Evidentemente o que se passa em Itália à volta do futebol nada tem a ver com o desporto ou sequer com o negócio.
Tem sim uma ligação directa à sociedade e a política italiana e os seus perpétuos fantasmas e terrores.
Desde a formação do país até os poderes subterrâneos que o envolvem (Igreja, Cosa Nostra e autonomias mal resolvidas) provocam uma sensação de que se trata de um país não concluído.
O facto da unificação italiana ser algo de recente em termos históricos, do embrulho ideológico mal resolvido e da função da Igreja neste cosmos (antes caos) levanta algumas questões angustiantes para o país e para a tão louvada unificação europeia.
Se o poder político tivesse algum peso, tal como Thatcher o teve em Inglaterra, bania os clubes italianos das competições europeias até existirem garantias do comportamento dos adeptos.
Mas porque não o fazem?
Quanto a mim a explicação não está no aspecto económico (os investidores dos grandes clubes italianos sabem que se esta situação continua o negócio “morre” em Itália) mas sim no carácter político desta violência.
Contrariamente aos bandos ingleses, cujas manifestações de “bullying” têm a ver com um aspecto de violência gratuita e fanfarronice (a que associam símbolos de extrema direita como forma de provocação e não por vinculação política, que o nível politico dos ingleses não chega tão longe), as manifestações dos tiffosi possuem, de facto um radical político evidente.
Há um ídolo nacional (o Duce), há iconografia, há a memória de um tempo glorioso e, sobretudo, há o sentimento de que as corporações tomavam conta dos trabalhadores e o Estado do resto. Este colo materno pátrio que agora falta aos deserdados da economia.
No campo oposto, adeptos de outros clubes de menor grandeza (Livorno, por exemplo) cuja iconografia e rituais são marxistas – leninistas!
À mão estendida responde o punho fechado! Aos insultos rácicos respondem as imagens de Che, tudo isso num espaço desportivo que reconfigura a política.
Ora, aqui reside a questão.
Que outra arena encontrarão estas pessoas se os estádios fecharem e os seus ídolos partirem para campeonatos mais amenos?
É o temor da desordem, da emergência de extremismos, a conflitualidade social e o abandono/ percepção do real papel dessas forças ocultas que governam e limitam a Itália que impede uma posição de repressão aos excessos “desportivos”.
O passado recente de Itália com a Máfia, as Brigadas Vermelhas, a corrupção política e a gestão eclesial do poder, afundaram esta quase potência, condenando-a a ser um “quase grande da Europa”. A profunda divisão social subsiste e é latente.
E a ausência de circo pode trazer para a rua os excessos contidos dos regionalismos, extremismos e as situações mal resolvidas de uma sociedade que reflectiu muito sobre si própria, inspirou civilização e tem uma quota parte significativa do rosto e alma da Europa, mas que não soube ou não pode alterar a camisa de forças em que se vê envolvida desde o pós guerra.
Veremos que respostas darão os organismos europeus (os do futebol pelo menos). Salvarão o negócio ou a Itália?
Vinhas
Tem sim uma ligação directa à sociedade e a política italiana e os seus perpétuos fantasmas e terrores.
Desde a formação do país até os poderes subterrâneos que o envolvem (Igreja, Cosa Nostra e autonomias mal resolvidas) provocam uma sensação de que se trata de um país não concluído.
O facto da unificação italiana ser algo de recente em termos históricos, do embrulho ideológico mal resolvido e da função da Igreja neste cosmos (antes caos) levanta algumas questões angustiantes para o país e para a tão louvada unificação europeia.
Se o poder político tivesse algum peso, tal como Thatcher o teve em Inglaterra, bania os clubes italianos das competições europeias até existirem garantias do comportamento dos adeptos.
Mas porque não o fazem?
Quanto a mim a explicação não está no aspecto económico (os investidores dos grandes clubes italianos sabem que se esta situação continua o negócio “morre” em Itália) mas sim no carácter político desta violência.
Contrariamente aos bandos ingleses, cujas manifestações de “bullying” têm a ver com um aspecto de violência gratuita e fanfarronice (a que associam símbolos de extrema direita como forma de provocação e não por vinculação política, que o nível politico dos ingleses não chega tão longe), as manifestações dos tiffosi possuem, de facto um radical político evidente.
Há um ídolo nacional (o Duce), há iconografia, há a memória de um tempo glorioso e, sobretudo, há o sentimento de que as corporações tomavam conta dos trabalhadores e o Estado do resto. Este colo materno pátrio que agora falta aos deserdados da economia.
No campo oposto, adeptos de outros clubes de menor grandeza (Livorno, por exemplo) cuja iconografia e rituais são marxistas – leninistas!
À mão estendida responde o punho fechado! Aos insultos rácicos respondem as imagens de Che, tudo isso num espaço desportivo que reconfigura a política.
Ora, aqui reside a questão.
Que outra arena encontrarão estas pessoas se os estádios fecharem e os seus ídolos partirem para campeonatos mais amenos?
É o temor da desordem, da emergência de extremismos, a conflitualidade social e o abandono/ percepção do real papel dessas forças ocultas que governam e limitam a Itália que impede uma posição de repressão aos excessos “desportivos”.
O passado recente de Itália com a Máfia, as Brigadas Vermelhas, a corrupção política e a gestão eclesial do poder, afundaram esta quase potência, condenando-a a ser um “quase grande da Europa”. A profunda divisão social subsiste e é latente.
E a ausência de circo pode trazer para a rua os excessos contidos dos regionalismos, extremismos e as situações mal resolvidas de uma sociedade que reflectiu muito sobre si própria, inspirou civilização e tem uma quota parte significativa do rosto e alma da Europa, mas que não soube ou não pode alterar a camisa de forças em que se vê envolvida desde o pós guerra.
Veremos que respostas darão os organismos europeus (os do futebol pelo menos). Salvarão o negócio ou a Itália?
Vinhas
Comentários
Depois de toda a confusão, do tiroteiro, todos os Italianos mostaram solidariedade e pesar pelo o que aconteceu.
Agora se a ideia do post é demonstrar que o futebol é uma forma de desviar atenções de questões politicas, bem... Salazar já nos ensinou isso à muito tempo. Extrapolar e dizer que os clubes e claques que rivalizam entre si fazem-no segundo convicções politicas, sinceramente deixa-me perdido.