Há notícias que dão que pensar. Há alguns meses atrás, deparei com duas notícias separadas pelo espaço de uma semana.
Uma sobre um novo reescalonamento das reformas, à luz das conclusões do Livro Branco sobre o tema; outra sobre a natalidade portuguesa ser a mais baixa da Europa.
Somando as duas e adicionando o desaparecimento do emprego tradicional, o advento de profissões cada vez mais qualificadas e que a actual meia-idade já tem dificuldades de acompanhar, o que sobra para os anos 2020-2030?
Podemos formatar cenários possíveis, o que não consigo imaginar são as repercussões geométricas do fenómeno, mas nada de positivo se configura.
Sabendo que as políticas de apoio à natalidade nacionais não são propriamente tentadoras, que a emigração recua, transformando-se a pouco e pouco numa plataforma de passagem para vencer a "fortaleza europeia", começa a ser preocupante a composição demográfica de Portugal na próxima década e seguintes.
Empiricamente, podemos formular cenários e tanto quanto me parece, todos desfavoráveis, uma vez que o "esvaziamento" de Portugal pode trazer sérias consequências a nível da manutenção da identidade nacional, defesa e segurança interna.
Um dos cenários possíveis que imagino passa pelo acentuado envelhecimento da população, chegando a um ponto de ruptura no que diz respeito ao apoio social e financeiro (reformas) e o desaparecimento gradual da classe média , consolidando o reaparecimento de uma sociedade bipolar e o retorno a uma quase medieval passagem hereditária das profissões especializadas.
Neste quadro, há muito que a zona rural está desertificada, existindo grandes capitalistas agrários e explorações extensivas.
A pressão económica leva ao abandono de políticas sociais, criando um patamar de diferenciação social (os "segurados" por esquemas privados de seguro e os "outros", objecto de acções e intervenções assistenciais e atenuadoras devidamente propagandeadas como "preocupação política").
As cidades voltam a ser feudo da classe aforrada e a noção de condomínio fechado alarga-se para o burgo (num mundo que gosta tanto de construir muros, essa possibilidade soa-me tão real).
Este modelo leva a necessidades securitárias de larga escala, pelo que a segurança e protecção será um negócio futuro de grande impacto.
A pouco e pouco o país separa-se de si mesmo e não quero imaginar a continuidade desta hipótese.
Outro cenário possível coloca a emigração como uma forma de compensação do efectivo populacional, atenuando os efeitos perversos da perda de meios de realizar uma politica de protecção social.
Todavia, um efectivo migratório que crie a necessária compensação terá de representar uma vaga de milhões de pessoas.
A acontecer esse fenómeno e admitindo que o fluxo teria várias origens (Brasil, África e Oriente; excluo o Leste europeu que rapidamente desenvolverá outros destinos), será sentida como uma "invasão", despertando o que há de pior nas pessoas quando começam a sentir a sua perda generalizada.
Perda de soberania, de identidade e, mais próximo da sua vida quotidiana, a competição com o "estrangeiro", no emprego, na escola e na vida pública.
Este fluxo, aportando culturas e modelos sociais diferenciados (apesar da globalização) criará descompensações nas formas de estar, nos consumos e na emergência de outras políticas de compensação para torná-los "europeus".
Por outro lado, parte do capital produzido por esta emigração terá sempre o caminho do exterior, ou seja, não investido ou poupado no território.
Apesar da especialização de alguns nichos desta emigração, o facto é que grande parte dela não o será. Consequentemente a figura dos "bairros" de emigrantes não me sai da cabeça, criando um segundo grau de pobreza e descriminação e incentivando o radical xenófobo da população dos "outros bairros".
Fruto desta discriminação de raiz, a prole (a recuperação do efectivo populacional), será constituída por gente que viverá à margem do sistema e que, por defeito, rejeita-lo-á.
Recuando para culturas de raiz ou não incorporando o padrão, serão "marginais".
Não sendo a pobreza ancestral, a sua reprodução crónica manter-se-á numa massa de gente mal formada, sem qualificação profissional e – pior - sem a crença de que tal possa ser ultrapassado.
Consequentemente, a médio prazo, voltamos à estaca zero.
Repito que tal análise é empírica e a sociedade ainda não é um sistema de válvulas em que compensamos a abertura de uma com o encerrar de outra.
Todavia, há sinais preocupantes de que um país pequeno, de pequena economia, dependência energética e alimentar e que troca a sua soberania por uns quantos acordos e relações de interesse com outros países e instituições acabará mais manietado do que uma sociedade onde a distribuição e ajustamento de recursos à sua escala conseguem equilibrar-se sem necessitar de uma ilusão de modernidade.
Vinhas
Uma sobre um novo reescalonamento das reformas, à luz das conclusões do Livro Branco sobre o tema; outra sobre a natalidade portuguesa ser a mais baixa da Europa.
Somando as duas e adicionando o desaparecimento do emprego tradicional, o advento de profissões cada vez mais qualificadas e que a actual meia-idade já tem dificuldades de acompanhar, o que sobra para os anos 2020-2030?
Podemos formatar cenários possíveis, o que não consigo imaginar são as repercussões geométricas do fenómeno, mas nada de positivo se configura.
Sabendo que as políticas de apoio à natalidade nacionais não são propriamente tentadoras, que a emigração recua, transformando-se a pouco e pouco numa plataforma de passagem para vencer a "fortaleza europeia", começa a ser preocupante a composição demográfica de Portugal na próxima década e seguintes.
Empiricamente, podemos formular cenários e tanto quanto me parece, todos desfavoráveis, uma vez que o "esvaziamento" de Portugal pode trazer sérias consequências a nível da manutenção da identidade nacional, defesa e segurança interna.
Um dos cenários possíveis que imagino passa pelo acentuado envelhecimento da população, chegando a um ponto de ruptura no que diz respeito ao apoio social e financeiro (reformas) e o desaparecimento gradual da classe média , consolidando o reaparecimento de uma sociedade bipolar e o retorno a uma quase medieval passagem hereditária das profissões especializadas.
Neste quadro, há muito que a zona rural está desertificada, existindo grandes capitalistas agrários e explorações extensivas.
A pressão económica leva ao abandono de políticas sociais, criando um patamar de diferenciação social (os "segurados" por esquemas privados de seguro e os "outros", objecto de acções e intervenções assistenciais e atenuadoras devidamente propagandeadas como "preocupação política").
As cidades voltam a ser feudo da classe aforrada e a noção de condomínio fechado alarga-se para o burgo (num mundo que gosta tanto de construir muros, essa possibilidade soa-me tão real).
Este modelo leva a necessidades securitárias de larga escala, pelo que a segurança e protecção será um negócio futuro de grande impacto.
A pouco e pouco o país separa-se de si mesmo e não quero imaginar a continuidade desta hipótese.
Outro cenário possível coloca a emigração como uma forma de compensação do efectivo populacional, atenuando os efeitos perversos da perda de meios de realizar uma politica de protecção social.
Todavia, um efectivo migratório que crie a necessária compensação terá de representar uma vaga de milhões de pessoas.
A acontecer esse fenómeno e admitindo que o fluxo teria várias origens (Brasil, África e Oriente; excluo o Leste europeu que rapidamente desenvolverá outros destinos), será sentida como uma "invasão", despertando o que há de pior nas pessoas quando começam a sentir a sua perda generalizada.
Perda de soberania, de identidade e, mais próximo da sua vida quotidiana, a competição com o "estrangeiro", no emprego, na escola e na vida pública.
Este fluxo, aportando culturas e modelos sociais diferenciados (apesar da globalização) criará descompensações nas formas de estar, nos consumos e na emergência de outras políticas de compensação para torná-los "europeus".
Por outro lado, parte do capital produzido por esta emigração terá sempre o caminho do exterior, ou seja, não investido ou poupado no território.
Apesar da especialização de alguns nichos desta emigração, o facto é que grande parte dela não o será. Consequentemente a figura dos "bairros" de emigrantes não me sai da cabeça, criando um segundo grau de pobreza e descriminação e incentivando o radical xenófobo da população dos "outros bairros".
Fruto desta discriminação de raiz, a prole (a recuperação do efectivo populacional), será constituída por gente que viverá à margem do sistema e que, por defeito, rejeita-lo-á.
Recuando para culturas de raiz ou não incorporando o padrão, serão "marginais".
Não sendo a pobreza ancestral, a sua reprodução crónica manter-se-á numa massa de gente mal formada, sem qualificação profissional e – pior - sem a crença de que tal possa ser ultrapassado.
Consequentemente, a médio prazo, voltamos à estaca zero.
Repito que tal análise é empírica e a sociedade ainda não é um sistema de válvulas em que compensamos a abertura de uma com o encerrar de outra.
Todavia, há sinais preocupantes de que um país pequeno, de pequena economia, dependência energética e alimentar e que troca a sua soberania por uns quantos acordos e relações de interesse com outros países e instituições acabará mais manietado do que uma sociedade onde a distribuição e ajustamento de recursos à sua escala conseguem equilibrar-se sem necessitar de uma ilusão de modernidade.
Vinhas
Comentários
As experiencias "ecologicas" são mais para ingles ver...
Não acredito no verdadeiro interesse pela "causa global".O petroleo sóserá substituido quando a industria automóvel e extractiva assim o entenderem (a substituição poderia ser efectuada já e em 10 anos 70% dos carros seria não poluente, mas isso estraga o negócio.
Penso que estamos no ponto sem retorno da era do Big Brother!