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Galiza

Andei a rever fotografias antigas naquela tentativa vã que todos temos de arrumar o tempo e constatei que em todos os anos tenho fotografias da Galiza.
Quase sempre no Inverno.
Tuy, Vigo, Corunha com neve, sem neve... quase todas são memórias de passeios ao frio. Apenas um Verão, nas Cyas.

É difícil dizer o que gosto mais na Galiza. É difícil sentir-me turista na Galiza. Como se fosse o meu país, percorro de um lado ao outro sem me importar de perder-me porque, aquele povo compreende cada palavra do que eu digo e dá a entender que sou um deles na forma como sou recebido.
Nada me faz mais feliz do que essa noção de pertença a um mundo mais largo que a minha rua.

Há uma doçura nos galegos que contrasta fortemente com a paisagem, aquela costa cortante de mar sempre forte, aquelas monumentais igrejas e casas de pedra com janelas pequenas e fumo. Sinto-me Celta, meio pagão e até capaz de peregrinar.

A Galiza é a minha idealização de um mundo sem fronteiras, do aborrecido que é ser ali Espanha e cá Portugal, com esta perda de tempo administrativa. Pode ser que tenha tido sorte mas todos os galegos que contactei apreciam Portugal, coisa que por vezes não sinto da nossa parte. Sentem orgulho por nós, por sermos os pequeninos teimosos que bateram o pé a Castela, que fizeram uma empresa maior que o tamanho e a força do país, que se desgastou pelo mundo fora. Amam-nos pela coragem que demonstramos.

E emociona-me ver, em todas as livrarias obras de Pessoa que se vendem nas duas línguas com igual quantidade, a festa que anualmente fazem a Zeca Afonso, o teatro de autores portugueses e até conhecerem alguns grupos portugueses de que nunca ouvi falar.

O governo português deveria obrigar todos os cidadãos a uma viagem anual à Galiza.

Para recuperar o orgulho, para nos sentirmos estimados e para percebermos que o nosso lugar é muito maior do que uma orla costeira depauperada pela erosão e a construção civil.

O lugar de Portugal é em toda a parte.

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