7.
Há para aqui uma ilusão perene em relação ao papel dos mercados.
Os atuais contadores de histórias falam dos mercados como seres horríveis, papões que nos deglutirão vivos se cometermos o ingénuo pecado de recusar a imposição de um acordo que não conseguimos cumprir ou mesmo de achar que não queremos cumpri-lo de todo!
Vou contar-vos um segredo: os papões tem mais medo que nos recusemos a cumprir o acordo do que nós.
Primeiro porque o incumprimento cria condições para um encadeamento de efeitos que poderão implodir a Europa. Se a recusa de cumprir de um país for acompanhada de outro e mais outro e outro ainda e se todos recusarem o Euro, assumindo a nossa bastardia geográfica (Grécia, Espanha e Portugal passam a categoria de Estados mediterrânicos pré-africanos) e nos virarmos para os Estados do Norte de África, perspetivando um eixo de cooperação mediterrânica onde nós entramos com a tecnologia e qualificação e eles com os recursos energéticos e mineiros numa base de equidade e impondo taxas obscenas à importação de produtos da “Europa rica”, virando o barco negocial para os estados árabes e os BRIC, parece-me que os mercados papões poderiam ver alguns dos seus dentes cair.
Tudo é uma questão de política e negociação. Ninguém morre de fome se não tiver um BMW! E mesmo que tenhamos de passar fome (há essa real possibilidade saindo do Euro, é verdade) não se esqueçam que Portugal só se ergue das tamancas quando lhes chegam aos calos. E aí corre maratonas! Falta apenas alguém que não tenha medo de papões e que fale a verdade.
Comentários