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2012 Análise Prospetiva Cenário z-0

Este é o cenário que pondera os equilíbrios das respostas da sociedade, tentando identificar zonas de progresso, estagnação e recessão. É sempre o cenário mais difícil porque joga com variáveis que se anulam e que no tempo e espaço dependem de outras condições acessórias que podem ou não ocorrer.

- Síntese Geral -

Estado

1º Trimestre
Trimestre recessivo e de contenção. Gastos do Estado aumentam com o processo de reestruturação das instituições, com necessidade de reorganização de quadros e integração dos elementos afetos aos partidos da maioria e desvinculação dos anteriores. Em termos fiscais verificam-se recuperação de dívidas antigas correspondente a processos residuais, ignorando a necessidade e pertinência de incidir os esforços nas mais avultadas, o que provoca a descrença popular. O crescimento de receita atenua a urgência de medidas extraordinárias.
A manipulação da imprensa e das estatísticas controladas pelo Estado servem para a construção de uma campanha positiva que não tem reprodução no real e que a torna facilmente desmontável aos olhos da OP.

2º Trimestre
Redução significativa de receita fiscal pelo efeito do subemprego, desemprego e reação das empresas que começam a transferir as suas sedes para fora do país. Governo lança mão da redução da TSU e da diminuição dos vencimentos públicos na ordem dos 10% para compensar perdas. A quebra dramática do rendimento do Estado é parcialmente compensada pelas privatizações não pelo lado da constituição de receitas mas pela poupança.
Primeiros casos de fome declarada compensada pelo investimento privado na solidariedade social e nas PPP’s sociais entretanto formadas. Gastos do Estado aumentam apesar de se verificar um crescimento de investimento externo.

3º Trimestre
Portugal tenta a renegociação da dívida em termos de prazos, apesar de vincar que mantem capacidade de pagamento, evitando funcionar num registo de perdão.
Os gastos do Estado crescem à medida que é necessário assegurar o crescimento no pagamento de pensões, proteção social, segurança interna e aparelho judiciário. Aumento do número de empregos de baixos salários e qualificação. Redução do salário mínimo e benefícios sociais criam uma proximidade entre o trabalho e a indigência financeira, levando a extinção sistemática da classe média e a emigração massiva de qualificados. Constituição de uma elite de direita dominante, replicando um modelo liberal extremo de “cúpula e povo” e discurso individualista. Redução dos salários do privado. Gestão económica do país passa a ser intervencionada diretamente por FMI/BCE. Implementação de políticas de manipulação de imagem e informação.

4º Trimestre
Portugal mantém-se no Euro apesar da recessão ter exterminado a economia enquanto atividade social. O país torna-se o primeiro Estado gerido diretamente pela CE numa perspetiva de “Estado Liberal aberto” onde nada pertence ao país per se e a população é tratada como “emigrante” dentro do seu próprio território. Existe um aumento significativo do emprego e uma recuperação económica acelerada. Todavia os empregos qualificados ficam nas elites liberais e estrangeiros destacados pelas multinacionais.
Os “clusters” do turismo para idosos (resorts para os reformados alemães, franceses e ingleses), dos produtos alimentares certificados, do tratamento de lixos tóxicos (nas zonas abandonadas do interior) e das indústrias de transformação tecnológica e multinacionais de mão-de-obra intensiva de baixa qualificação serão os grandes empregadores do país.


Banca/Mercados Financeiros

1º Trimestre
Aumento de capital sem recurso a apoios devido ao intervencionismo legal. Atração de investidores financeiros estrangeiros com base nas taxas de juro elevadas para investimento de curto prazo.
Posicionamento de mercado com investimento de capital. Grandes empresas investem no mercado mobiliário tomando posições maioritárias em empresas. Negociação de marcas e patentes e aquisições de parcelas acionistas. Aproximação de interesses na área dos transportes, recursos hídricos, exploração mineira, finança e núcleos estratégicos de desenvolvimento tecnológico (representado por um conjunto de pequenas empresas economicamente saudáveis).
Capitalização crescente do mercado empresarial sem a contrapartida da Banca.

2º Trimestre
Encerram os primeiros bancos numa perspetiva de reorganização e fusão, tornando-os apetecíveis ao investimento estrangeiro. Falências duvidosas arrastam empresas de pequena e média dimensão e clientes em geral para a falência e sem hipótese de recuperar os seus créditos. Quebras avultadas no mercado de títulos e aumentos dos juros. A economia, fruto do abalo é vendida a preço de saldo ao capital estrangeiro, sempre disponível para “ajudar”. Implantação de novos aglomerados através da aquisição de terrenos e zonas industriais a preços de saldo. Posicionamentos no mercado de capitais. Reestruturações de topo e agrupamento de empresas de valor tecnológico no seio dos grandes grupos adquiridos em regime maioritário ou de elevada representação.

3º Trimestre
Fusões bancárias e novos bancos com sede no estrangeiro aparecem no país (alguns serão dos mesmos donos dos que faliram… aparte irresistível!). O estado não consegue gerar receitas deste “mini boom”, uma vez que quer as empresas, quer os bancos têm sede no estrangeiro. As fusões empresariais e alterações da estrutura produtiva alimentam o número de desempregados e os valores salariais decrescem para níveis entre os 15% a 25% aos atualmente praticados.
Esta turbulência leva a que o Estado aumente ainda mais a facilitação de contratação/despedimento, redução de taxas e custos fiscais da mão-de-obra.

4º Trimestre
Implantação de grandes grupos económicos que utilizam mão-de-obra intensiva e de baixo custo para exportação para América, Europa e África, aproveitando a plataforma logística privilegiada que Portugal apresenta. As infraestruturas rodoviárias e portuárias são adquiridas pelos mesmos grupos como forma de controlar todo o processo. Apesar do crescendo de postos de trabalho de baixa qualificação, os quadros médios e superiores acabam por ser ocupados por pessoas doutros países. Viveremos um tempo de proletarização e pobreza de elevada instrução, propiciando um outro modelo de combate político e social.

Empresas/Comércio/Distribuição

1º Trimestre
Manutenção constante dos resultados da exportação leva a uma carteira de encomendas suficiente para a manutenção da produção. Todavia como a capitalização e o crédito não é possível, as empresas de grande/média dimensão transferem as suas sedes para países com menor pressão fiscal. No comércio, mantem-se uma recessão elevada no mercado interno. As falências e encerramentos no comércio tradicional, arrastam empregados e arrendatários. Comércio de grandes superfícies afetado em menor escala.
A distribuição terá uma redução do volume de encomendas. A repercussão dos custos de distribuições provocadas pelo tarifário das autoestradas e custos de combustível levará a constituição de stocks em zonas periféricas às grandes cidades.

2º Trimestre
Redução drástica do consumo provocado pelo elevado desemprego e rendimento leva a que as empresas trabalhem numa perspetiva de mercado externo, gerando a falência das que não se orientam neste sentido. A produção de algumas delas passa para países onde os custos das matérias-primas e carga fiscal são mais baixas (Norte de África?) A baixa do custo de mão-de-obra e flexibilização dos despedimentos não é suficiente para compensar a permanência. A flexibilização laboral não gera ganhos de produtividade, sendo mais barato transferir o trabalho para outros países. Reformulação do comércio em mico-lojas que funcionam por encomenda, sem geração de stocks. Comércio paralelo e evasão fiscal generalizada. Revalorização das feiras. O comércio de "qualidade" fica entregue a pequenos "guetos" de ruas específicas nas cidades, com vigilância sofisticada e "métodos" próprios de seleção dos clientes.
Aglomeração de empresas do setor da distribuição e transportes em grandes grupos de localização regional como forma de atenuar custos e investimentos. Revitalização de uma nova forma de “economia de fronteira”.

3º Trimestre
Transferência massiva de sedes e centros de produção das empresas. Baixa significativa das receitas fiscais leva a alteração do paradigma contributivo no sentido de fixar grandes grupos empresariais em território nacional. Multinacionais adquirem as empresas públicas em privatização e empresas tecnologicamente avançadas.
Primeiras falências de grandes superfícies, provocando um arrasto no setor da distribuição. Deslocação do comércio de massas para as zonas fronteiriças do lado espanhol (presumindo a manutenção permanente de um nível de IVA inferior em Espanha e que, mesmo com crise a qualidade de vida do pais vizinho não será afetada). Consumidores que ainda tenham algum poder de compra fazem-no em Espanha, deslocando receitas para o país vizinho.
Aquisição por parte de multinacionais das empresas de distribuição e relocalização de armazenamento de forma a servir o território fronteiriço espanhol (aproveitando a menor fiscalidade) uma vez que o custo de mão-de-obra nacional entra, nesta altura em vertiginosa descida e o custo dos terrenos do interior dos dois lados da fronteira a um preço indigente. Teremos uma economia de fronteira caracterizada pela instalação de sedes em Espanha, com trabalhadores portugueses, servindo os dois lados da fronteira. Os trabalhadores serão contratados por uma “agência” de empregos local que fará a gestão da contratação e pagos a um nível ligeiramente superior ao território nacional, segundo as leis portuguesas (com menores direitos que a espanhola).

4º Trimestre
O Estado compreende que o processo de usurpação fiscal destrói a economia, que a proteção social caritativa, no Sec. XXI promove ainda mais violência social e que o pagamento da dívida necessita de uma moratória e renegociação de juros. Reconstrução do espaço económico nacional com outros protagonistas. Grandes grupos económicos “governam” a sociedade portuguesa, recuperando o emprego (de baixo custo) e apregoando a sua “responsabilidade social” através da implementação de “planos de saúde para o trabalhador e a sua família”, medidas de compensação de tempos livres” (as chamadas férias serão marcadas pela empresa nos locais por ela designados) e outras “engenharias” próximas da escravatura e controlo. Portugal existe mas pouco e o Estado praticamente assegura o aparelho policial, judiciário e legislativo.
O comércio será feito em grandes CC e ruas que deixam de ser propriedade pública para passar a gestão privada e onde se verificará o direito de acesso. O restante comércio será cooperativo (ou mesmo estatal para tentar controlar a fuga ao fisco), de entrega ao domicílio e associativo, onde os bens serão transacionados sem intervenção fiscal e serviços comerciais de transporte fronteiriço param as "grandes compras" em Espanha.
Desaparecimento dos fornecedores de origem nacional. Pressão dos grandes grupos ao poder político para a limitação da concorrência no setor.

Consumidores

1º Trimestre
Recuo acentuado do consumo à exceção de bens de 1ª necessidade. Incumprimentos generalizados na área dos seguros e créditos de consumo e habitação. Aumento significativo do número de sem abrigo nos centros urbanos, respondido pela construção de lares e estruturas das IPSS que, fruto de possuírem um estatuto diferenciado na aplicação do IVA passarão a ser os novos “empreiteiros”, muito embora saibamos que não existirá concorrência porque as obras serão para os “seus” associados.

2º Trimestre
Retração do consumo; incumprimento generalizado de diversas despesas de consumo (gás, luz, água, etc.) Crescimento constante do incumprimento do crédito a habitação e desvalorização do parque habitacional. O mercado de arrendamento não progride porque as famílias não tem capital para manter um aluguer e a mobilidade e flexibilidade laboral fazem as pessoas hesitar em qualquer tipo de investimento de médio/longo prazo. Regresso de parcelas importantes da população urbana para os campos. Todavia, por insuficiência de capital, investimento e conhecimento irão reproduzir a agricultura de subsistência, compensada por um sistema de trocas económicas diretas como forma de desonerar custos com necessidades básicas.

3º Trimestre
Desemprego elevado leva ao decréscimo do valor da mão-de-obra (extinção da figura do OMN). Reanimação do mercado de trabalho, agora que a economia destruída ressuscita pela mão de grandes multinacionais que “elaboram” os sistemas de proteção social empresarial, retirando o Estado do processo. A criminalidade é combatida de forma extrema e os órgãos de informação são instados a desinformarem sobre a criminalidade de subsistência e ação sindical (como atualmente). Cidadãos das zonas “bem” das cidades pressionam a criação de limitação de acesso a determinadas ruas e pressionam para que o policiamento “privado” possa usar armas.

4º Trimestre
Resultado de uma economia orientada de acordo com interesses supra nacionais e de acordo com os desejos do capitalismo radical: 30% da população vive em precaridade grave, 30% em pobreza extrema, dos quais 10% em situação de fome. A classe média passa a ser um território residual onde as pessoas executam uma mobilidade estrita entre a pobreza e o conforto conforme a sua utilidade profissional.

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