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Alice no país da crise

7. A Mad Tea Party

Juntaram-se às 20h15. O Ministro chegou atrasado. Coisas da chuva e das tarefas que o país precisa que sejam feitas.

A meio do whisky, o Comendador dá-lhe as boas vindas.

O Empresário A dá-lhe um grande abraço depois de voltar dos lavabos enquanto o Secretário de Estado saúda-o friamente por este não ter ainda despachado o assunto da empresa da esposa.

Era uma coisa pequena, bem podia ter mandado avançar. Bastava-lhe um telefonema e a coisa marchava. Mas não, sempre aquela mania de nos ter nas mãos até o momento necessário…

O Empresário B acena-lhe enquanto fala ao telemóvel para resolver aqueles investimentos no Brasil que precisam do aval do executivo do Maranhão. E rápido, que estas coisas de produtos alimentares tem de ser despachadas ou deixam de ser negócio.

- Diz ao homem para despachar o desmatamento para começarmos a plantar, o mais tardar em Agosto! – Sentencia o Empresário B.

- O Secretário de Estado, escondido por trás da longa ementa pergunta: Vão querer caviar para entrada?

- Faz-me gases, não! – Decide o Ministro. – Pode ser um cocktail de camarão.

- Para mim, umas tostas com fois gras – diz o Empresário A e virando-se para o Ministro – então o Ministério? Anda ou precisa de ajuda?

- Menos mal, menos mal – Oh Sr. Secretario pode mandar vir um vinho ligeiro para acompanhar o caviar? Ou talvez um vodka, sim um vodka.

- Sim, Sr. Ministro.

O telefone do Ministro toca. Era o Primeiro.

- Como está Sr. Primeiro. Sim…sim…com certeza… Estou à espera que o Gabinete termine o estudo de viabilidade…. Claro que vão concluir o que já sabemos, porque os dados que avançamos apontam neste sentido…Olhe, por acaso estou com ele à minha frente… (O Sr. Primeiro manda-lhe um abraço e pergunta pela esposa)

O empresário B responde com um aceno afectivo enquanto despacha pelo telemóvel:

-Aquele é um banana! Pressiona o tipo.

O empresário A atende o telefone pedindo desculpa mas é urgente.

- Então? Temos crédito para o investimento na Polónia?...Sim alargamento…sim são mais umas lojas no centro do país…Não vai haver problemas que os Autarcas são iguais aos nossos…

- Mais um whisky, por favor – pede o Secretário de Estado meio ensonado e com o olhar perdido no decote da jovem da outra mesa que acompanha um cinquentão com o cabelo escorrido a gel para a nuca.

- Bem boa, pensou. Deve ser universitária de serviço…

- Sr. Primeiro, o empresário B não estava a falr de si! É um negócio que ele está aqui a discutir…

- Sei lá, paga-lhe uma férias na Europa, que tal? Diz o empresário B.

- Não! A contratação de pessoal é fácil e o despedimento também. Tem tudo para ter impacto.

- O estudo estará pronto para passarmos aos jornais em … Setembro. O que? Espere vou perguntar.

O Ministro dirige-se ao empresário B: - Quando é que vocês vão fazer aquele investimento imobiliário em Viseu?

- Julho – responde o Empresário B. – Não, nós temos de ter isso em Agosto! Não estava a falar contigo..

- Não, o empréstimo tem de ser do vosso Banco na região. Porque acha que eu participei na compra deste Banco convosco? Nem era assim tão atractivo…mas já pensava em aproveitar para este negócio.

-Ah chegou o caviar e o fois gras – disse contente o Secretário, um pouco toldado e perdido de amores pela universitária da outra mesa.

- Sim, em princípio é só bananas. Não o terreno depois fica para a família dele. Só precisamos de especular para baixar o preço do nosso fornecedor. Basta uma temporada…

- Certo. Espero que me digas alguma coisa esta semana, remata o empresário A.

- É assim mesmo. Termina lá este negócio que eu tenho gente à minha espera. Abraço. O empresário b finaliza o seu assunto.

- Não Sr. Primeiro, está tudo sobre controlo. Absolutamente. Até amanhã Sr. Primeiro.

- Bom, acho que podemos jantar, não? – Diz o Ministro, fechando a tampa do telemóvel.

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