Pular para o conteúdo principal

O estranho país chamado CCB

Seguindo uma já longa tradição do PSD de tornar serôdio tudo aquilo em que os seus gestores tocam , o CCB ensinou-nos os benefícios da revolução através do seu amado líder, o tradutor Vasco Graça Moura.

Tal como meu filho, VGM defende que a língua pertence a “matriz”, a quem a “criou” e disseminou pelo mundo lusófono e qualquer alteração, adaptação ou renovação depende do assentimento da capital do impériozinho.

É um bom motivo para fazermos uma revolução.

A realidade é de fato um território atravessado por ideologias que passam a vida a negar que o tempo avança, as coisas mudam e as relações de força modificam-se.

Acredito que a luta de VGM (e do meu filho) seja uma inglória visão de que o fracasso de Portugal pode ser obliterado se conservar o património da soberania da língua: não me parece. A língua pertence a quem a usa no seu quotidiano, a quem lhe dá cor e vida, a quem a martiriza, adultera ou requinta. A língua não é um tesouro pressentido e obscuro, guardado no alto de uma montanha por um estranho exército de doutos cruzados de espada em punho, prontos a decapitar aqueles que ousam profanar o reduto impoluto da cátedra, qual  Indiana Jones do vernáculo.

Quando Portugal assinou o Acordo Ortográfico, assinou de fato a capitulação do colonialismo. Reconheceu que a língua é maior do que o país e que já não a pode controlar. Corporizou em acordo internacional o que na realidade se verificava e que servia apenas para uma mão cheia de ilustríssimos se arrogassem de uma superioridade (literária e não só!) relativamente aos “outros” - os colonizados a quem educamos, doutrinamos e batizamos em devido tempo; aos povos que, perante a nossa propriedade, tentamos paternal ou ostensivamente  “educar” com os nossos achaques de superioridade.

A pequena “revolução” de VGM, criando uma independência em relação a Portugal (uma vez que se indispõe a cumprir acordos assinados pelo país) demonstra duas coisas: em Portugal, os acordos não são para cumprir (o que os leva a outros acordos assinados e supostamente aditivados pelo inefável PSD também poderão ser alienados “porque me apetece”). Podemos concluir que, se acharmos que os acordos assinados levam ao enterramento final da nação – linguística ou economicamente falando - e entregam o país ao estrangeiro (de notar o curioso "estrangeiro" a quem o entregam!)  podem ser quebrados sem mais delongas. E em segundo lugar que, independentemente do que se diz, Portugal é uma “quinta” onde uma qualquer suposta pessoa, abancado num partido, numa loja, na Igreja ou uma corporação pode fazer as suas birras (o que nos leva a questão ideológica que tenta “martelar” a realidade para que se pareça com aquilo que pensamos ser/queremos que seja).
Casualmente, li esta semana sobre os Shindo Renmei – organização secreta japonesa sedeada em S. Paulo e que negava a derrota japonesa na 2ª guerra, através de formas estranhas e fraudulentas para “negar” a realidade, ao ponto de criar revistas de informação com imagens da rendição americana, etc. e terem efetuado motins contra os japoneses emigrados que viviam na realidade, ocasionando centenas de mortos.

Em 2014, o Acordo funcionará em pleno e Portugal (e na pequena república do CCB, talvez) terá de adaptar-se a realidade.

Na língua e em outras áreas bem mais difíceis.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alguém nos explica isto?

Os registos de voo obtidos por Ana Gomes em 2006 revelam que, entre 2002-2006, em pelo menos 94 ocasiões, aviões cruzaram o espaço aéreo português a caminho de ou provenientes da Baía Guantanamo . Em pelo menos 6 ocasiões aviões voaram directamente das Lajes nos Açores para Guantanamo. Ver o relatório da ONG britânica. Não creio que isto nos deixe mais seguros e tenho a certeza de que me deixa a consciência pesada, foi o estado em que me integro que permitiu isto. PS (por sugestão do Vinhas). As notícias sobre um dos aviões que transportaram presos para Guantánamo e que agora se despenhou no México carregado de cocaína podem ser vistas aqui e aqui ou ainda aqui.

Dez pontos de vista sobre as eleições americanas

Este texto surge em versão bilingue porque, por alguma razão inexplicável, grande parte das pessoas que acede a este site são provenientes dos Estados Unidos. Obviamente sabem português senão não nos visitavam. A opção de dobra-lo em inglês é permitir que se criem extensões possíveis a outros bloggers americanos. This text is published in a bilingual version because, for some reason I can't explain, most of the blog visitors come from USA. Obviously they know Portuguese or they wouldn't visit our blog. But the option to double it in English is to allow other American bloggers to read it. My apologies for this vain effort of translation. 1- Não sendo a democracia Americana uma verdadeira democracia (uma vez que o voto popular não é directo e as campanhas num país de dimensão continental envolvem verbas que não permitem a qualquer cidadão concorrer) nem a provável vitoria dos Democratas mudará este sistema perverso. American democracy is not a true democracy (as soon as the p...