Pular para o conteúdo principal

Os cinco cenários da economia mundial após a crise dos mercados

1- Recuperação
Fruto das constantes injecções de capitais, as bolsas recuperam a estabilidade gradualmente. Apesar do valor do dinheiro baixar significativamente não há inflacção dada a incapacidade dos consumidores individuais, uma vez que o capital criado é para “limpar investimentos e créditos das grandes instituições.
A desaceleração dos mercados (importação/exportação) leva ao arrefecimento comercial e ao crescimento da produção/consumo interno, ancorado na imprevisibilidade dos custos da energia que continua a sofrer oscilações violentas.
A pouco e pouco os Estados vão retirando dinheiro do mercado à medida que a liquidez das instituições for aumentando.
O acesso ao crédito e investimento passarão por uma fase de evolução lenta e a instalação de maiores mecanismos de controle no mercado não restaurarão a confiança no médio prazo, o que levará a necessidade de aumento da despesa dos Estados com a protecção social ao desemprego e ao aproveitamento das sinergias internas (produtos ecológicos, tradicionais, etc.)
A lentidão e o controle deste processo terá de ser efectuado pelo conjunto dos Bancos Centrais (nem pensar em deixá-los ao sabor da política!) e a calibragem entre eles para que não ocorram derrapagens (o caso crítico do Japão será um deles).
Penso que este modelo poderá ter sucesso ao fim de uns 5 anos se entretanto a contestação social não eclodir de uma forma vincada. Mas para isso estão cá os mecanismos de costume…

2- Ruptura
Apesar de todas as tentativas de “subsidiar” a indigência das instituições, verifica-se que o “buraco” é – à escala global – maior do que a cobertura que os Estados podem dar e que por mais concertação mundial na injecção de capitais que haja, não será possível suportar o crash e manter um padrão de mercado Ocidental. Perante o dilema,os Estados não acordam em politicas comuns e efectuam políticas diferenciadas, com o Japão e os USA a injectarem dinheiro nas suas economias e a Europa a nacionalizar as falências.
Com dois cenários distintos e o valor do dólar a cair, a Europa estagna e o comércio mundial pura e simplesmente cessa.
A pressão económica da China, sem lenha para alimentar a sua fornalha, cai abruptamente.O capitalismo chinês, russo e árabe partem para cima das economias ocidentais, numa voraz “invasão” económica também ela especulativa. Estes investimentos levam a uma perda de soberania efectiva das nações e a sua debilidade política atrai capitais de “lavagem”.
Em ambos os casos, o povo em geral não tem qualquer benefício e perante a perda do emprego, da casa, do carro e do way of life ocidental começam a aderir a intervenções extremas e nacionalistas sobejamente conhecidas.
A fraqueza do Ocidente torna-se a fraqueza dos Direitos Humanos (não por causa dos Estados, mas dos cidadãos que sabem o valor da vida em Democracia e que pressiona – muitas vezes sem sucesso os Estados a uma atitude face a indignidade de certos países e poderes em relação à pessoa humana) e do Estado de Direito (já de si debilitado pelo constante arraial de diferença no tratamento de ricos e pobres!).
Neste cenário, a Europa afoga-se num período de trevas do qual não vejo regresso imediato. A CE desmorona-se, surgem as quezílias fronteiriças, rácicas e religiosas; os Estados fecham-se porque aos investidores das grandes nações interessa “dividir para reinar”.

3-Depressão
As medidas de compensação económica tardam em fazer efeito e a economia global afunda-se.
A Europa regressa a um “back to basics”, revalorizando a actividade industrial e agrícola e concerta medidas proteccionistas entre Estados.
A classe média vai desaparecendo da Europa, substituída por uma massa desempregada muito qualificada e instruída que reabilita os movimentos sindicais pela raiz, tornando-se numa força organizada que condiciona as políticas de Estado.
A América segue um caminho semelhante nunca deixando no entanto de promover a economia especulativa alicerçada no seu natural imperialismo geopolítico.
A recuperação económica é lenta, cruel e feita à custa de muitas vidas, sobretudo em África, no Leste europeu e Sudeste Asiático.
A desconfiança mútua levará a que os mercados necessitem de um longo prazo de reabilitação (não menos de 15 anos) e neste período as formatações políticas dos diferentes estados tenderão para o autoritarismo.
Repetir-se-ão os rituais obscurantistas do pré – 2ª Guerra Mundial e os conflitos armados verificar-se-ão inevitavelmente.
O único travão à xenofobia será mesmo a diversidade cultural e a origem dos escassos investimentos provenientes da América Latina, China e Rússia.
A ordem e repressão estatal tenderá a ampliar-se e a enquadrar o cidadão de uma forma absolutamente revoltante. Será o início do Admirável Novo Mundo.

4-Extinção
Nenhuma das medidas de falsa capitalização do mercado encetadas pelos Bancos Centrais resulta e a economia global mergulha numa recessão profunda cuja duração pode estender-se por mais de 10 anos.
O colapso leva ao descrédito todo o sistema político e económico, emergindo desta situação novos extremismos políticos que encontram terreno fácil junto dos novos pobres.
Os USA vivem um clima de quase guerra civil, com a prevalência de gangs armados, cultos religiosos com exércitos próprios e grupos armados de justiceiros locais. O Estado desagrega-se, havendo grupos de Estados da Federação a equacionar a secessão.
A Comunidade Europeia começa a desagregar-se na tão europeia prática do salve-se quem puder; hordas de emigrantes são devolvidas à casa, mesmo que isso represente a sua morte. A Rússia com a desagregação europeia vê terreno para recompor as suas fronteiras de segurança e a reinstalação de sistemas pró russos no Leste europeu, gerando conflitos étnicos, religiosos e separatistas.
A África, entregue a si própria é pasto dos senhores da guerra desagregando-se consecutivamente em micro estados sem qualquer estrutura política.
A Ásia, entre a fome e a extrema riqueza, ressuscita os modelos maoístas de rebelião. O terrorismo e extremismo islâmico já não precisam de recrutar pessoas; estas virão naturalmente ter com líderes religiosos dementes que professarão o alargamento do Islão. Israel não conseguirá manter-se como Estado perante a pressão do terrorismo internacional, transformando-se num Estado militar cuja tarefa belicista será a conquista e alargamento do território. Será a primeira nação guerreira do mundo contemporâneo, embora dificilmente resistirá sozinho à confrontação.
A América Latina caminhará para uma Estatização severa, encerrando as suas fronteiras e armando-se contra potenciais interesses americanos.
Neste cenário de desagregação nada obsta a que um demente qualquer queira carregar num botão…

5-Renascimento
As medidas tomadas não são surtem efeito e da depressão, desemprego e luta pela sobrevivência, surge uma nova consciência na Europa de que o caminho trilhado entre a Renascença e o Século das Luzes tem de ser recuperado à partir da experiencia e saberes adquiridos ao longo dos tempos. Há um regresso da actividade humana ao que de essencial necessita (reabilitação do património construído, preservação ambiental, actividade agrícola, retorno das cidades a centros de saber e cultura e gente, recuperação do valor intrínseco da solidariedade, respeito e valorização da diversidade, empreendorismo sim mas para o bem comum. A Lei volta a estar ao alcance da compreensão do cidadão médio e a todos serve por igual. A rejeição do atavismo ideológico substituído pela compreensão e acção comum nas sociedades).
Este movimento mental condena o capitalismo ao fracasso e inibe a emergência de totalitarismos, enfraquece as corporações e limita a acção de reconversão das crenças da propriedade.
Face as mudanças de mentalidade, os partidos e os políticos são forçados a converter-se em entidades reflexivas e não activas, cativando pessoas pelas seus saberes.
Este “motor” europeu provoca uma sinergia que a pouco e pouco contagia a América que, sem parcerias para reerguer um sistema capitalista tout court, absorve a sua influência.
Com a queda da propriedade do altar de adoração e as pessoas forçadas a uma vida mais frugal, os recursos crescerão e serão mobilizados para o bem comum.
O comércio internacional reger-se-a por um processo de equivalências entre as capacidades produtivas e necessidades específicas.
A ONU passa a ter cada vez mais um papel regulador, em substituição dos mercados, promovendo a convergência, a criação de fundos alimentares para catástrofes, secas, etc.
Por falta de parceiros, os países totalitários perderão a sua força, podendo no entanto entrar em aventuras de conquista que apenas uma comunidade internacional unida terá condições de travar.
África poderá recuperar se deixarmos de vender armas e minas anti-pessoais e passarmos a vender sistemas de regra e tecnologia agrícola capaz de inverter o processo de desertificação; a América Latina, fruto das enormes contradições dos seus modelos poderá vivenciar um período de transição mais difícil, mas dadas as sinergias que possui, poderá alinhar numa alteração radical do processo de vida humano.


Se não for assim será, seguramente, um pouco de cada uma delas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dos governos minoritários e maiorias absolutistas

Na óptica dos partidos mais votados em Portugal, a governação em situação minoritária ou de coligação é inviável. A ideia de um pequeno partido poder influenciar, propor e monitorar o comportamento aberrante dos partidos centrais é uma situação intolerável para estas máquinas de colocação de militantes e de controlo de investimentos privados. Acenam com o caos, a ingovernabilidade e o piorar da situação do país. Esquecem que o país caminhou para o fundo do abismo pela mão de ambos. Não por uma inépcia ou incapacidade das suas figuras, mas por dependência de quem os financia, de quem os povoa e da impossível subversão ao sistema corporativo vigente. Sócrates afrontou algumas destas entidades instaladas e vive a antropofagia quotidiana dos jornais e televisões e – vejam lá – ele não é um perigoso extremista, até porque o seu partido chutou soberanamente João Cravinho para canto, mais os seus amoques contra a corrupção. Se a memória não me falha Ferreira Leite foi a Ministra que teve a pe

Balanço e Contas: 2 anos de governação

Ao fim de 2 exaustivos anos de governação importa fazer uma reflexão não sobre os atos do governo mas sim sobre o comportamento da sociedade em geral relativamente ao que se está a passar. Para faze-lo, importa ter presente algumas premissas que a comunicação social e as pessoas em geral insistem em negligenciar e a fingir ignorantemente que não são as traves mestras do comportamento governativo: 1. Este governo não governa para os portugueses nem para os seus eleitores; 2. Este governo não pretende implementar qualquer modelo económico. Pretende apenas criar a rutura necessária à implantação de um; 3. A sua intervenção orienta-se por uma falsa perceção de que a sociedade portuguesa entrou em rutura com o socialismo e as conquistas sociais do 25 de Abril; 4. Para agradar credores e cair no goto do sistema financeiro que irá propiciar empregos futuros a quem for mais bandalho com o seu país, usou o medo para tornar a mudança incontornável, culpando e responsabilizan