Quando escrevi sobre “Os cinco cenários da economia mundial após a crise dos mercados” apontava para um conjunto de circunstâncias que envolveria a resposta ou não resposta dos Estados à crise e presumia sempre um Estado activo na construção política.
Com boas ou más decisões, o modelo tinha por ponto de partida um Estado pró-activo ou reactivo, capaz de encetar medidas comuns à escala mundial e regional mesmo que em tempos diferentes ou isoladas.
No pior cenário a construção assumia um modelo de execuções dispersas.
Não contei com o cenário da inacção dos Estados, mea culpa.
Assumi sempre que a política poderia jogar um papel de relevo, mesmo que encetando acções inequivocamente favoráveis a manutenção de um sistema morto.
A inacção dos Estados (do Estado português em particular) corresponde não a uma surpresa mas sim a uma preocupação efectiva. Em primeiro lugar porque o modelo de recuperação assenta na evidência da sua falta de envolvimento na estrutura do país.
O Estado português é uma despesa, um empregador e um consumidor mas não uma estrutura coerente e envolvida no corpo da sociedade. É uma amálgama de coisas centralizadas numa cidade, incapaz de perceber o que governa, procedendo a sua auto – gestão numa perspectiva de se manter pesado, ineficaz e asfixiante.
Não é preciso ser liberal para perceber que a estrutura do poder, com as suas pastas, subpastas, secretarias, fundações, etc., etc. lembram aqueles arbustos plantados em vasos que, passados os anos, desenvolvem raízes, radículas e capilares de tal forma que comem a terra toda. Vão secando, agonizando, mas sempre a florescer e quando o jardineiro distraído tenta sacar a planta para um vaso maior (coisa que não poderemos fazer) simplesmente não consegue tirá-la, tal o enlaçado monstruoso de raízes sem fim e que se agarram ao vaso de tal forma que a única possibilidade é destruir o vaso se quisermos salvar a planta.
Assim, a resposta a crise só pode ser uma: taxar o rendimento. Porque? É mais fácil, a população já está habituada e é uma forma fácil de evitar que alguém escape.
Nenhuma medida de controlo ou cobrança às instituições financeiras, nenhuma medida de emagrecimento na gestão estatal (as que há, são nas dotações às estruturas sociais. O aparelho mantém-se, firme e hirto como uma barra de ferro!).
Não, a estratégia é sobejamente conhecida: os malandros do RSI, as famílias têm de consumir menos, os impostos retroactivos. O Estado: nada.
Quando mexem nunca é na sua dimensão, mas na resposta social. Fecham-se escolas no que já chamo por novo plano de desertificação nacional, encolhem-se serviços e prestações sociais enfim, o controlo sobre os calaceiros que somos nós, os que não fazem parte da “raiz” do problema.
Aliás, fazendo jus ao passado de denunciantes e bufos de vária ordem, o controlo é a palavra-chave do Estado português.
Não é preciso fazer nada, basta controlar.
Até o pioneirismo tecnológico nacional o demonstra. Somos pioneiros nos sistemas de controlo de portagens. Controlo, sempre controlo.
Não há uma única medida de auto – regulação do Estado contra a crise.
Porque será que ninguém deu conta que o acerto entre o Croquete e o Batatinha (leia-se os lideres do Bloco Central) passa soberanamente pela questão?
Dentro de alguns (poucos anos) teremos um vaso, uma planta morta e ninguém a cuidar do jardim.
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