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CARTA ABERTA À CARTA ABERTA DAS FORÇAS ARMADAS

Entenderam os militares através do Coronel Manuel Martins Pereira Cracel, manifestar o seu sentimento de desagrado ao Ministro da Tutela em carta aberta sobre as afirmações deste numa reunião promovida por revista da especialidade.

A carta enumera 18 questões/reflexões sobre a insustentabilidade das FA. Considerando todos os fatores entendo haver lugar aos seguintes reparos:

1. As FA nunca deveriam tê-lo feito em carta aberta, procurando assim popularizar o seu descontentamento junto da opinião pública. As FA tal como as forças de segurança em geral devem ter um papel discreto relativamente as questões que lhe dizem respeito e as suas reivindicações serem objeto de uma relação institucional diferente da sociedade civil;

2. O fato de acreditar piamente que este governo não tem qualquer tipo de interesse para o país, não quer dizer que não reconheça que foi nele que o povo democraticamente votou e que será o povo – sempre o povo – a destituí-lo, erradica-lo ou pendura-lo na ponta de uma corda se preciso for. Se a vontade popular chegar ao derrube e para isso contarmos com o apoio das FA, muito bem! O contrário é que não é de todo correto. É impensável que à custa de problemas de carreira, reformas e saúde – ou seja – interesses corporativos, se tenha um discurso de golpe de Estado, mesmo contra pessoas que não deveriam ocupar estes lugares. A minha opinião conta na justa medida em que é uma opinião mas a Democracia é feita do somatório de todas e da minha participação cívica, do assentimento de que um conjunto de vontades se sobrepõe a outro que colhe menos apoio. É a regra do jogo tal qual quero jogar.

3. Dir-me-ão que o povo é inculto e politicamente impreparado, que escolheu por negação ao anterior governo, que foi manipulado, etc. Todas essas premissas podem ser verdadeiras mas não exclui que o voto final pendeu para este lado. Um lado cujo reformismo assume um caráter de “vendetta” em muitos casos e não apenas com as FA. Acredito que isso se deve ao enorme embuste que em Portugal se perpetrou contra a Democracia através do seu descrédito, desconfiança e da partidarização da vida política e o afastamento cívico dos cidadãos por entenderem não querer fazer parte de um “arraial” mal frequentado. Mas o fato é que se queremos ser Estado soberano, livre e independente, temos de tomar em mãos o que outros nos retiraram subrepticiamente.

4. É ancestral a falta de tato e recato do PSD ao nível do discurso. Tantos anos de aparelho e ninguém frequentou sequer um curso das Novas Oportunidades, a ver se ganhavam tento na língua. Enfim, impulsos antigos… Mas as FA deveriam ter respondido de outra forma porque os valores militares evocam outro tipo de comportamento mais nobre e que deveriam servir de exemplo a quem não o atingiu;

5. O MDN tem uma tarefa a cumprir e que mais não é do que uma reforma a todos os títulos necessária. Não podemos ter umas FA com a formatação dos anos 50, com tantos oficiais, com condições e regalias socias que mais não são que o fruto do assobiar para o lado que 30 anos de governação PS e PSD fizeram ao país. O evitamento dos problemas reais levou a distorção da realidade e que é bem patente nas FA: material obsoleto, excesso de chefias e altas patentes, regalias sociais que só se justificam para quem de fato combateu, excesso de estruturas, necessidade de inserir um novo papel nas FA que ultrapasse a mera defesa nacional e territorial e a necessidade de ligação às Universidades para propiciar o desenvolvimento de sistemas tecnológicos próprios de defesa, informação e mecanismos táticos de resposta rápida. Vivemos noutro tempo e num país pequeno com a soberania em risco é perfeitamente aceitável o desenvolvimento de sistemas incisivos e exclusivos.

6. Espero que as FA e muito particularmente as APM proponham ao MDN um modelo estrutural de funcionamento tendo em conta as novas realidades e que evitem o necessário “deixa andar” do governo da capital que mais não quer do que deixar tudo como está mas com menos dinheiro.

7. As FA, como qualquer outro grupo profissional ou não tem direito de reunião, participação e opinião. Todavia, pela natureza do serviço, as opiniões que vinculam devem ter outra expressão junto da comunicação social e alguma parcimónia na disseminação. A prova disso é o fato de, nesta carta aberta misturar-se a situação interna das FA, as suas opiniões políticas, enumerar circunstâncias específicas da economia portuguesa e da suspeição efetiva das atitudes políticas face as mesmas (BPN e PPP’S) e insinuar que a resolução das mesmas permitiria resolver tranquilamente as exigências e necessidades das FA. Lamento, mas no país existem situações bem mais extremas para onde o dinheiro dos “buracos” provocados por conveniência política e nepotismos vários poderiam ser bem encaminhados e que serão prioritários relativamente as FA. Lamento dizer isso, mas se são atores assim tão atentos à realidade nacional deverão concordar com este argumento.

8. O que me incomoda de fato são as visões corporativas na ótica da regalia. Pensem que as FA são eternas e inalienáveis e que o MDN é um momento passageiro que não deixará saudades ou qualquer tipo de recordação. Assim como a “Lei” do Carnaval é uma tentativa do absurdo se sobrepor à realidade (e que por isso a sociedade vai pura e simplesmente ignorar de forma condescendente a “ideia” do PM como se fosse o pobrezinho do louco da aldeia!), também as opiniões do Ministro sobre a vocação deveriam ser tratadas da mesma forma. Uma boa resposta seria o abandono da sala de todos os que lá estivessem, deixando o pobre homem a falar sozinho.

9. Por ter um grande apreço pelas FA, uma dívida de gratidão pela conquista da Democracia e com o 25 de Abril, com o papel que assumiu antes e depois, por achar que apenas um povo heróico como o português poderia lutar em vários teatros de guerra noutro continente com tão pouca gente e aguentar tanto tempo, independentemente da guerra colonial ser injusta; por achar que não há nada mais nobre do que lutar por uma causa, uma pátria e um povo (desde que feita com lucidez e sentido do real!), incomodou-me esta resposta de “desabafo” e cuja leitura pode prejudicar mais as FA do que esclarecer as questões evidenciadas, sinto necessidade de separar as águas e fazer algo a que não estou habituado que é pôr-me ao lado do MDN enquanto visado por um documento “perigoso” e que ultrapassa o limite do que deve ser feito no contexto da segurança interna.

Comentários

Anônimo disse…
Estou parcialmente de acordo com o comentário à exceção do ponto 9. Uma revolução não pode ser uma luta de interesses, como aquela que vivemos em 1974. Uma FA que agiram ou agem só para consumo interno não podem ser consideradas ao serviço do povo.
As FAP têm que ser reestruturadas e o país já não comporta umas forças armadas (inexistentes e injustificadas) na atual conjuntura. Os quartéis estão transformados em centros de emprego o que vulgarmente poderei de instituir de seções ou administrações públicas
Ex miliciano do exército português, combatente do ultramar e que por um mail de opinião (2006) escrevendo e demitindo-se de funções por estar em desacordo das infuncionalidades do órgão para quem trabalhou, resultando as fundadas apreciações de tal comunicação no crime, levando a instituição em me ter condenado em um ano de inatividade profissional e em sede de audiência o Tribunal achar que escrever um mail é crime aplicou-me a pena de multa de 150 dias a 10€, judas e consequentes advances, mais uma indemnização a que se achou lesado em 1000€.
Nada mais me resta em declarar na oposição à forma de tratamento a que estes pseudosindicalistas se afirma numa sociedade inclusa como devem ser as FAP. Não podemos continuar a sustentar generais, coronéis e tenentes coronéis, sem retorno, quando estas verbas poderiam transitar para meios e agentes das forças de segurança. Entristece-me olhar para as unidades militares, que se encontram de portas escancaradas e aos magotes só encontro carradas de sargentos e oficiais e de soldados nada, deles. 160 generais é demasiado caro para o país
vinhas disse…
Caro Sr, por norma costumo bloquear anónimos, mas aceitei o seu por achar que tem uma opinião devidamente avalizada e não me parece de todo insultuoso. Respeito a sua opinião e lamento a sua condenação por exprimir uma opinão (embora não conheça os termos em que a fez).

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