Sou do romântico tempo em que as castanhas eram embrulhadas em papel de jornal e ninguém morria por causa disso.
Alguns vendedores também o faziam com as Paginas Amarelas, mas as castanhas não eram tão saborosas, para além de queimar as mãos.
Com o papel do jornal não! As propriedades de conservação do calor do papel do jornal permitiam que se segurasse o cartucho de uma forma mais firme sem acusar o calor das “quentes e boas”.
O jornal destes tempos tinha uma folha firme mas moldável. Os cones que o vendedor criava eram uma obra de artesanato. Não se desfaziam facilmente. Podiam ser seguros pelo topo ou pela base, amarfanhados para caber num bolso sem desfazerem a sua estrutura. Mesmo quando os deitávamos fora, mantinham aquela integridade e sentido de utilidade inquestionável.
Tão bom era o jornal que embrulhava peixe, as compras da mercearia (onde cada embrulho parecia uma prenda de Natal, tão perfeitamente geométrica era a técnica!).
Infelizmente chegaram os tempos em que o papel de jornal não é higiénico ou útil. Foi banido de todo o lado, substituído por cartuchos standard, sacos plásticos (este horror civilizacional!) e umas quantas anticépticas embalagens para cada marca de produto pela qual pagamos.
É o preço dos tempos. O jornal perdeu a sua função de embalagem.
Perdeu também as suas outras funções.
No caso das escutas (ou não escutas), para além da ferida institucional grave que não sei como poderá ser sarada, o que fica mesmo mal é a imprensa.
Descobriu-se o que há muito se sabia de uma forma vulgar, evidente e inquestionável: o frete político e o arrivismo da informação. Mas as descobertas não param por aqui. Não há imprensa livre, há imprensa subordinada; os grupos económicos que sustentam os jornais podem não influenciar directamente o exercício da liberdade de imprensa, mas estão lá, acenando as notas e dando aqui e ali um recado distante; o jornalismo de investigação constrói-se na troca de favores directos ou indirectos, cobrados em devido tempo; que mesmo a noticia mais inocente tem uma outra cartilha que não o prontuário.
Não foi o Publico que perdeu credibilidade. É toda a imprensa que deve ser vista com desconfiança. Os actos desta história demonstram-no. O Público fabricou e escondeu, o Correio da Manhã apressou-se a divulgar (para o bem e para o mal ainda bem que o fez!). Os jornais que o souberam e não publicaram demonstraram o mais escabroso sentido corporativo e de gestão dos factos de uma forma que nem é bom comentar.
Cansa muito ao cidadão ter de ler o jornal e as suas entrelinhas. Não é para isso que os compramos e lemos.
Para doutrinação basta o quotidiano!
Por uma vez que seja, os cidadãos gostavam de ter noticias, factos e informação. Só. O cidadão gostaria de voltar a descobrir a utilidade do jornal, da que também servia para embrulhar as castanhas.
Alguns vendedores também o faziam com as Paginas Amarelas, mas as castanhas não eram tão saborosas, para além de queimar as mãos.
Com o papel do jornal não! As propriedades de conservação do calor do papel do jornal permitiam que se segurasse o cartucho de uma forma mais firme sem acusar o calor das “quentes e boas”.
O jornal destes tempos tinha uma folha firme mas moldável. Os cones que o vendedor criava eram uma obra de artesanato. Não se desfaziam facilmente. Podiam ser seguros pelo topo ou pela base, amarfanhados para caber num bolso sem desfazerem a sua estrutura. Mesmo quando os deitávamos fora, mantinham aquela integridade e sentido de utilidade inquestionável.
Tão bom era o jornal que embrulhava peixe, as compras da mercearia (onde cada embrulho parecia uma prenda de Natal, tão perfeitamente geométrica era a técnica!).
Infelizmente chegaram os tempos em que o papel de jornal não é higiénico ou útil. Foi banido de todo o lado, substituído por cartuchos standard, sacos plásticos (este horror civilizacional!) e umas quantas anticépticas embalagens para cada marca de produto pela qual pagamos.
É o preço dos tempos. O jornal perdeu a sua função de embalagem.
Perdeu também as suas outras funções.
No caso das escutas (ou não escutas), para além da ferida institucional grave que não sei como poderá ser sarada, o que fica mesmo mal é a imprensa.
Descobriu-se o que há muito se sabia de uma forma vulgar, evidente e inquestionável: o frete político e o arrivismo da informação. Mas as descobertas não param por aqui. Não há imprensa livre, há imprensa subordinada; os grupos económicos que sustentam os jornais podem não influenciar directamente o exercício da liberdade de imprensa, mas estão lá, acenando as notas e dando aqui e ali um recado distante; o jornalismo de investigação constrói-se na troca de favores directos ou indirectos, cobrados em devido tempo; que mesmo a noticia mais inocente tem uma outra cartilha que não o prontuário.
Não foi o Publico que perdeu credibilidade. É toda a imprensa que deve ser vista com desconfiança. Os actos desta história demonstram-no. O Público fabricou e escondeu, o Correio da Manhã apressou-se a divulgar (para o bem e para o mal ainda bem que o fez!). Os jornais que o souberam e não publicaram demonstraram o mais escabroso sentido corporativo e de gestão dos factos de uma forma que nem é bom comentar.
Cansa muito ao cidadão ter de ler o jornal e as suas entrelinhas. Não é para isso que os compramos e lemos.
Para doutrinação basta o quotidiano!
Por uma vez que seja, os cidadãos gostavam de ter noticias, factos e informação. Só. O cidadão gostaria de voltar a descobrir a utilidade do jornal, da que também servia para embrulhar as castanhas.
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