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Dez pontos de vista sobre as eleições americanas

Este texto surge em versão bilingue porque, por alguma razão inexplicável, grande parte das pessoas que acede a este site são provenientes dos Estados Unidos. Obviamente sabem português senão não nos visitavam. A opção de dobra-lo em inglês é permitir que se criem extensões possíveis a outros bloggers americanos.

This text is published in a bilingual version because, for some reason I can't explain, most of the blog visitors come from USA. Obviously they know Portuguese or they wouldn't visit our blog. But the option to double it in English is to allow other American bloggers to read it. My apologies for this vain effort of translation.

1- Não sendo a democracia Americana uma verdadeira democracia (uma vez que o voto popular não é directo e as campanhas num país de dimensão continental envolvem verbas que não permitem a qualquer cidadão concorrer) nem a provável vitoria dos Democratas mudará este sistema perverso.
American democracy is not a true democracy (as soon as the popular vote is not direct and the campaigns in a continental dimension country demand budgets that make impossible to any citizen to concur). Even the probable victory of the Democrats will change this perverse system.

2- Hillary Clinton não deverá ser a candidata democrata escolhida para disputar a Presidência. O desenvolvimento social da América é muito sexista. Acho que aceitarão mais rapidamente um negro que uma mulher porque a imagem mental da América sobre a mulher é muito complexa (uma visão dúbia e extrema! Não parece haver um meio termo com pessoas de género diferente!).Apparently, Hillary Clinton will not be chosen by democrats to dispute the Presidency. The social development of America is very sexist. It seems easier to American voters to accept an afro-american than a woman because America’s mental image of women is very complex (a dubious and extreme vision about women! Apparently there is no half term with the female gender).

3- Todos os candidatos Republicanos têm um discurso cautelosamente belicista. A saída do Iraque será uma exigência mais económica que política para alguns deles. Nenhum deles apostará numa nova guerra num primeiro mandato e Bush já não deverá ir a tempo de faze-lo contra o Irão.All Republican candidates have a cautiously warmongering speech. The exit of Iraq, for most of them, is an economic demand rather than a political one. None of the candidates will bet in a new war in a first mandate and Bush is already out of time to make a war against Iran.

4- Acredito que devido a greve dos guionistas este ano as eleições devem cativar um pouco mais de 50% dos americanos. O efeito da "TV vazia" deve provocar alguma curiosidade.
I believe due to screenwriters' strike, this year elections must captivate a little more than 50% of the Americans. The effect of the "empty TV" must provoke some curiosity about politics.

5- Será curioso assistir ao relacionamento de um Presidente Democrata com a Europa cativa de Liberais de direita e Reformadores de Esquerda com vocação capitalista. Uma mescla de realidades ambivalentes que fará com que a América ainda acabe por parecer mais à esquerda que a Europa.
It will be interesting to attend the relationship of an American Democratic President with Europe, captive of right wing liberals and politicians of a new left with capitalist vocation. A mixture of ambivalent realities will do that America looks more on the left than Europe.

6- Até que ponto poderá um candidato Democrata vencedor dar coerência à política americana sobre os Direitos Humanos (moratória sobre a pena de morte, fim de Guantanamo que é a maior vergonha da Historia da América, aceitar regras iguais às dos seus pares no Tribunal Penal Internacional e intervir activamente junto de regimes ditatoriais que são seus aliados, exigindo reformas – não é preciso invadi-los! Uma pequena pressão económica e eles vão abaixo!)?
How far can a winning Democratic candidate be able to give coherence to the American policy on Human rights (moratorium on the death penalty, end of Guantanamo - the biggest shame of the History of America - to accept equal rules to that of his pairs in the International Criminal Court and make an actively intervention next to dictatorship regimes – allies or not - demanding reforms. it is not necessary to invade them! A small economical pressure and they'll go down!)?

7- O próximo presidente americano terá forçosamente de se dedicar mais à política interna. Os programas assistenciais e de apoio à pobreza que terão de ser implementados (uma vez que uma distribuição de riqueza mais justa deve estar fora de hipótese). Sabemos que isso representa um aumento de impostos que são suportados pelo consumidor final. Poderá a economia americana resolver este dilema?
The next American president will be forced to dedicate more attention to the internal politics. The health care programs and the poverty support must be implemented (I think it's impossible to expect a fair wealth distribution). We know that this stands for a raise of taxes that will be supported by the final consumer. Will the American economy able to solve this dilemma?

8- O próximo Presidente terá de desenvolver um diálogo civilizacional mais eficaz. O facto do maior país do mundo fechar-se sobre si próprio não contribuiu em nada para o seu desenvolvimento e compreensão de outras realidades e necessidades. Se os Estados Unidos não se abrir para o mundo e enquistar o seu pensamento na sua própria glorificação transformar-se-á a pouco e pouco numa nação tão perigosa como o Irão, Paquistão ou Coreia.
The next President has to develop a more efficient civilizational dialogue. In fact, the biggest country of the world living closed to itself, does not contribute for its development and to thr understanding of other realities and needs. If United States do not open itself to the world and share, insisting to live in a self glorification, they take the risk of became a nation as dangerous as Iran, Pakistan or Korea.

9- Como podem os Estados Unidos resolver a perpétua desconfiança dos outros países na sua actuação? Não podem, pelo menos a curto prazo. O mundo precisa que os Estados Unidos sejam fortes não por causa do terrorismo, que é uma criação da própria politica americana, mas sim por causa de regimes instáveis com grande potencial militar e por regimes genocidas sustentados por interesses económicos. Os Estados Unidos deviam promover e liderar a reforma das Nações Unidas como forma de, globalmente, introduzir estatutos de compromisso internacionais a que as nações se obrigariam estariam sujeitas e consequências de incumprimento das mesmas, seja para a China, Myanmar ou outro país qualquer.
How could the United States solve the perpetual suspicion of other countries in its actions? They cannot, at least in the short-term. The world needs a strong US, not because of the terrorism, which is a creation of the American Policy, but because of unstable regimes with great military potential and genocide regimes supported by economic interests. The United States has to promote and lead the reform of the United Nations as form of, globally, introducing international statutes of commitment who force the nations to respect its own citizens and establish consequences to the disrespect of human lives, as China, Myanmar or any other country.

10- É um ponto de vista polémico e sem qualquer base sociológica, mas não resisto em colocá-lo: a sociedade americana reflecte pouco sobre si própria. Alienada por uma imagem de si mais ou menos glorificada, nacionalista e fantasista, entretida com o mundo espectáculo das suas vidas quer na televisão, no cinema e na política, esta alienação é prejudicial na formulação de um destino de modernidade. Não é preciso entrar em depressão para se fazer autocrítica, mas não chega à Europa nenhuma voz reflexiva da América com suficiente eco para se notar algum esforço de mudança. E é justamente este aspecto monolítico da sociedade e da política americana que o próximo presidente terá de combater.
It is a controversial point of view without any sociological base, but I do not resist in saying it: the American society does not reflect about itself. Mentally attached to an image of self glorification, nationalistic and unreal, entertained with the showbiz of their lives promoted in TV, movies and politics, this alienation is harmful in the formulation of a modern identity. It is not necessary to enter in depression to become auto critic, but it does not arrive in Europe any reflexive voice of America with enough echoes to notice some effort of change. And it is exactly this monolithic aspect of the American society and politics that the next president will have to fight.

Comentários

Helena Henriques disse…
Dizer que a democracia americana não é, é exagerado; o sistema tem sérios defeitos mas eu não iria tão longe. Quanto à questão Hillary/Obama, eu diria que a questão passa mais pelos 'políticos de Washington' do que pelo género. A perspectiva da greve dos guionistas é interessante e a observar. Entre o ponto 5 e o 10 há alguma contradição, se no último se diz que a América não reflecte sobre si, no outro diz que está a virar à esquerda. Quanto a política internacional, se for dada maior importância à ONU, já é um passo.
vinhas disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
vinhas disse…
Ponto prévio: uma democracia, para mim, ou conta com voto directo ou se é para eleger um colégio que depois vota ao sabor de circunstâncias das quais não há controlo levanta-me muitas dúvidas, seja na América ou noutro sítio qualquer.
Quanto a imagem da mulher na América peço-te que verifiques os outlines entre a produção de filmes XXX e a imagem feminina das séries que, por mais profissional e durona que seja, acaba sempre por cair nos braços de um homem.
O que disse no ponto 5 é que comparando ao espectro europeu e na eventualidade da vitória democrata, pode bem ser que o próximo presidente aparente ser mais à esquerda.
De resto não há contradição em reflectir sobre a essência e virar à esquerda...são coisas bem diferentes!
Helena Henriques disse…
A democracia directa não existe, o sistema mais aproximado era o Suíço e funcionava ali porque tem condições específicas; o facto de haver um colégio não implica necessariamente que não haja controlo, a relação com os senadores de cada estado é bastante próxima (apesar da distância de Washington, e eles exigem). Há problemas que levam a que a eleição do Presidente, não sendo directa, permita que o candidato menos votado seja eleito, sim senhor, mas isso é uma disfunção do sistema e não exactamente uma negação de democracia - ou seja o sistema deles tem muito por onde melhorar, o que não significa que não seja democrático. Mais me incomoda o facto de ser um sistema bipartidário, isso sim elimina correntes de opinião várias, mesmo assim, reconheço que o sistema de eleição directa dos candidatos permite o aparecimento de tendências díspares. O naipe de candidatos republicanos dá para todos os gostos de direita - a distância de Ron Paul a Fred Thompson é imensa). Já os democratas são mais próximos, todos numa esquerda moderada - embora mais esquerda que muitos dos actuais europeus. Isto do meu ponto de vista, não deixa de reflectir os percursos percorridos, uns deparam-se com rupturas sociais graves decorrentes do seu liberalismo extremo, outros com as financeiras do modelo social europeu e a sua capacidade de competir com economias que nem os direitos humanos respeitam (e ainda as deficiências apresentadas pelos sistemas de apoio social). Julgo que o apelo democrata à responsabilização do Estado em garantir condições mínimas aos cidadãos como saúde e reforma, ou a consciência de que, diga o que disser a emenda, a generalização do uso de armas e da ideia de que a auto-defesa é má, são pontos interessantes e que implicam alguma reflexão interna dos americanos sobre os caminhos que leva a sua sociedade. A reflexão sobre a política externa já me parece menor, a questão do Iraque coloca-se porque correu mal - não estou muito convencida que todas as ilações a tirar tenham sido tiradas.
O papel da mulher, bom, se fosse só no imaginário americano... Não digo que não, o que afirmei é que no no caso concreto da Hillary, a questão passa mais pelo cansaço dos políticos de Washington (e não esqueçamos que falamos de uma federação) do que pelo facto de ser mulher, e vamos lá ver, as posições da Hillary e do Obama são algo diferentes, e pode haver alguma demagogia no discurso do Obama, mas não se lhe recuse alguma diferença - sem dúvida que é triste da parte de ambos esta discussão dos civil rights, embora entenda-se, que se há civil rights é porque uma data de gente lutou por eles, isto mesmo sem tirar o mérito do senhor de Washington que finalmente os integrou na esfera jurídica.
A viragem à esquerda implica uma reflexão sobre caminhos tomados pela sociedade e o seu combate, mudar o que desagrada.
vinhas disse…
Não estou a falar de regimes referendários ou o que seja. Apenas do bom e velho "uma pessoa,um voto...directo". Se fossemos por este método, Bush não teria chegado à Casa Branca e a América teria poupado tonelas de chatice para o mundo!
Ao elegerem um colegio eleitoral, o voto do povo cai num "limbo", disputado por multinacionais, lobbies e grupos de pressão que reflectem interesses minoritários.
Não quis falar do bipartidarismo porque é um sistema para o qual a Europa caminha (uns mais depressa que outros!) e que tem, justamente, a ver com o recuo das democracias ocidentais.

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