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A Edificação do Vazio

5ª Parte

17. A propaganda para consumo doméstico deve diminuir o impacto da frustração.
a. Frustrações inevitáveis devem ser previstas e combatidas de antemão
b. Frustrações inevitáveis devem ser colocadas em perspectiva

Aqui, o papel da Comunicação Social é fulcral. O seu controle e condicionamento é do mais relevante, especialmente em Portugal onde as pessoas votam no que vêem na Televisão e, quando muito, lêem jornais.
Ver a chegada do Primeiro-Ministro, pela SIC e RTP a uma escola do interior, depois de eventos estranhos terem ocorrido nos dias anteriores serem noticiados mostra como é completamente distinta a posição de ambas. Os planos, o som, de onde são filmados, quem é entrevistado, tudo obedece a uma montagem e figuração próprias, seja esse um processo consciente ou não do ponto de vista ideológico.
No plano eleitoral, a forma como se filmam os comícios e as já famosas “arruadas” que aproveitam o movimento comercial para parecer uma multidão quando, de facto são umas 100 pessoas à volta do líder representam um factor decisivo para que o povo.
Talvez só 1% da população leia os programas eleitorais. Há condições para que 15% a 20% o façam. O problema é convence-los de que é útil que o façam tal o descrédito das coisas. Reconheço que será menos indigesto ler o “Guerra e Paz” de traz para frente do que os programas de acção partidários. Mas deveria ser uma obrigação nacional.
O problema é que 80% dos votantes nem se dão ao trabalho de saber se o subsídio de desemprego será pago em bananas ou não, mas espantam-se e reagem quando acontece.
Muitas vezes, o político até nem tem culpa: está lá, escarrapachado no programa que ninguém leu que ele não ia ser popular em tudo.
Todavia não vemos nenhum candidato a fazer sessões de esclarecimento centradas no seu programa. Ninguém discute ideias, objectivos e metas. Isto faz sono. Não traz público. Não interessa. Há muitos canais e toda a gente muda logo que se a conversa for sobre opções conscientes.


18. A propaganda deve facilitar o deslocamento da agressividade, especificando quem é odioso.
Pois eu digo-vos quem é o odioso de serviço: Alberto João Jardim.
Este homem, que qualquer democracia que se preze já o teria votado ao esquecimento, o seu partido expulso e nem um grémio recreativo no mais recôndito do planeta aceitaria para seu presidente cumpre uma função assaz eficaz neste fetiche.
Supostamente odiado, encarnação do que mais boçal há no regime cumpre no entanto várias funções utilíssimas ao regime: de bobo da corte não quando desfila no Carnaval, porque dessa faceta eu até simpatizo, mas quando lança os seus ferozes encolher de ombros à malta do continente e dispara um piropo na direcção de quem estiver mais a jeito no momento (mesmo que do seu partido), de truão quando invectiva a autoridade democrática das instituições e arremete contra elas em diatribes que raiam o independentismo, de cabotino quando aponta soluções milagrosas para o país e o seu pequeno reino que passam pelas cedências do continente às suas políticas.
Quando não temos alternativa sobre um problema político, quando é necessário desviar a atenção de uma questão que nos vai estourar nas mãos, nada melhor do que acirrar uma resposta vinda do meio do Atlântico que o velho líder responde (o que o diferencia afinal de Hugo Chavez? Ainda não gravou um CD.)
Ultimamente não tem sido necessário provocar o ilhéu infame porque os casos de polícia têm contribuído para tornar cidades provincianas em Chicago dos anos 30, empolando o real de forma a criar uma condição solidária com a polícia e os tribunais.
Mas quando é necessário por o vulcão em funcionamento para tapar o sol com a peneira, é só dar a ignição.


19. A propaganda não pode afectar directamente tendências contrárias fortes demais; ao invés de tentar fazê-lo, ela deve oferecer alguma forma de acção ou diversão (podendo combinar estas duas tácticas).

Vamos ter remodelações ministerias no último ano de mandato?

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