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A edificação do Vazio 4ª Parte

14. Toda propaganda deve rotular acontecimentos e pessoas com frases e slogans de fácil memorização.
a. Ela deve evocar reacções desejáveis a partir do que a população já sinta
b. Ela deve ser facilmente aprendida
c. Ela deve ser usada repetidamente, mas apenas nas ocasiões apropriadas
d. Ela não deve poder ser usada contra o propagandista

Não fosse a Web e a facilidade de guardar informação e um espaço de discussão livre (talvez o último recanto de liberdade civil plena do mundo, não teríamos tanto motivo para nos rirmos da classe política. Penso que não levará uma década até que os estados europeus comecem a impor o seu controle a blogs e informação livre na net (a China já o faz com o acordo das empresas que utilizamos, por isso…).
Este é um espinho difícil de tirar quando gravamos e trocamos imagens de gafes políticas incontáveis, expressões infelizes, etc.
É difícil, mesmo para o mais mal preparado dos eleitores não se recordar de uma fraca figura de um político.
Daí que os slogans e imagens personalizadas esbarrem na indiferença da população. Como se fossem clubes de futebol, o reestyling da imagem partidária é pouco conseguido (compreendo que os clubes de futebol não necessitem da mudança porque tem uma história afectiva com os seus associados e simpatizantes. Os partidos deveriam “lavar a cara” de dois em dois anos). A associação da imagem da figura central também nada diz (julgo que o último slogan e imagem com impacto remonta ao “Soares é fixe!). Alguns jovens nem sequer sabem que é o Primeiro-Ministro hoje em dia. Trata-se pois de uma área difícil. Para mais não podem associar “ imagens femininas/masculinas degradantes” porque não é politicamente correcto. Mas é uma pena! Ainda hoje, muitos italianos lembram-se da campanha da honorabilli Ilona Staller. E percebe-se porque.
Hoje em dia, os políticos têm de facto muito pouco a oferecer ao povo, muito pouco a burguesia esclarecida e quase nada aos empresários que os suportam.
E é por isso que temos aqueles autocarros alugados cheios deste novo modelo de profissão que se chama militante presencial que anda pelo país fora a agitar bandeiras pela refeição e pelo passeio até onde é necessário encher de almas uma determinada praça.


15. A propaganda para consumo doméstico deve procurar impedir expectativas elevadas demais, que podem causar desapontamentos quando não forem cumpridas.

É um capítulo onde os políticos tendem a tropeçar e arranjar problemas. Regra geral, desatam num ou noutro momento a prometerem coisas que não fazem sentido e não batem certo com a realidade.
Querem modernizar as estruturas produtivas e diminuir o desemprego; querem salvar a função pública do tratamento que recebem e privatizar todos os serviços (menos o tributário); querem aprofundar a integração e salvar o típico produto agrícola nacional; querem impulsionar as pequenas e médias empresas e aumenta impostos. Confuso? Não vejo porque! O político inteligente tirará da realidade o seu melhor resultado, ignorando o outro. Os desapontamentos serão para aqueles que “não compreenderam o alcance das políticas” ou que estão de “má fé”.
Se não satisfizer nenhuma das duas metas opostas realizou uma política de “equilíbrio”.


16. A propaganda para consumo doméstico deve manter o nível mais eficiente de ansiedade pela vitória.
a. A propaganda deve reforçar a ansiedade quanto às consequências de uma derrota
b. Deve haver uma acção de propaganda específica para diminuir quaisquer ansiedades excessivas que não as referentes às consequências de uma derrota, quando elas não sejam diminuídas por acção popular espontânea .

A estrutura do “depois de mim, o caos” faz história na política nacional. São muitos os que, após uma temporada no poder, adquirem uma espécie de vocação divina e não vêem o país sem a sua aura pairando perpetuamente na orla do poder.
Evidentemente, para cada um deles o país, em caso de ser derrotado, será tomado por uma horda de irresponsáveis e demagogos, exactamente o mesmo critério de quem se lhe opõem. A perda significa que tudo o que foi construído se dissolverá na voragem dos interesses opostos. Dão a sensação que, qual filme de ficção científica, a realidade distorce, as pontes, barragens e estradas desaparecem ou ficam esburacadas subitamente; as leis que foram criadas para o bem de todos são atacadas por um vírus de prepotência e transformam-se em antropófagos vorazes que dizimam as liberdades, etc.
Claro que nada disso é verdade porque o poder é construído sob um mesmo interesse que todos partilham e do qual beneficiam. Quem nunca viu inaugurações de obras de fôlego em Portugal em que atravessam legislaturas e cujo destaque mediático é diferenciado entre quem está no poder na conclusão e quem lançou a obra (sempre convidado, aquele, ali ao fundo que dá uma entrevista de 30 segundos a seguir a publicidade).
Outra postura comum é a imolação do cordeiro. O líder sobe o palanque, reconhece a derrota, cumprimenta o adversário e põe o lugar a concurso interno uma vez que não pode ou não soube conduzir a sua horda de beneficiários ao poder (também chamado de “passar a mensagem”). Esta refundação é catártica e aguça o espírito dos derrotados para novos combates, mantendo a tensão e honorabiliza o derrotado.
Salvo os partidos que nunca perdem e que por isso não tem projecto de poder (e que fazem mal. Deviam assumir a derrota que o povo gosta de coitadinhos), esta medida reorganiza os sentimentos dos derrotados, preparando-os para um novo projecto de poder.

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