deixar passar”.
Estranho seria haver acordo. O filme perderia tensão e cairia numa lamechice sem tamanho. Seria meio beijo na boca às 4 da tarde.
Os mentores intelectuais da crise (patronato, sistema financeiro e poderes instituídos que caldeiam ambos) sabem que o medo leva a aceitações da mais feroz resposta social que existe: o mal menor.
O mal menor neste filme é aceitar que pagaremos os desmandos de outros, aceitaremos a mudança das leis laborais, a redução de remunerações (e iluda-se quem acreditar que será apenas no sector público), o aumento de horas de trabalho e idade de reforma, o recuo de direitos sociais (eventualmente alguns humanos), tudo isso será aceite desde que não nos obriguem a tirar a Sport TV!
E o plano das dois maiores prestadores de serviço ao sistema opus-corporativo-familiar português (os dois “negociantes”) continua a rolar sobre rodas, tal confortavelmente que a imprensa dá-se ao luxo de, nos últimos dias, noticiar os lucros colossais de empresas e bancos sem que isso tenha qualquer repercussão social.
Afinal, a crise mais não é que a continuidade do processo especulativo onde alguém está a ganhar.
O melhor que nos pode acontecer (e chega a ser cómico assumir isso) é a intervenção do FMI, tão mal visto pela imprensa portuguesa como um atentado à soberania. O problema é que o atentado foi cometido pelos “negociantes”.
O FMI é uma entidade que não quer Portugal, unidade territorial que já tem dono, tal como todos os países do mundo. Vem simplesmente corrigir um processo. É um fundo internacional que empresta e controla a gestão de quanto, como e quem gasta, o que para Portugal, nestes tempos de desconfiança institucional é o melhor que nos pode acontecer.
O FMI controla o seu investimento e aperta o pescoço a quem abusa da sua “boa-fé”. Depois vai-se embora para que possamos começar tudo outra vez (da mesma forma, presumo).
Far-se-ão sacrifícios imensos mas com a vantagem da credibilidade.
Acabavam-se certos “cinzentos”.
Subitamente, irrompe por este momento relaxado a mais brutal, angustiante e repelente cena com que abraçamos o final. Final esse que pode significar que tudo que está a volta ficou feito em pó, mas “eu safei-me” para contar. Quando muito “nós safamo-nos” – eu e a miúda gira. Mais nada.
Quem acredita no dramatismo do resultado das negociações e neste “wrestling” montado pelos partidos, comunicação social e diversos parceiros sociais, ainda não percebeu que a encenação está montada.
Tal como em Hollywood, os efeitos especiais servem para esconder a pobreza do enredo das fitas, esta negociação tem contornos óbvios de George Romero: aterrorizar para melhor aceitar.
Demonizado o Orçamento na pessoa dos seus mandantes, vagueando no medo da intervenção do FMI, da perda de soberania, nos sacrifícios insólitos que nos esperam para além deste orçamento, na necessidade de mudança na competitividade, na Justiça, na Educação, nas leis, na Constituição, no excesso de descontos das entidades patronais, no fim da classe média…Exaustos e desanimados com tantos e constantes “sustos”, refugiamo-nos na esperança benévola de um acordo entre os partidos da situação, sonhando com um aconchego de 1% de IVA, ou outra migalha que possa ser atirada aos pobres espectadores aturdidos e sôfregos por um fim.
Há negociações de pequenas quantias, trocos orçamentais que não farão diferença de maior. Poderiam acordar com um pouco disso outro daquilo para contentamento dos pobres de espírito, mas isso contraria a lógica do terror. Romperam as negociações como seria expectável.
Como bem poderia dizer Marcelo Rebelo de Sousa, “Podem não estar de acordo, mas o orçamento é aprovado. É um mau orçamento para todos, e ambos estão de acordo. Apesar de mau, vai ser aprovado. O PSD pode estar contra, mas pode deixar passar”.
Estranho seria haver acordo. O filme perderia tensão e cairia numa lamechice sem tamanho. Seria meio beijo na boca às 4 da tarde.
Os mentores intelectuais da crise (patronato, sistema financeiro e poderes instituídos que caldeiam ambos) sabem que o medo leva a aceitações da mais feroz resposta social que existe: o mal menor.
O mal menor neste filme é aceitar que pagaremos os desmandos de outros, aceitaremos a mudança das leis laborais, a redução de remunerações (e iluda-se quem acreditar que será apenas no sector público), o aumento de horas de trabalho e idade de reforma, o recuo de direitos sociais (eventualmente alguns humanos), tudo isso será aceite desde que não nos obriguem a tirar a Sport TV!
E o plano das dois maiores prestadores de serviço ao sistema opus-corporativo-familiar português (os dois “negociantes”) continua a rolar sobre rodas, tal confortavelmente que a imprensa dá-se ao luxo de, nos últimos dias, noticiar os lucros colossais de empresas e bancos sem que isso tenha qualquer repercussão social.
Afinal, a crise mais não é que a continuidade do processo especulativo onde alguém está a ganhar.
O melhor que nos pode acontecer (e chega a ser cómico assumir isso) é a intervenção do FMI, tão mal visto pela imprensa portuguesa como um atentado à soberania. O problema é que o atentado foi cometido pelos “negociantes”.
O FMI é uma entidade que não quer Portugal, unidade territorial que já tem dono, tal como todos os países do mundo. Vem simplesmente corrigir um processo. É um fundo internacional que empresta e controla a gestão de quanto, como e quem gasta, o que para Portugal, nestes tempos de desconfiança institucional é o melhor que nos pode acontecer.
O FMI controla o seu investimento e aperta o pescoço a quem abusa da sua “boa-fé”. Depois vai-se embora para que possamos começar tudo outra vez (da mesma forma, presumo).
Far-se-ão sacrifícios imensos mas com a vantagem da credibilidade.
Acabavam-se certos “cinzentos”.
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