11.
Lembro com saudades das tardes do Liceu sem aulas, sentados na relva a jogar verdade e consequência. Evitávamos a verdade como forma de alcançar um maior bem no risco de uma estrondosa vergonha ou a glória da conquista, do beijo roubado ou da conversa cheia de promessas. Às vezes, algo mais.
O eletrizante momento em que somos chamados a cair no poço e suportar a quantificação do fundo aleatório da consequência e descobrir o prazer ou a desilusão representam a inesquecível lição: somos felizes quando o desejo é mais forte que o medo.
Do mesmo modo, sair do Euro implica o mesmo sentimento. É um mergulho de olhos fechados. Podemos embater contra o fundo, cambalear e levar anos a sair do poço. Sentiremos todas as dores deste percurso difícil. Mas poderemos extrair vantagens únicas.
Ou poderá ser o reencontro com um EU nacional que esquecemos, a redescoberta da nossa entidade, soterrada pela lama de uma ilusão europeia de uma Europa de que não fazemos parte porque o nosso coração ficou em África, no Brasil, em Timor ou nas Arábias. Não aquele coração pesado de culpa, colonial, aquele coração aventureiro, olhinhos de criança a descobrir formas, sons e cheiros diferentes que são o sal da vida.
Afinal, o que não somos capazes de fazer por amor?
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