Pular para o conteúdo principal

2010 e 2011:Entre balanços e previsões


Há algo de mórbido neste trabalho jornalístico dos balanços e previsões.
É semelhante a passar fins-de-semana em velórios.
Os balanços e as previsões tem o condão de nos deixar a sensação de que não iremos mudar de ano mas sim viver uma espécie de prolongamento da desgraça.
Andei a visitar vários sítios e todos são unânimes nisso.

Os balanços são uma seca pior do que as previsões, que pelo menos tem o condão de aguçar a curiosidade pelo que está para vir!
As televisões e imprensa em geral repisam as desgraças todas, os mortos, os terramotos, um tiroteio na América, uma perseguição de carro (também na América), um serial killer alemão e um canibal russo!
No final, numa nota de esperança e alívio depressivo, mostram, acompanhados de música cândida, o bem e o belo (versão oficial), as criancinhas a correr na praia, etc.!

A imprensa económica especializada diz-nos o mesmo. Já sabemos e sinceramente acho que não será diferente de todos os outros anos: incomodamo-nos, agitamo-nos aqui e ali e depois adaptamo-nos neste costume no bem nacional costume de rosnar mas não morder.
Toda a gente sabe que vai ser difícil e que muita gente partirá do país.
É a cruz nacional desde os Descobrimentos: partir.

A imprensa de “referência” (o termo designa os grupos financeiros ou partidários que a controlam, sendo pois identificável se é imprensa Balsemão-Cavaco, Sonae-Jerónimo M., Bloco das corporações judiciais, Banca privada, PS pró-aparelho, etc.) também carrega na crucificação do pobre.
A excepção à desgraça vem dos desportivos, com as vibrantes contratações de Janeiro, as provas internacionais que terão lugar por este mundo fora a começar numa que se chama Paris-Dakar e é realizada entre a Argentina e o Chile, o que sempre achei cómico porque, desta forma, legitima uma prova do género Afurada-Brandoa chamar-se N.York-S.Petesburgo!

As previsões são mais divertidas.
Como ninguém sabe seriamente do que está a falar (fazer leituras das tendências sociológicas, económicas e políticas é possível mas é inegável que todos tentam puxar as "tendências" para uma terra muito particular ), qualquer pessoa pode dizer o disparate que quiser que ninguém vai mesmo levar a sério. São um pouco como as previsões do Marcelo R.S. de uma enorme influência entre dois canais de televisão, quatro restaurantes e duas sedes partidárias.O resto do país que o ouve apenas gosta dele porque lhes lembra os Gato Fedorento!
Ou como a profundidade politológica do Pacheco P., pessoa que comunica para o vácuo etéreo onde gravitam alguns eunucos, uma série de adolescentes que não arranjam namorada e pessoas com mais de 50 anos que acham que não podem começar a viver porque não encontraram a sua posição ideológica!

Mas ainda pode ser pior: pelo menos seis blogs e páginas pretensamente científicas dão como certo o choque de um cometa (não sei o nome, eles dão apenas a matricula do veículo!) contra a terra. Como sabemos, essas coisas das colisões podem dar cabo da espécie ou lançar-nos numa nova era glaciar, torrar-nos ou pôr-nos a surfar num enorme tsunami. Mas sinto que grande parte da humanidade está pronta para se confrontar com isso, graças a uma longa linha de maus filmes americanos que envolvem diversos tipos de catástrofe! Basta manter os pés secos e a pele hidratada!

Depois dessa consulta (que usei para outro post que não acabei porque me distrai com estas diversões!), cheguei à conclusão de que prefiro as previsões astrológicas.
Estas tem o dom de ter pelo menos uma dimensão positiva, são elogiosas ao nosso carácter e mostra aspectos da personalidade que eu desconhecia e que não devo ter mas que, por um minuto que seja, fizeram de mim um tipo fantástico!
O facto das previsões agragarem idades, género, classe e formação diferenciados tornam-nos criaturas universais alocadas a um grupo muito particular de falsos gémeos (para quando a concentração mundial de Sagitários!).

A todos espero que 2011 traga pelo menos as pequenas alegrias que compõem a nossa vida, os momentos mágicos em que sentimos a afectividade a tomar conta de nós.
Que tenham bons orgasmos e pouco tempo em filas de espera.
Que possam dar porque será um sinal de que tem a mais ou que são mesmo pessoas solidárias e que isso é intrínseco.
E que sejam capazes de aguentar o sofrimento provocado por gente estúpida e insensível e que avalia todos de forma negativa por não cumprir as suas ambições.
E que se revoltem, indignem e reajam, porque o tempo de aceitar calado está a terminar!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dos governos minoritários e maiorias absolutistas

Na óptica dos partidos mais votados em Portugal, a governação em situação minoritária ou de coligação é inviável. A ideia de um pequeno partido poder influenciar, propor e monitorar o comportamento aberrante dos partidos centrais é uma situação intolerável para estas máquinas de colocação de militantes e de controlo de investimentos privados. Acenam com o caos, a ingovernabilidade e o piorar da situação do país. Esquecem que o país caminhou para o fundo do abismo pela mão de ambos. Não por uma inépcia ou incapacidade das suas figuras, mas por dependência de quem os financia, de quem os povoa e da impossível subversão ao sistema corporativo vigente. Sócrates afrontou algumas destas entidades instaladas e vive a antropofagia quotidiana dos jornais e televisões e – vejam lá – ele não é um perigoso extremista, até porque o seu partido chutou soberanamente João Cravinho para canto, mais os seus amoques contra a corrupção. Se a memória não me falha Ferreira Leite foi a Ministra que teve a pe

Balanço e Contas: 2 anos de governação

Ao fim de 2 exaustivos anos de governação importa fazer uma reflexão não sobre os atos do governo mas sim sobre o comportamento da sociedade em geral relativamente ao que se está a passar. Para faze-lo, importa ter presente algumas premissas que a comunicação social e as pessoas em geral insistem em negligenciar e a fingir ignorantemente que não são as traves mestras do comportamento governativo: 1. Este governo não governa para os portugueses nem para os seus eleitores; 2. Este governo não pretende implementar qualquer modelo económico. Pretende apenas criar a rutura necessária à implantação de um; 3. A sua intervenção orienta-se por uma falsa perceção de que a sociedade portuguesa entrou em rutura com o socialismo e as conquistas sociais do 25 de Abril; 4. Para agradar credores e cair no goto do sistema financeiro que irá propiciar empregos futuros a quem for mais bandalho com o seu país, usou o medo para tornar a mudança incontornável, culpando e responsabilizan