Pular para o conteúdo principal

Presidenciais: alguém tem visto?


Entre 700 e 800 mil pessoas cumprem o nobre sacrifício de acompanhar os debates das presidenciais. Dá para aí um “share” de 20% e um fundo de tabela no top ten.

São pessoas a que louvo a capacidade, a crença e o investimento.
Sinto remorsos por não ser uma delas mas não consigo, está para além do meu nível de tolerância.

Há razões que me levam a resistir ao apelo.
O PR é um lugar de representação da nação, de garante último da Constituição. Com poucos poderes e ainda bem e que o seja por muito anos.

Tem pois de ser um indivíduo com créditos políticos, afável e popular sem ser populista, alguém que a nação acredite que mereça. E o mérito aqui é muito importante porque o cargo é encarado como uma espécie de “prémio carreira” que é dado em duas partes, ou seja, dois mandatos. Se só ganhar um tem apenas meio mérito, medida que serve para designar também a circunstância de “não havia outro melhor”.
Assim como nas empresas dão ao trabalhador um relógio, uma gravata ou uma caneta com o nome, o cargo de presidente é um bónus para quem (espera-se!) não vai fazer mais nada na política, esvaziando lentamente o balão das suas influencias nos anos que se seguem e a quem depois fazemos uma homenagem e três programas biográficos na televisão aquando do falecimento.

Também deve ter algumas características muito particulares: ou alto (para não ficarmos inferiorizados quando nos visitam nórdicos ou jogadores de basquete) ou anafado (a mostrar a nossa faceta hedonista e pecadora). Tem de usar gravata mas saber tirá-la quando necessário. Tem de saber falar com as criancinhas sem aquelas horríveis conversas que arranca os “siiiim” e naaaaão” em uníssono de quem está a fazer um frete descomunal. Por favor, aprendam a falar de jogos, consolas e de filmes com vampiros!
Tem de saber ir aos lares e mostrar vergonha pelas suas opulentas reformas que lhes permitiram chegar a estas idades ainda com ambições de poder e que condenaram a maior parte dos idosos a indigência completa e a mais ignóbil pobreza.
Melhor talvez não visitarem lares!
Aprendam a segurar numa enxada, numa pá a usar uma colher de pedreiro. Sejam capazes de ouvir a banda dos bombeiros da terra mas aceitem o hip hop dos bairros degradados e que os ouçam mesmo que lhes seja incomodativo alguma identificação com as desgraças nacionais.
Convém que mantenham as suas convicções: se gostam de touradas não se ponham a ponderar na posição do toiro só porque recebe criticas.

Por estas razões e por achar que nenhuma das almas a concurso preenchem os meus requisitos vou aproveitar o dia das eleições para trabalhar sossegadito sem interrupções e telefones a tocar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

2013: O que fazer com um ano inútil

Resumindo tudo e contra a corrente de louvor papal, o ano de 2013 teve como figura principal o conflito e poderia ser retratado por um jovem mascarado a atirar pedras contra a polícia. Nunca como em nenhum outro ano a contenção policial foi necessária perante a ordem de injustiças, desigualdades, nepotismos, etc., etc. etc. Os Estados deixaram de representar os povos, as nações estão a ser desmontadas e os grandes interesses financeiros instalam-se com uma linguagem musculada sobre o mundo, definido as barreiras dos que tem e dos que estão excluídos deste novo mundo que se desenha, ficando ainda umas réstias por eliminar mas que se mantem enquanto necessárias. Neste mundo conturbado onde grandes interesses se disfarçam, de Estado (Rússia, China ou Coreia, por exemplo) e onde o Estado foi substituído por interesses específicos de natureza transnacional (Portugal, Grécia ou Itália) ou aqueles em que o Estado é uma fachada de recurso (EUA) para interesses particulares. A dívida, a crise,...

Srebrenica

Sbrenica faz 18 anos. É a prova de que a Europa nunca será unida e que, ciclicamente, fará as suas purgas, por dinheiro, crença ou prepotencia. Ou todas juntas.