Pular para o conteúdo principal

Nu e cru

Dramaticamente, a auto intitulada 2ª maior cidade do país corresponde ao 4º maior Concelho. Trata-se de uma cidade pequena em termos europeus e está a uma distância abismal de Lisboa.
A importância do Porto no contexto nacional está em perda desde meados dos anos 80 e a tendência será recuar ainda mais.
Com o crescimento da sociedade dos serviços, a especialização, a relevância do trabalho intelectual tornou-se evidente a fragilidade de uma cidade em que prevalecia a industria, o pequeno comércio, estruturado em baixos salários, baixa especialização e na emergência de uma falsa cultura burguesa que confundia empreendimento com oportunismo.
Enquanto a bandeira do Norte trabalhador se agitou, brandindo a diferenciação, sustentada por uma comunicação social própria, uma elite cultural “diferente” e protagonista e num clube que sistematizava o orgulho, foi possível esconder a evidência de um mundo em perda.
A globalização levou a que a defesa do país fortificasse a economia na capital e à volta da mesma, sugando o que havia no resto do país.
A indústria tornou-se obsoleta, a pequena burguesia enfraqueceu, o pequeno comércio transformou-se num parque jurássico, o emprego desapareceu. Ficaram as inultrapassáveis corporações, famílias e interesses a gerir um vazio que antes gritava contra o Estado e o Poder e que agora venera e com ele partilha cama e mesa.
Sem empregos mas com a manutenção imobiliária de valores elitistas, o Porto foi esvaziando como um balão tonto durante os últimos 20 anos. Não faltou quem apontasse para o fenómeno desde o início mas estávamos embebidos em festa: tínhamos o rock nacional na mão (outra pura ilusão porque a gravação e construção da carreira passava por sair do Porto!), um FC Porto a ombrear com os grandes e motivo de orgulho sobre a capital e uma ilusão de riqueza que a Europa nos concedeu a troco da alma.
Hoje é a 4ª cidade do país correndo o risco de, daqui a 10 anos passar a 6ª ou 7ª.
O grosso do povo do Porto, vive agora em Gaia, Matosinhos e Maia. Face a ausência de alternativas os poucos quadros que a cidade dispunha partiram para Lisboa, Espanha e Itália (sabem quantos tripeiros estão em Itália?).
Perante o desespero os grupos políticos que necessitam de legitimar a sua existência inventaram uma Área Metropolitana do Porto, cujo resultado redunda numa Agenda, porque nada mais as pode unir (excepto as VL’s e circunvalações), dada a anarquia urbanística e ausência de pensamento estratégico das continuidades, sociais e culturais.
Algumas Câmaras já perceberam que, tal como o Alentejo, terão de ser elas a promover emprego porque nem o factor proximidade do Litoral ajuda a Região; o Turismo não tem estratégias integradas, antes parecendo que na altura das Festas andamos a ver quem leva o andor mais bonito. Resumindo: um fogo de artifício e uma corrida de aviões parecem ser o cluster insano da AMP!
Entre Autárquicas, o Porto perdeu mais 2.771 votantes e alguns dos que se mantém a votar na cidade já moram noutros Concelhos.
Moral da historia: Rui Rio pode ter ganho as eleições. A cidade do Porto é que não ganhou nada. E nem é por culpa dele, coitado, porque isso é um processo que não é da sua responsabilidade nem ele o pode controlar, nem poderia mudar o que fosse sozinho. Escusava era de ter agravado.
A única coisa que ficou de bom, que funciona imperturbável e une a suposta AMP é o FC Porto, esse mesmo que Rio não consegue digerir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dos governos minoritários e maiorias absolutistas

Na óptica dos partidos mais votados em Portugal, a governação em situação minoritária ou de coligação é inviável. A ideia de um pequeno partido poder influenciar, propor e monitorar o comportamento aberrante dos partidos centrais é uma situação intolerável para estas máquinas de colocação de militantes e de controlo de investimentos privados. Acenam com o caos, a ingovernabilidade e o piorar da situação do país. Esquecem que o país caminhou para o fundo do abismo pela mão de ambos. Não por uma inépcia ou incapacidade das suas figuras, mas por dependência de quem os financia, de quem os povoa e da impossível subversão ao sistema corporativo vigente. Sócrates afrontou algumas destas entidades instaladas e vive a antropofagia quotidiana dos jornais e televisões e – vejam lá – ele não é um perigoso extremista, até porque o seu partido chutou soberanamente João Cravinho para canto, mais os seus amoques contra a corrupção. Se a memória não me falha Ferreira Leite foi a Ministra que teve a pe

Balanço e Contas: 2 anos de governação

Ao fim de 2 exaustivos anos de governação importa fazer uma reflexão não sobre os atos do governo mas sim sobre o comportamento da sociedade em geral relativamente ao que se está a passar. Para faze-lo, importa ter presente algumas premissas que a comunicação social e as pessoas em geral insistem em negligenciar e a fingir ignorantemente que não são as traves mestras do comportamento governativo: 1. Este governo não governa para os portugueses nem para os seus eleitores; 2. Este governo não pretende implementar qualquer modelo económico. Pretende apenas criar a rutura necessária à implantação de um; 3. A sua intervenção orienta-se por uma falsa perceção de que a sociedade portuguesa entrou em rutura com o socialismo e as conquistas sociais do 25 de Abril; 4. Para agradar credores e cair no goto do sistema financeiro que irá propiciar empregos futuros a quem for mais bandalho com o seu país, usou o medo para tornar a mudança incontornável, culpando e responsabilizan