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Os 98 Mandamentos – 7º Episódio

Porque temos de ser todos iguais?

O futuro do ensino:
1. O Estado promove uma política de ensino e assegura o ensino básico universal, obrigatório e gratuito mas não se obriga a criar um sistema público para o efeito, o que quer dizer que o cumprimento deste desiderato será pago a jusante;
2. O Estado coloca a concurso ou negoceia com diversas entidades (já as conhecemos) a gestão do ensino, pagando a estas a realização do serviço. A “política” seria a listagem de critérios e objectivos a alcançar, uma vez que os programas serão elaborados pelo conselho das instituições privadas de ensino a quem serão cedidos os melhores espaços do Estado para gerir;
3. O mito da gratuitidade será substituído pelo pagamento em função dos rendimentos de cada agregado. Ninguém ficará isento. O Governo (suponho que do PSD) durante o ensino obrigatório criará um sistema de bolsas (x resultado igual a y de isenção) ou o cheque ensino (os processos são iguais). Para o ensino não obrigatório, a roda seria livre e todas as universidades ficarão Católicas no preço;
4. Tal como em outros casos em que serviços e estruturas do Estado estão entregues a outsourcing, haverá agravamento da despesa pública (sim porque o Estado não tem negociadores. Umas vezes porque estão dos dois lados da barricada e noutros porque ignoram soberanamente do que estão a tratar). No ensino não será diferente. Com a desculpa da Globalização, da concorrência, do atraso e da necessidade cientifica formaremos rodos de jovens técnicos e cientistas, cuja industria especializada não aproveitará na totalidade, levando a imigração de jovens (a propalada “mobilidade”) que se radicarão nos países que os aceitarem e sem reservas esquecerão Portugal, que ficará como uma memória de copos numa qualquer Queima das Fitas.
5. Sendo fulcral para as entidades gestoras o mostrar serviço, a gestão por objectivos estará na ordem do dia. Para além dos critérios objectivos dos envolvidos, haverá metas de aprendizagem medidas por notas. Avaliar será um exercício curioso. O que prevalecerá? A necessidade de um rácio de médias que justifique o investimento ou a aprendizagem efectiva? Poderemos contar com momentos de avaliação “simpáticos” para obter resultados ou haverá metas de “chumbos”. Tal como os polícias tem para passar um determinado número de multas por ano (é um critério de avaliação!), haverá uma margem de afirmação pela avaliação negativa?
6. Os professores do Estado ficarão com “a franja menos favorecida da população” (como ouviremos esta frase!) em escolas de onde ninguém espera nada e quanto pior os resultados se apresentarem, melhor. Os professores das entidades privadas (contratados ao ano lectivo, por recibo verde ou sujeito a uma “causa atendível) ficarão nos melhores estabelecimentos, cumprindo resultados esperados mesmo que não correspondam a realidade.
7. O ranking das Escolas servirá para tabelar os preços da frequência. Com a aproximação do custo entre ensino público e privado fácil de perceber que alguma classe média irá para os colégios privados, fazendo com que estes concorram com as instituições publicas participadas. Vai ser bonito de se ver…
8. O efeito dos descontos no IRS nas despesas de ensino crescerá exponencialmente e servirá para iludir a classe média na procura da melhor escola para os seus filhos e a desigualdade em relação “aquela gente que temos de sustentar com os meus ricos impostos” crescerá. Claro que seremos brindados com exemplos de sucesso em 3 telejornais de fim de semana com a história do rapaz do bairro social que lutou contra as dificuldades, a família, o meio e ganhou uma bolsa de estudo entregue por um baboso político em cerimónia para valorizar as politicas implementadas.
A repetição cansa.
9. Dentro de duas décadas, a seguir intransigentemente esta politica, não haverá serviço público de ensino ou será residual e destinado a manter a estratificação social e justificar metas europeias de ensino obrigatório. Desmontado que está este sorvedouro de dinheiro do Estado resolvem-se 3 coisas: a diminuição do impacto sindical da Função Pública (muito por culpa de um Sindicato e uma classe que não soube negociar, procurando que os direitos adquiridos de alguns hipotecassem o futuro de todos), reposição classista do acesso ao ensino e cultura, reforçando o papel nacional de país atrasado e de baixos salários, tão necessário para competirmos com a China e Paquistão (por esta altura os direitos sociais nestes países já terá evoluído qualquer coisa) e a evidencia de um Estado inútil e caro, com um crescente numero de Doutores, Gestores e Consultores a debitar conversa cada vez mais distante em relação ao país real.

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