
Por princípio, os ditadores são pessoas que dominam todas as esferas de poder, desrespeitando a separação dos mesmos, a representatividade popular e instituindo um controle mais ou menos intenso sobre os que se lhe opõem.
No entanto, nem todos são iguais. Há que avaliá -los sob uma perspectiva psicológica e funcional. Um ditador aparece por que motivos? E porque se escolhe o pior de todos para sê-lo, sabendo os custos humanos e sociais que isto representa?
Qual a componente da demência que leva quase todo um povo a sufragá-lo, apoiá-lo e, depois, aturá-lo? Será apenas uma questão de necessidade de segurança, de ordem social?
Porque, a partir de uma situação de excepção – caos social, violência e não funcionamento das instituições – se aceita um homem com um poder quase absoluto, capaz de coisas hediondas (que em boa parte são muitas vezes desculpabilizadas)? Porque não sabem estes homens, a dada altura, abandonarem o poder ou pelo menos exercê-lo de uma forma transitória até o restabelecimento da "paz social"?
Como a psicologia de massas obedece a uma avaliação complexa e diferenciada, dada a vastidão e complexidade antropológica e sociológica que envolvem, voltemo-nos para o lado particular do ditador.
Internamente, um ditador pode assumir diferenciadas atitudes face aos tiranizados. Há os que, possuídos de uma dimensão divina ou crença pessoal no seu carácter divino, assumem mais do que uma atitude ditatorial: divinizam-se.
Encarnam um papel divino e cercam-se de pessoas que em sociedades "normais" estariam na prisão ou internadas em centros de saúde mental.
A esta categoria chamaria de "Dementes" porque é, de facto, o que representa: uma ditadura sem regra ou lógica em que faltam os referenciais lógicos mínimos.
Uma outra categoria habitual na psicologia do tirano é o efeito "carrasco" ou seja, a perseguição, tortura e morte de todos os adversários, oposição ou não alinhados com a voz do tirano. Trata-se de "dementes" centrados, isto é, têm a noção de que não representam ou são entidades divinas mas sabem que para se perpetuarem necessitam de "eliminar a concorrência".
Já o "cínico" sabe da sua condição transitória e que não representa qualquer deus, sabe que tem de eliminar de forma cirúrgica a oposição e, simultaneamente manter uma imagem de estadista irrecusável pelo povo e pela comunidade internacional. Tem o complexo trabalho de gerir um Estado e manter amizades; contentar aliados e manter esquadrões da morte; dar uma imagem de liderança incontestável, necessária e aceite e reprimir as opiniões divergentes. Enfim, um trabalhador incansável.
Já os "serviçais" são aqueles ditadores que são colocados por alguém para proteger interesses de outros Estados. Mais ou menos conscientes de que desempenham uma função para alguém, são ditadores pagos e tendem a acumular as características anteriores em função do tempo em que permanecem no poder e do objectivo com que lá foram postos. Muitos deles nem são ditadores: são assassinos a soldo, mercenários contra o seu próprio povo ou reles torcionários que servem de tampão a uma revolução.
Em certo sentido são piores do que os "carrascos" porque matam de forma intensiva e concentrada, alimentando sistemas corruptos de que são os principais beneficiários.
Falamos até agora da dimensão interna do ditador, mas que motivações externas existem para que um homem queira oprimir outros.
Encontrei genericamente 3 motivos neste exercício de positivismo: o populista, o ideológico e o corporativo.
Do cruzamento destas variáveis encontramos os caminhos de cada ditador. Algumas classificações serão mais discutíveis que outras, é certo mas, no fundo, o que me apeteceu foi fazer uma classificação em caixinhas arrumadinhas, imaginando-me coleccionador de borboletas, caçando-as, asfixiando-as e depois, espetando-lhes um alfinete e, guardando-as em molduras penduradas nas paredes para mostrar aos filhos as espécies a evitar.
Notas:
China: Só considerei dois ou três porque se for contabilizar toda a linhagem desde os Imperadores até aos sucessores de Mao-Tse-Tung fazia uma lista só com eles.
Dediquei-me exclusivamente ao Sec. XX porque se fosse correr de, pelo menos, Nero, publicava um livro.
Excluí alguns líderes que, apesar de eleitos deveriam constar da lista, como é o caso de alguns presidentes dos USA, porque era complexo. Tenho consciência de que alguns ficariam cá muito bem
Omiti uma série de pequenos generais centro americanos que apesar de todos os condimentos não têm estaleca para estar nesta lista. Foram apenas simples caudilhos.
O drama: quanto mais procuro mais encontro
Comentários
Se me premite a provocação, porque não comentar o texto do blogge de Pacheco Pereira com o titulo "O Meio".
Será que ainda existem vozes prontas a terminar com alguns caudilhos aí de cima...Ou serão também eles pouco relevantes..