À parte a imensa diversão que me inspira ver o desespero com que certas entidades estão a tentar “tapar a fuga”, o WikiLeaks é uma curiosa fonte de inspiração para o que se desenha como fim da decência politica, económica e social.
Não há alma no mundo com interesse na política, sociedade ou por mera raiva que não tenha curiosidade de espreitar o mundo de informações do site (é tanta que facilmente submergimos, não dormirmos, ficamos a ler mais uns até às cinco da manhã com dois cinzeiros cheios e um litro de café na conta).
Aguardo ansiosamente pela próxima leva que – espero – envolva os valores de empresas e pessoas com contas off-shore, dado importante para sabermos, por exemplo, porque pagamos mais IRS ou IRC, porque não somos aptos para uma “sociedade de excelência”, ou porque não sou tão produtivo como querem que eu seja. Espero também que possa revelar os planos de salvação das elites em casos de catástrofe, revolução ou guerra nuclear e os modelos de “solução final” que estão montados quando as coisas correrem mesmo mal (aquecimento global, escassez dos recursos hídricos, por exemplo).
Há planos específicos para tudo, acreditem. E em caso de desgraça, nem eu nem você seremos lembrados.
O projecto Wikileaks é interessantemente perigoso. Tem defeitos e virtudes e é de uma inegável utilidade a imprensa de serviço que critica ferozmente o Sr. Assanje e, ao mesmo tempo, baba-se por mais um escandalozinho na América.
A atitude global na sua defesa (o ataque dos hakers a Mastercard e a disponibilização de milhares de blogs para continuarem a divulgação dos documentos em caso de completo bloqueio) mostra quão importante é manter a Internet livre, mesmo com os perigos subjacentes.
Sem querer tornar ambígua esta opinião, tenho medido os prós e contras deste projecto e o modus operandi e concluo que mais vale um Wikileaks na mão do que ignorância a voar. Discordo porém da massiva informação disponibilizada porque nem tudo tem o mesmo peso e interesse e há sempre dimensões da informação que poderiam/deveriam ser protegidas porque, por mais defeitos que tenha a América, continuo a acha-la mais saudável que a Europa no capítulo da protecção de certos direitos.
Percebo que para provarem de forma ostensiva a veracidade do material e arrogarem que poder ter toda a informação que quiserem optem pelo imenso volume de conteúdos.
Como estratégia (e numa perspectiva de sobrevivência!) deveriam ter equacionado o quanto enterraram a América neste processo. Apenas a América irá pagar as favas por alguém dizer ou pensar que este ou aquele regime funciona de uma forma corrupta, ilegal, etc. etc.
E neste ponto, todos esquecem o fundamental e apontam para o acessório. Neste momento é mais importante o que a América disse ou pensa ou informa do que a realidade que expressa (essa sim preocupante!).
Qual é o choque por a América ter uma lista de áreas vitais à sua sobrevivência à escala global? Julgavam que não tinha? E novamente voltamos ao fundamental. Revela-lo é redundante e coloca em risco uma série de entidades e empresas e quem nelas trabalham e que não tem nada a ver com o caso.
Bastava-me saber que tinham, não precisavam enumerar e, no limite, poderiam divulgar uma parcela em caso do Departamento de Estado desmentir.
O volume do correio consular também não ajuda. Fiquei a conhecer mais informantes do que devia. Alguns terão a cabeça a prémio neste momento.
É neste aspecto que embirro com o site: a estratégia. Para mim seria mais afirmar mediante as provas recolhidas que esta ou aquela situação acontece. Se desmentirem, nós provamos o contrário. Se se recolherem ao silêncio, nós expomos.
O que fica então destas informações? O horror de confirmarmos que o que suspeitamos de tudo e quase afirmarmos a pés juntos que é assim aparece lá, escarrapachado: a leviandade dos regimes árabes, o absurdo mafioso da política russa e dos seus dirigentes, as informações europeias para a gestão do terrorismo de estado americano no que diz respeito aos supostos lideres talibãs (coisa que se faz desde a guerra fria!), os destacamentos especiais da NATO que operam por ordem directa do Pentágono, etc., etc.
Tudo isto já sabíamos. Não são práticas de hoje.
Cabe-nos ser criteriosos na forma como lemos, interpretamos e intervimos porque o pior que o WikiLeaks pode fazer é tornar-se um lugar comum em que as pessoas revem o “eu não te disse”, e viram para o outro lado.
O pior é a indiferença.
Não há alma no mundo com interesse na política, sociedade ou por mera raiva que não tenha curiosidade de espreitar o mundo de informações do site (é tanta que facilmente submergimos, não dormirmos, ficamos a ler mais uns até às cinco da manhã com dois cinzeiros cheios e um litro de café na conta).
Aguardo ansiosamente pela próxima leva que – espero – envolva os valores de empresas e pessoas com contas off-shore, dado importante para sabermos, por exemplo, porque pagamos mais IRS ou IRC, porque não somos aptos para uma “sociedade de excelência”, ou porque não sou tão produtivo como querem que eu seja. Espero também que possa revelar os planos de salvação das elites em casos de catástrofe, revolução ou guerra nuclear e os modelos de “solução final” que estão montados quando as coisas correrem mesmo mal (aquecimento global, escassez dos recursos hídricos, por exemplo).
Há planos específicos para tudo, acreditem. E em caso de desgraça, nem eu nem você seremos lembrados.
O projecto Wikileaks é interessantemente perigoso. Tem defeitos e virtudes e é de uma inegável utilidade a imprensa de serviço que critica ferozmente o Sr. Assanje e, ao mesmo tempo, baba-se por mais um escandalozinho na América.
A atitude global na sua defesa (o ataque dos hakers a Mastercard e a disponibilização de milhares de blogs para continuarem a divulgação dos documentos em caso de completo bloqueio) mostra quão importante é manter a Internet livre, mesmo com os perigos subjacentes.
Sem querer tornar ambígua esta opinião, tenho medido os prós e contras deste projecto e o modus operandi e concluo que mais vale um Wikileaks na mão do que ignorância a voar. Discordo porém da massiva informação disponibilizada porque nem tudo tem o mesmo peso e interesse e há sempre dimensões da informação que poderiam/deveriam ser protegidas porque, por mais defeitos que tenha a América, continuo a acha-la mais saudável que a Europa no capítulo da protecção de certos direitos.
Percebo que para provarem de forma ostensiva a veracidade do material e arrogarem que poder ter toda a informação que quiserem optem pelo imenso volume de conteúdos.
Como estratégia (e numa perspectiva de sobrevivência!) deveriam ter equacionado o quanto enterraram a América neste processo. Apenas a América irá pagar as favas por alguém dizer ou pensar que este ou aquele regime funciona de uma forma corrupta, ilegal, etc. etc.
E neste ponto, todos esquecem o fundamental e apontam para o acessório. Neste momento é mais importante o que a América disse ou pensa ou informa do que a realidade que expressa (essa sim preocupante!).
Qual é o choque por a América ter uma lista de áreas vitais à sua sobrevivência à escala global? Julgavam que não tinha? E novamente voltamos ao fundamental. Revela-lo é redundante e coloca em risco uma série de entidades e empresas e quem nelas trabalham e que não tem nada a ver com o caso.
Bastava-me saber que tinham, não precisavam enumerar e, no limite, poderiam divulgar uma parcela em caso do Departamento de Estado desmentir.
O volume do correio consular também não ajuda. Fiquei a conhecer mais informantes do que devia. Alguns terão a cabeça a prémio neste momento.
É neste aspecto que embirro com o site: a estratégia. Para mim seria mais afirmar mediante as provas recolhidas que esta ou aquela situação acontece. Se desmentirem, nós provamos o contrário. Se se recolherem ao silêncio, nós expomos.
O que fica então destas informações? O horror de confirmarmos que o que suspeitamos de tudo e quase afirmarmos a pés juntos que é assim aparece lá, escarrapachado: a leviandade dos regimes árabes, o absurdo mafioso da política russa e dos seus dirigentes, as informações europeias para a gestão do terrorismo de estado americano no que diz respeito aos supostos lideres talibãs (coisa que se faz desde a guerra fria!), os destacamentos especiais da NATO que operam por ordem directa do Pentágono, etc., etc.
Tudo isto já sabíamos. Não são práticas de hoje.
Cabe-nos ser criteriosos na forma como lemos, interpretamos e intervimos porque o pior que o WikiLeaks pode fazer é tornar-se um lugar comum em que as pessoas revem o “eu não te disse”, e viram para o outro lado.
O pior é a indiferença.
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