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2012 Análise Prospetiva Cenário z+1

Este é o cenário mais positivo que atingi em termos de análise. Como o ponto de partida não é muito satisfatório, claramente se verifica que o cenário parece uma “evolução na desgraça”. Estagnar, neste momento, até pode ser uma coisa boa…
- Síntese Geral -

Estado
1º Trimestre
Encerramento 2011 com resultados positivos ao nível do IVA. Crescimento modesto de IRC e perda de receitas nos restantes impostos duplicados ao consumo (IA, ISP, IMI, etc.). Aumento das receitas do IVA no final do trimestre. Correção do défice por via da transferência de fundos de pensões e encurtamento das despesas do Estado, através do plano de fusões/extinções das PPP’s e adequação dos recursos humanos.
Conflitualidade laboral latente não sofre crescimento por via do receio das pessoas com os futuros despedimentos. Acréscimo de gastos com a Segurança Interna, onde o governo assentará a sua política de controlo social.

2º Trimestre
Apesar da diminuição da receita fiscal, a despesa do Estado também recua, compensando a perda de input financeiro. Governo lança mão da redução da TSU e da diminuição dos vencimentos públicos na ordem dos 10% para corrigir o seu plano. A pobreza que grassa na sociedade é compensada pelas ações mediáticas e práticas caritativas da Igreja. O controlo da informação e estatística permite rebater argumentos da realidade. Advinha-se novos cortes nos vencimentos da FP e flexibilização dos despedimentos, apoiados em legislação criada para o efeito e a conivência do aparelho judiciário, totalmente controlado pelo poder político.

3º Trimestre
Renegociação da dívida mas manutenção no Euro. Os gastos com a segurança do Estado crescem cerca de 25% Suportados em larga medida pela venda patrimonial das empresas públicas e por nova legislação de falência que dá primazia ao Estado sobre os restantes credores. A atividade pública fica reduzida a Justiça, Administração Interna, Forças Armadas e Finanças. A Segurança Social é vendida a uma sociedade bancária e seguradora que passa a administrar os recursos e absorver as dívidas.

4º Trimestre
Recuperação de postos de trabalho, fruto da contratação barata de uma mole desempregada e faminta. Os vencimentos são muito baixos e o volume fiscal começa a decrescer para o cidadão. O Estado é uma versão resumida da soberania.
A solução carismática de salvação do país será apoiada por multinacionais e apadrinhada pelas potências emergentes.
O processo de integração na “Nova Comunidade Europeia” encarregar-se-á de assegurar o balizamento da nacionalidade (língua, história e tradições).


Banca/Mercados Financeiros
1º Trimestre
A Banca opta por manter-se fora dos apoios ao financiamento que condicionam a sua autonomia de gestão e mantem-se no mercado, aproveitando a constante baixa dos juros do BCE e da lenta desvalorização do Euro. Flutuações do mercado fruto de pequenas intervenções de grupos económicos tomando posição em algumas empresas. Movimentações discretas e posicionamento de mercado com investimento de capital. Negociação de marcas e patentes e aquisições de parcelas acionistas.
Estado inicia o processo de alienação da propriedade estratégica nacional.

2º Trimestre
Banca e mercados vão readquirindo liquidez através do processo de privatização de setores económicos e estratégicos dos transportes, água e exploração mineira.
Sedes bancárias transferem-se para mercados fiscalmente atrativos. Bancos de menor projeção são comprados por grupos de investimento com interesse no mercado através de operações de “keiratsu”.
Aquisição de terrenos e zonas industriais a preços de saldo. Posicionamento no mercado de capitais destes mesmos grupos. Agrupamento de empresas de valor tecnológico no seio dos grandes grupos adquiridos em regime maioritário ou de elevada representação.

3º Trimestre
Início do processo de privatização da CGD. Banca privada readquire níveis de capitalização aceitável que lhes permite facilitar condições de acesso ao crédito a empresas.
Reativação do setor empresarial leva a uma maior crença dos investidores que passam a acelerar o processo de capitalização. Investidores de grande dimensão que tomaram posição no mercado ainda na fase depressiva são agora detentores de empresas, banca e infraestruturas que lhes permite funcionar em regime de monopólio alargado. A sua dimensão determina um regime de dominância e influência decisiva ao nível do poder político. Os grandes grupos económicos substituem-se ao Estado na promoção do emprego, na proteção social, cuidados de saúde e reforma.

4º Trimestre
Portugal vai sendo formatado e apresentado como “o segundo milagre económico europeu”, numa campanha de marketing e imagem nunca antes inventada. Fomenta-se o orgulho nacional embora nada já seja português, valorizam-se o esforço e tenacidade nacional embora tudo fosse promovido pelo capital internacional, volta-se ao discurso do “bom aluno que passou a professor” e é um exemplo para outros países. Todas estas circunstâncias foram possíveis porque o Euro aguentou-se, a Alemanha “dobrou” a Europa e a derrota da democracia face ao capitalismo. Vive-se um período de recuperação económica. No entanto, este crescimento não tem reprodução social uma vez que apenas privilegia os postos de trabalho de baixa qualificação, fazendo com que os rendimentos, massa salarial, poupança e investimento da sociedade portuguesa seja mínimo ou mesmo inexistente. Isto indicia que, dentro de 15/25 anos reiniciaremos um novo ciclo de crise.

Empresas/Comércio/Distribuição
1º Trimestre
Manutenção de bons resultados da exportação apesar da diminuição generalizada da produção industrial fruto da quebra do consumo e do custo de matérias-primas e energia. Ausência de investimentos e fracos dividendos e resultados.
Crescimento vertiginoso das falências no comércio arrastando o desemprego e os arrendatários. Comércio de grandes superfícies afetadas em menor escala mas o suficiente para o esvaziamento de espaços e lojas.
A distribuição terá uma redução do volume de encomendas. A repercussão dos custos de distribuições provocadas pelo tarifário das autoestradas e custos de combustível levará a constituição de stocks das empresas com maior capital. A clientela das entidades transportadoras será reduzida.

2º Trimestre
Hecatombe do tecido empresarial de pequena e média dimensão que não consegue entrar no mercado internacional. O preço das matérias-primas, da energia e da fiscalidade são compensados pelo constante decréscimo dos custos de mão-de-obra e flexibilização dos despedimentos. Reformulação do comércio em mico-lojas que funcionam por encomenda, sem geração de stocks. Revalorização das feiras. O comércio de "qualidade" fica entregue a pequenos "guetos" de ruas específicas nas cidades, com vigilância sofisticada e "métodos" próprios de seleção dos clientes.
Aglomeração de empresas do setor da distribuição e transportes em grandes grupos de localização regional como forma de atenuar custos e investimentos. Revitalização de uma nova forma de “economia de fronteira”.

3º Trimestre
Tímidos sinais de recuperação interna, com produtos a preços de baixo custo e alguma reanimação do mercado de emprego de baixa qualificação e decréscimo dos custos sociais do Estado assentes na forte emigração portuguesa de jovens e quadros qualificados e na demissão do seu papel interventor na proteção social.
Reestruturação das grandes superfícies para evitar a deslocação dos consumidores para as zonas fronteiriças, que ainda tenham algum poder de compra fazem-no em Espanha, deslocando receitas para o país vizinho.
Relocalização do armazenamento e distribuição na periferia dos centros urbanos uma vez que o custo de mão-de-obra, terrenos e infraestruturas estarão no nível mais baixo de sempre.

4º Trimestre
Reanimação do setor industrial (especialmente alimentar), empurrado pelas empresas exportadoras que, com a captação de novas encomendas, não consegue dar resposta, necessitando de “estruturas de apoio”. A facilidade de despedimento e baixos custos de mão-de-obra propiciam uma produção concorrencial. O comércio tradicional mantem-se apenas como curiosidade turística, com ar de “lojas de charme” a retratar um passado já inexistente realizado em ruas que deixam de ser propriedade pública para passar a gestão privada e onde se verificará o direito de acesso. Todo o restante comércio é ma competição entre as grandes superfícies e a fronteira.
Desaparecimento dos fornecedores de origem nacional. Pressão dos grandes grupos ao poder político para a limitação da concorrência no setor.

Consumidores
1º Trimestre
Recuo acentuado do consumo à exceção de bens de 1ª necessidade. Incumprimentos generalizados na área dos seguros e créditos de consumo e habitação. Aumento significativo do número de sem abrigo nos centros urbanos. Nova redução salarial da FP e insinuação da redução do valor do SMN.
Regressão da qualidade de vida nacional. Aumento explosivo do desemprego embora a criminalidade não suba numa razão direta.

2º Trimestre
Retração do consumo e incumprimento generalizado de diversas despesas de consumo (gás, luz, água, etc.) Crescimento constante do incumprimento do crédito a habitação e desvalorização do parque habitacional. O mercado de arrendamento não progride porque as famílias não tem capital para manter um aluguer que cresce mas cujo rendimento encolhe. Apesar destas condições, verifica-se uma ligeira animação do mercado de trabalho. Regresso de parcelas importantes da população urbana para os campos em regime de economia de subsistência.

3º Trimestre
Cessa o crescimento do desemprego. No entanto, a criminalidade (organizada e de subsistência) e a pobreza aumentam criticamente. Aumento da oferta de emprego sazonal e precário e por tarefa, destruindo o modelo de Estado Social em definitivo. Emigração massiva e irreversível de massa crítica.
Os Índices de desenvolvimento como saúde, educação e emprego caem para níveis do início anos 70.

4º Trimestre
Recuperação do emprego de baixa qualificação mas de grande fluidez e insegurança. Redução dos níveis de descontos salarias com proteção e segurança social. Cerca de 70% da população está no limiar da pobreza e a esperança de vida retrai-se para níveis anteriores aos anos 70. O fim da classe média permite a instalação no poder de regimes populistas que subvertem a Democracia dando origem a uma nova forma de organização social supra nacionalista, sem soberania, orientado para a ausência de mobilidade interclassista.
O que há de positivo nisto? Nestas circunstâncias, apenas a rebelião armada é possível.

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